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quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

APOSTILA 12 - INTRODUÇÃO AOS LIVROS HISTÓRICOS

INTRODUÇÃO AOS LIVROS HISTÓRICOS


1.    Títulos
. "Primeiros Profetas" Os hebreus denominavam seis livros como os "Primeiros profetas" (Josué, Juízes, 1 e 2 Samuel, 1 e 2 Reis), considerando-os, porém, como quatro. Eles contrastam com os "Últimos Profetas" (Isaías, Jeremias, Ezequiel e Os doze profetas menores), também considerados como quatro livros. Os termos "Primeiros" e "Últimos" não se referem necessariamente à sua cronologia histórica, mas ao primeiro e segundo grupo de livros. Os Primeiros fornecem o cenário histórico aos Últimos. A designação desses livros históricos como "Profetas” enfatizam o fato de que apresentam uma história religiosa ou com um objetivo religioso. Os Primeiros Profetas são históricos; os Últimos, exortativos.
. "Livros Históricos" A denominação de "Históricos" classifica em geral os doze livros de Josué a Ester, embora o Pentateuco também faça parte dos livros históricos. Os livros de Josué a Ester diferem dos livros de Moisés, os quais também são históricos quanto à ênfase fundamental. O Pentateuco traça a história redentora desde a criação até a morte de Moisés, mas dá destaque à aliança e aos alicerces legislativos de Israel. Os livros históricos, por outro lado, dramatizam o movimento histórico da nação durante toda a sua história na Palestina. Embora contenham temas religiosos e interlúdios exortativos (vários ciclos de juízes e profetas), a investida maior é no desenvolvimento histórico de Israel.


2.    Autoria
. Todos os doze livros históricos são anônimos – sem nome do autor - (em contraste com os Últimos Profetas, todos identificados). Foram visivelmente escritos ou compilados por vários indivíduos que possuíam o dom profético, reconhecidos como representantes de Deus. Quatro deles são geralmente considerados os autores principais: Josué, Samuel, Jeremias e Esdras (este último com o auxilio editorial do sumo sacerdote Eleazar), além de Natã e Gade, profetas. É evidente que Jeremias foi auxiliado na compilação de Reis pelo seu secretário, Baruque. Na maioria dos casos, foram aproveitados nesses livros vários documentos e crônicas, usados sob a orientação do Espírito Santo pelos autores ou compiladores.

3.    Movimento histórico
. Estes livros registram a história de Israel, desde a ocupação da Palestina sob a liderança de Josué, passando pelas apostasias que levaram o povo a ser expulso pelos assírios e babilônios, até a restauração parcial pelos persas. O período cobre aproximadamente 1000 anos, de 1405 até 425 a.C. Estes livros dão a estrutura histórica ao restante do Antigo Testamento até a época de Neemias e Malaquias. Vão de Moisés, o legislador, até Esdras, mestre da lei.

4.    Cenário geográfico e político da Palestina
. CENÁRIO GEOGRÁFICO: O nome "Palestina"[1] não era usado nos tempos bíblicos; derivou-se mais tarde do termo "filisteu", que identificam os povos (filisteus) chamados de "Palaistinos" pelos gregos, e de "Palestinos" pelos romanos. O nome bíblico para a área era "Canaã[2]", a terra onde Canaã, filho de Cão, se estabeleceu, e que tinha sido prometida pelo Senhor a Abraão (Gn 9:25; 10:6; 12:5-7). A terra de Canaã (com maldição) seria dada a Abraão (com bênção). Embora Canaã designasse originalmente a terra a oeste do Jordão, Palestina passou a designar, mais tarde, a terra de ambas as margens do Jordão[3].
A terra da Palestina estende-se do elevado monte Hermon[4], ao norte, até o sul da região deserta do mar Morto[5]. Seu comprimento é de 240 Km, de Dã a Berseba, e sua largura média é de 110 Km, da costa do Mediterrâneo[6] ao planalto oriental.
A principal caraterística geográfica da Palestina talvez seja a ponte que ela forma entre três continentes, e o fato de ter-se constituído historicamente a ligação entre o Egito e a Mesopotâmia. Assim, sendo o centro das civilizações do mundo e o "centro da terra", a Palestina estava destinada a ser palco de grandes acontecimentos históricos. O Senhor a escolheu como a terra da sua aliança com o seu povo.
. CENÁRIO POLÍTICO: Ocupando posição estratégica, a Palestina era com freqüência alvo altamente cobiçado pelos conquistadores do mundo. Antes da primeira ocupação por Israel, tinha sido tomada pelos reis da Mesopotâmia a leste, pelos hititas a noroeste e pelos Faraós a sudoeste. Durante a ocupação israelita, Israel foi muitas vezes importunado ou atacado, não só por aqueles povos, mas também por uma variedade de pequenos reinos locais. Estes vizinhos saqueadores faziam com que o povo de Israel vivesse constantemente na defensiva.
O ponto de vista bíblico desses problemas políticos e militares, entretanto, é sempre apresentado da perspectiva divina ou profética. Aquelas nações e impérios vizinhos serviam inconscientemente aos objetivos divinos para o povo de Israel. Quando este obedecia ao Senhor, as outras nações se enfraqueciam ou eram controladas. Quando Israel apostatava, o Senhor levantava um poder estrangeiro a fim de punir, exilar ou enviar os judeus de volta à sua terra. Assim, aconteceu, por exemplo, quando Josué invadiu Canaã.

AS TRÊS DIVISÕES DOS LIVROS HISTÓRICOS

1 – Anterior ao Reinado (1405-1075 a.C.)
  • Josué – A terra prometida ocupada pela fé e coragem – julgamento das nações cananitas;
  • Juízes – Demonstração de bênçãos pela obediência e castigo pela apostasia, conforme a promessa;
  • Rute – A verdadeira fé atrai uma mulher da vizinha Moabe. Deus se mostra favorável a todos que o buscam.

2 – Ascensão e Queda do Reino (1070-586 a.C.)
  • 1 e 2 Samuel – O estabelecimento de um rei piedoso, que governe o reino para Deus;
  • 1 e 2 Reis – O reino de Israel desafiado pela idolatria de Canaã – O reino de Israel perde a batalha contra a idolatria – Deus se mostra soberano ao castigar Israel;
  • 1 e 2 Crônicas – Traçada a linha davídica dos reis – construção e queda do templo de Salomão.

3 – Solicitude Para Com os Remanescentes no Tempo dos Gentios (537-432 a.C.)
  • Esdras – A volta do exílio para reconstruir o templo e restabelecer a devida adoração à Deus;
  • Neemias – A volta do exílio para reconstruir os muros de Jerusalém e estabelecer um governo limitado pelos persas
  • Ester – O desvelo (carinho) divino para com o seu povo embora longe da terra da aliança.

 





INTRODUÇÃO AO LIVRO DE JOSUÉ


1.    Título
. O nome "Josué", que se deve à principal figura do livro, significa "salvação do Senhor". Os gregos traduziram-no para "Iesous" ou "Jesus" como está na Vulgata Latina.

2.    Autor
. O livro é anônimo e a sua autoria tem sido debatida com veemência, principalmente por aqueles que aplicam a teoria documentária ao Pentateuco. A maior parte dele pode ter sido escrita pelo próprio Josué, que conhecia os fatos em primeira mão e era também um escritor (Js 24:26). Obviamente, um colaborador acrescentou mais tarde os últimos cinco versículos sobre a morte de Josué e de Eleazar. Esse colaborador por ter sido Finéias ou um dos anciãos.
. O fato de esse livro ser o primeiro dos "Primeiros profetas" sugere, como seu autor, alguém com dom ou cargo profético. Isto é claro, indica Josué como o mais provável autor.
. O conteúdo do livro, que se limita à liderança de Josué, reforça a opinião de que tenha sido escrito pelo sucessor de Moisés e no seu próprio tempo, mais do que qualquer outra pessoa em época posterior, que poderia ter continuado a história de fé até a época de Otniel, em Juízes.
. Josué talvez tenha sido o descendente mais ilustre de José. Era da tribo especialmente abençoada por Jacó (Gn 48:19). Do mesmo modo que José foi o "salvador" dos seus irmãos no Egito, Josué conduziu o povo para o livramento e descanso em Canaã.

3.    Data – 1405-1375 a.C.
. Admitindo que Josué tivesse a mesma idade de Calebe (tinha este quarenta anos quando espiaram Canaã, Js 14:7), é plausível que Josué tenha começado a comandar a Israel com a idade de setenta anos. Visto ter morrido com 110, a sua liderança durou trinta e um anos (Js 24:29). Sabemos também que a conquista inicial durou sete anos (Js 14:7, 10).
. A data pode ser calculada como sendo de 1405 a 1375 (adicionando-se aos 480 anos de 1 Rs 6:1 ao ano de 965, começo da construção do templo, e subtraindo-se os 40 anos de peregrinação). As escavações arqueológicas de John Garstang determinaram que a queda de Jericó ocorreu por volta de 1400 a.C.

4.    Estado em que se achava a Nação
. A liderança da nação tinha sido transferida a Josué por ocasião da morte de Moisés trinta dias antes, 1 de Março de 1405 a.C. A travessia do Jordão teve lugar um pouco antes da Páscoa, época em que o Jordão inundou as margens.
. Toda a população (cerca de dois milhões e meio) estava decidida a invadir Canaã depois da bem-sucedida conquista da Transjordânia. Apesar de duas tribos e meia terem negociado com Moisés a permanência na Transjordânia, elas mandaram 40.000 homens para participar da conquista de Canaã.

5.    Condição de Canaã
. Geograficamente, a terra de "Canaã" compunha-se de toda a faixa ocidental desde Sidom, ao norte, até Gaza e Sodoma, no sul (Gn 10:19). O nome "Canaã" denominava, em geral, toda a área em que se estabeleceram os filhos de Canaã. Foi, mais tarde chamada de "Palestina" pelos romanos, os nativos eram chamados de "Filisteus".
. Politicamente, Canaã tinha sido dominada desde 1468 a.C. pelo Egito, que estabeleceu postos militares e cidades reais por toda a terra, bem como príncipes nativos, educados no Egito, para governar como monarcas títeres. Em 1400, entretanto, o poder estrangeiro egípcio se deteriorou, tornando a terra propícia à invasão. Mas as cidades de Canaã estavam bem fortificadas.
. Religiosa e moralmente, a terra vivia infestada de idolatria, completamente degradada:
a)    El era o deus supremo. Poemas ugaríticos descrevem-no como tirano cruel e sanguinário, de sensualidade incontrolável.
b)    Baal era filho de El e o seu sucessor. Dominava o grupo cananeu e era considerado o "Senhor do céu". Era o deus da chuva e da vegetação.
c)    Anate era irmã de Baal e uma das três deusas protetoras do sexo e da guerra. Concomitante com o culto da prostituição sagrada havia o morticínio infantil.
d)    Asterote (Astarte) e Aserá eram esposas de Baal e também deusas do sexo e da guerra.
e)    Moloque e Milcom, de origem amonita, eram deuses da orgia, do mesmo modo que Camos era a divindade nacional dos moabitas.
Esses deuses de violência e perversão sexual refletem a crueldade e a corrupção do povo, que fez deuses parecidos com ele (Sl 115:8).

6.    Objetivo do livro de Josué
. O objetivo do livro de Josué é preservar a história da conquista de Canaã e a divisão da terra entre as tribos. A história revela a fidelidade do Senhor como um Deus observador da aliança (Js 1:2-6). Demonstra também à posteridade de Israel a grande vitória que o povo pode alcançar se tão-somente seguir a liderança teocrática do Senhor, em vez de recorrer à força humana. O tema é risco e vitória da fé.

7.    Contribuições singulares de Josué
. CUMPRIMENTO DA PROMESSA DE DEUS A ABRAÃO – A invasão de Josué cumpriu o segundo aspecto da aliança do Senhor com Abraão: a entrega da terra de Canaã. A primeira promessa de uma "semente" levou vinte e cinco anos para ser cumprida; a segunda levou aproximadamente 700 anos. A promessa de um rei levaria mais 400 anos. E a vinda daquele em quem seriam benditas todas as nações, mas 1400. As últimas palavras do Senhor a Moisés enfatizaram a infalibilidade da sua Palavra no cumprimento da promessa de dar Canaã às tribos de Jacó (Dt 34:4).
. TRAVESSIA DO JORDÃO – Por que outra travessia miraculosa por entre as águas? Esta última, por certo, repetiu a passagem pelo mar Vermelho com o fim de impressionar a nova geração (que talvez não acreditasse nas notícias da travessia anterior). Outros objetivos diversos foram atingidos: 1) confirmou a liderança de Josué, estabelecida por Deus (Js 3:7); 2) foi uma confirmação do Senhor de que era Ele quem desalojava os cananeus e dava a terra a Israel (Js 3:10); 3) demonstrou com singularidade o poder da arca, que continha as tábuas da Lei de Deus, à medida que ela liderava a multidão para dentro das águas, que eram cortadas. Devemos lembrar que a "arca da aliança" simbolizava a presença de Deus, isto é, Deus se fazia presente através da "arca".

8.    Análise Moral da Conquista de Canaã por Josué
. O livro salienta uma questão ética crucial: como se justificaria que um povo escolhido por Deus se apossasse de Canaã, massacrando a população, tomando a sua terra e riquezas? Defrontamo-nos com esse problema moral em outros livros, como Números e 1 e 2 Samuel, onde Israel impõe armas contra os pagãos em vez de pregar a Palavra. Por que não foram enviados a Canaã como evangelistas em vez de carrascos? Diversas razões importantes devem ser observadas a partir do cenário histórico:
1)    Devido à degradante religião de Canaã – A religião de Canaã tinha-se tornado tremendamente abominável aos olhos de Deus e da própria moralidade.
2)    Devido à sua cultura corrompida – A adoração ao sexo demoníaco e aos ídolos de guerra refletiam uma sociedade permeada da mais grosseira imoralidade e violência. Escavações arqueológicas revelam que seus templos eram centros de vício com sacerdotes sodomitas e sacerdotisas prostitutas. Queimar crianças vivas nos altares tinha se tornado ritual comum.
3)    Devido às admoestações e paciência de Deus – O texto declara muitas vezes que o Senhor era o verdadeiro dono da terra de Canaã e podia dá-la ou negá-la a quem quisesse, por razões nem sempre evidentes aos homens. O Seu plano de cessão e período de experiência é observado diversas vezes muito antes de Moisés e Josué:
A)   Através de Noé, Deus profetizou julgamento para os cananeus pela sua obscenidade (Gn 9:22-27).
B)   Para Abraão e seus descendentes o Senhor prometeu a terra de Canaã (Gn 15:13-16).
C)   Justamente como aconteceu com os habitantes de Sodoma antes da sua destruição, o Senhor deu aos cananeus muitas oportunidades de arrependimento (Gn 18:25; Rm 1:18-22). Deus esperou 400 anos.
4)    Devido à comissão divina de Israel – Israel não foi designado para ser apenas uma organização religiosa, mas um governo civil com obrigações da aliança perante o Senhor. Como tal, sua primeira comissão era executar o julgamento de uma sociedade corrupta e violenta de acordo com a aliança Noéica (Gn 9:6).
5)    Devido às promessas da Aliança feitas por Deus – Conforme o Senhor declarou a Abraão e a Israel, a ocupação final da Palestina por Israel estender-se-á desde o Egito até o Eufrates (Gn 15:8; Dt 1:7-8; 30:5). Antes daquela futura ocupação final, entretanto, o Senhor novamente limpará a terra da vil idolatria e brutalidade introduzida por um sistema religioso inspirado por Satanás (Ap 14:16 e segs.).

9.    A estrutura
. Josué é um livro de movimentação impressionante, de guerra, conquista e dominação. Vemos Israel subindo, vencendo e se fixando. O relato é distribuído em três fases, a saber:
1)    A entrada na terra (1-5)
2)    O domínio da terra (6-12)
3)    A ocupação da terra (13-24)

10.  O pensamento principal
. Entrada, domínio, ocupação! – se forem esses os três movimentos registrados em Josué, então não pode haver dúvida quanto ao seu pensamento ou mensagem principal. Trata-se claramente da VITÓRIA DA FÉ. O livro de Josué contrasta nitidamente neste ponto com o de Números, onde vemos o fracasso da incredulidade (14:44, 45). Numa interpretação espiritual, os feitos de Israel sob a liderança de Josué proclamam a grande verdade do Novo Testamento: "... esta é a vitória que vence o mundo, a nossa fé" (1 Jo 5:4).

11. Os significados tipológicos
Toda a história do livro de Josué representa um grande tipo. Trata-se de uma figura do AT sobre uma grande realidade espiritual revelada no NT, como veremos em breve. Qual é então o principal significado tipológico de Josué? A resposta a essa pergunta depende da resposta sobre o que Canaã tipifica.
Em alguns de nossos hinos, o rio Jordão é considerado símbolo da morte (corpo), e a terra de Canaã, do céu. Mas esta é uma interpretação perigosa desses tipos, que podem levar a uma má interpretação da vida cristã e do céu. Se o Jordão é a morte e Canaã, o céu, segue-se então que toda a vida cristã, até a hora da morte, corresponde ao deserto em que os hebreus peregrinaram – um quadro bem pouco invejável – e poderíamos sentir uma certa simpatia pela idéia de que uma conversão no leito da morte é preferível, a fim de diminuir ao máximo o andar errante no deserto?
Além disso, Canaã não pode ser realmente um tipo do céu por outras duas ou três razões. Canaã foi conquistada através de conflito. Houve poucas lutas durante os anos da peregrinação, mas no momento da entrada em Canaã, Israel precisou puxar a espada. Os inimigos tinham de ser destruídos. Israel no podia fugir da luta. Como Canaã pode tipificar então o descanso tranqüilo da herança no céu?
Israel também podia ser expulso de Canaã por inimigos poderosos, o que finalmente aconteceu, como sabemos. Como isso pode ser um tipo do céu de felicidade ininterrupta prometido aos justificados em Cristo?
A fim de resolver de uma vez a questão, somos expressamente ensinados, em Hb 3 e 4, acerca do sentido tipológico verdadeiro de Canaã. Esses dois capítulos devem ser lidos cuidadosamente e eles irão fixar permanentemente este tipo de Canaã em nosso consciente. Eles tornam claro que Canaã representa a posição e possessão atual do crente em cristo. Foi designada para prefigurar a guarda espiritual do sábado de descanso em que podemos entrar aqui e agora. Alguns versículos desses capítulos de Hebreus serão suficientes para certificar isto: "Ora, se Josué lhes houvesse dado descanso, (Deus) não falaria posteriormente a respeito de outro dia (de descanso). Portanto resta um repouso para o povo de Deus. Porque aquele que entrou no descanso de Deus, também ele mesmo descansou de suas obras, como Deus das suas. Esforcemo-nos, pois, por entrar naquele descanso" (Hb 4:8-11). O mesmo capítulo nos diz que "nós, porém, que cremos, entramos no descanso" (v.3).
O Jordão não tipifica a morte do corpo e a partida para o além, mas aquela união mais profunda de nossos corações com Cristo na Sua morte, onde somos completamente separados para Ele e introduzidos "na plenitude de benção do evangelho de Cristo".
Canaã é aquela "largura, comprimento, altura e profundidade" da vida espiritual em que realmente "possuímos nossos bens" em Cristo. A tragédia é que a maioria dos cristãos vive muito abaixo dos seus privilégios e direitos de redenção em Cristo. Deus abriu para nós em Cristo uma experiência de santificação comparável a uma Canaã fértil, fragrante, produtiva, banhada de sol – uma "terra de trigo e cevada, de vides", uma terra "que mana leite e mel". 

Características de Canaã – Esta é, então, a experiência que Canaã e o livro de Josué indicam de modo tipológico. Torna-se assim da maior importância analisar o que nos é dito sobre Canaã, e verificarmos três coisas que se destacam como características.
1º) Canaã era o DESCANSO prometido a Israel. O perambular seria substituído pela moradia fixa. Em lugar do deserto inóspito, haveria um lar em que poderiam sentar-se, "cada um debaixo da sua videira, e debaixo da sua figueira" (1 Rs 4:25). As mãos cansadas e os pés feridos encontrariam um contraste refrescante nas colheitas fartas das planícies e vales férteis de Canaã. O descanso prometido fora cuidadosamente preparado para a sua chegada. Não precisariam sequer construir cidades e casas para viverem, pois iriam possuir "grandes e boas cidades, que tu não edificastes; e casas cheias de tudo que é bom, casas que não encheste; e poços abertos, que não abriste; vinhas e olivais, que não plantaste" (Dt 6:10, 11).
2º) Canaã era o lugar de FARTURA. Uma terra que "mana leite e mel", "uma terra boa e ampla" (Êx 3:8), uma "terra de grão e de vinho" beijada pelo orvalho dos céus (Dt 33:28), terra de oliveiras e vinhas, pinheiros e cedros, de ricos frutos e colheitas onde um povo obediente "se fartaria", um lugar sobre o qual Deus dissera: "Porque a terra..." (Dt 11:10-12).
3º) Canaã era o lugar do TRIUNFO. Havia inimigos em Canaã? Certamente, mas já estavam derrotados antes de Israel desferir o primeiro golpe, pois Deus havia dito que lançaria "fora muitas nações de diante de ti, os heteus, e os jebuseus, sete nações mais numerosas e mais poderosas do que tu" (Dt 7:1). Israel deveria se lembrar do que o Senhor fizera "ao Faraó e a todo Egito" e não temer. Deus não estava chamando Israel simplesmente para lutar, mas sim para uma vitória certa. Canaã seria com certeza um lugar de triunfo, caso os israelitas fossem fiéis.
O Espírito de Deus está nos ilustrando em tudo isso aquela vida nos "lugares celestiais" (Ef 1:3) que é nosso privilégio presente em Cristo; nossa concepção da verdade do NT é assim avivada pelo tipo do AT.
DESCANSO, FARTURA, TRIUNFO! – está é a nossa rica herança em Cristo. Ela pode ser também nossa experiência real.
A santidade não é obtida mediante esforço próprio, mas ela pode ser alcançada em Cristo. A consagração e a apropriação são as dobradiças que sustentam a porta de Canaã. Se realmente nos entregarmos e firmarmos nossos pés nas promessas, a terra de delícias será nossa. Deus não falhará. Vamos subir e possuí-la! "Fiel é o que vos chama, o qual também o fará" (1 Ts 5:24).

12. Josué e Efésios

O livro de Josué, como indicamos, tipifica aquela vida cristã mais plena em que realmente nos apropriamos de nossas possessões em Cristo, entramos no descanso do coração e experimentamos uma plenitude de "alegria e paz em nossa fé". A frase de Efésios, "regiões celestiais" (Ef 1:3), ou, mais literalmente, "os céus", indica a esfera desta vida superior e mais plena. Ela expressa uma comunhão de vida, mente e vontade com o Cristo ressurreto, uma união com Ele em natureza, relacionamento e propósitos, assim como na morte para o pecado, para a carne e para o mundo, uma união com Ele em serviço, sofrimento e desejo, em Sua ressurreição e ascensão, elevando o crente a um nível onde existe plenitude de luz, amor, poder e compreensão espiritual desconhecidos para outros. Esta é a vida num plano superior, o verdadeiro lugar da vida presente do cristão em Cristo. Raras vezes a pessoa entra nela imediatamente após a conversão. Infelizmente, parece que muitos crentes jamais o farão! Todavia, esta é realmente uma provisão de Deus; é a nossa herança em Cristo Jesus, e os recém-convertidos devem ser ensinados a desejá-la o mais breve possível.
No livro de Josué, vemos Israel entrando e possuindo a herança terrena concedida mediante Abraão. Em Efésios, vemos a igreja entrando e possuindo a herança celestial concedida em Cristo.
A correspondência, no entanto, não é apenas geral. Existe um paralelo em cinco partes, marcado pelas cinco ocorrências da expressão "lugares (ou regiões) celestiais", em Efésios, a saber: Efésios 1:3; 1:20; 2:6; 3:10; 6:12. Trace então brevemente o paralelo entre a terra de Canaã em Josué e os "lugares celestiais" em Efésios.

1)    Ambos eram a herança predestinada de um povo escolhido.
Muito tempo antes, 500 anos antes de Josué fazer o povo atravessar o Jordão, Deus dissera a Abraão: "Ergue os olhos e olha desde onde estás para o norte, para o sul, para o oriente e para o ocidente; porque toda essa terra que vês, eu te darei, a ti e à tua descendência, para sempre" (Gn 13:14, 15). Depois de finalmente ter tirado Israel do Egito, Ele disse: "Quando o Senhor te houver introduzido na terra... a qual jurou a teus pais te dar" (Êx 13:5).
Do mesmo modo, examinando a primeira ocorrência da frase "lugares celestiais" em Efésios, descobrimos que nela se encontra a herança predestinada da igreja, "em Cristo".
"Bendito o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, que nos tem abençoado com toda sorte de bênção espiritual nas regiões celestiais em Cristo, assim como nos escolheu nele antes da fundação do mundo, para sermos santos e irrepreensíveis perante ele" (Ef 1:3, 4).
Israel foi abençoado com todas as bênçãos materiais nos lugares terrenos em Abraão. A Igreja é abençoada "com toda sorte de bênção espiritual nas regiões celestiais em Cristo". Note igualmente que, para gozar desta plenitude de bênçãos materiais, Israel deve estar na terra prometida. Do mesmo modo, para o cristão tirar proveito da plenitude das bênçãos espirituais em Cristo, deve estar nas regiões celestiais. A razão de não as termos é que não nos achamos no lugar em que Deus as concede (Gl 5:25; Cl 3:1-3; Ef 2:6).

2)    Ambos começaram com um líder designado por Deus.
No caso de Israel, tudo foi colocado nas mãos de Josué. Ele recebeu esta ordem: "... tu farás a este povo herdar a terra que, sob juramento, prometi dar a seus pais" (Js 1:6) e "tu os farás herdá-la" (Dt 31:7). Josué era, portanto, o administrador nomeado para a colônia israelita em Canaã, e ficamos sabendo que, no final dos sete anos de guerra, "tomou Josué toda esta terra... e a deu em herança aos filhos de Israel, conforme as suas divisões e tribos" (Js 11:23).
"... para saberdes... qual a suprema grandeza do seu poder para com os que cremos, segundo a eficácia da força do seu poder; o qual exerceu ele em Cristo, ressuscitando-o dentre os mortos, e fazendo-o sentar à sua direita nos LUGARES CELESTIAIS... e, para ser o CABEÇA sobre todas as coisas, o deu à IGREJA" (Ef 1:18-22).
O Salvador ressurreto é quem divide a herança e a distribui ao Seu povo enquanto este se firma nas promessas, mediante a fé (Ef 4:10, 11).

3)    Ambos eram dons da graça a serem recebidos pela fé.
Canaã foi dada a Israel em Abraão e não em Moisés, o legislador. Israel jamais teria recebido Canaã através da lei. Moisés não teve sequer o privilégio de introduzir o povo na terra. A lei também jamais poderá nos levar ao descanso prometido por Deus, para que nossas repousem em Cristo (Rm 4:1-13; Gl 3:6-19).
O mesmo acontece com a Canaã espiritual que é nossa em Cristo, como mostra a terceira ocorrência da expressão "lugares celestiais", em Efésios.
"... e estando nós mortos em nossos delitos, (Deus) nos deu vida juntamente com Cristo, - pela GRAÇA sois salvos; e juntamente com ele nos ressuscitou e nos assentar nos LUGARES CELESTIAIS em Cristo Jesus; para mostrar nos séculos vindouros a suprema riqueza da Sua GRAÇA, em bondade para conosco, em Cristo Jesus. Porque pela GRAÇA sois salvos, mediante a fé; e isto não vem de vós, é dom de Deus" (Ef 2:5-8).   
Não iremos entrar nessa terra de bênçãos por meio de votos, resoluções, alianças de consagração assinadas com sangue novo extraído das veias (tal pratica demonstra falta de fé no sacrifício de Cristo, e anula a obra vicária de Cristo); nem mediante ritos externos ou abstinência ascética de coisas boas e saudáveis (tais praticas demonstram falta de fé no sacrifício de Cristo, e anula a obra vicária de Cristo); também não adianta dias de jejum e noites de oração; nem sequer a obediência à voz da consciência ou uma percepção interior, embora seja de máxima importância dar atenção a isso. Nada disso nos fará entrar na terra de bem-aventuranças. Todas essas coisas se tornam formas de legalismo quando praticadas com o propósito de obter o completo descanso e a vitória da experiência cristã. Nas palavras de Efésios 2:8, e preciso que seja pela "graça, mediante a fé".

4)    Ambos são cenários de uma revelação divina surpreendente.
O fato de Israel entrar e possuir Canaã tinha o intuito de ser uma revelação do Deus verdadeiro para as nações da época: "Para que todos os povos da terra conheçam que a mão do Senhor é forte: a fim de que temais ao Senhor vosso Deus todos os dias" (Js 4:24).
"Vós me sereis reino de sacerdotes e nação santa. São estas as palavras que falarás aos filhos de Israel".(Êx 19:6).
No mesmo plano encontramos a quarta referência em Efésios aos "lugares celestiais", nos contando que a Igreja é uma belíssima revelação de Deus aos poderes do reino dos espíritos.
"A mim, o menor de todos os santos, me foi dada esta graça de pregar aos gentios o evangelho das insondáveis riquezas de Cristo, e manifestar qual seja a dispensação do mistério, desde os séculos oculto em Deus, que criou todas as coisas, para que, PELA IGREJA, A MULTIFORME SABEDORIA DE DEUS SE TORNE CONHECIDA AGORA DOS PRINCIPADOS E POTESTADES NOS LUGARES CELESTIAIS" (Ef 3:8-10).

5)    Ambos são descritos como cenário de conflito.
Na Canaã terrena havia os gigantes filhos de Anaque e cidades "muradas até os céus". Os heteus, girgaseus, amorreus, cananeus, ferezeus, heveus e jebuseus protegiam a terra com fortalezas e carros de ferro – sete nações maiores e mais poderosas do que Israel. Eram nações extremamente perversas que tinham de ser conquistadas e destruídas.
O mesmo acontece com a nossa Canaã espiritual nos "lugares Celestiais". Voltamos a Efésios e encontramos estas palavras na última ocorrência da frase "nos lugares celestiais":
"... a nossa luta não é contra o sangue e a carne, e, sim, contra os principados e potestades, contra os dominadores deste mundo tenebroso, contra as forças espirituais do mal, NAS REGIÕES CELESTES" (Ef 6:12).

            Estes são, portanto os cinco pontos do paralelo entre a herança terrena concedida por meio de Josué e a herança espiritual concedida aos crentes em Cristo.

13. As partes
Vamos agora examinar brevemente as três partes principais do livro.
Israel entrando (1-5) – Israel vencendo (6-12) – Israel ocupando (13-14)

Parte 1
Os cinco capítulos da parte um têm uma seqüência ordenada, como segue:
Capítulo 1 – A transferência da responsabilidade a Josué;
Capítulo 2 – A espionagem em Jericó;
Capítulo 3 – A travessia do Jordão;
Capítulo 4 – A edificação de memórias;
Capítulo 5 – A ocupação de Gilgal.
Se tivermos em mente que o principal conceito em Josué é a vitória da fé, iremos perceber rapidamente como esses capítulos são eloqüentes.

Capítulo 1 – A transferência da responsabilidade a Josué – (a garantia da fé)
A ênfase deste capitulo está no fato de Josué ter assumido a liderança com ordens do próprio Deus. Ela se baseava na palavra de Deus (Js 1:9). A subida a Canaã também se apoiava numa autorização divina perfeitamente definida (vv. 2-5). Este é sempre o começo das coisas no que se refere à fé – Deus falou. A verdadeira fé está, portanto, bem afastada da simples crendice. Ela se recusa a agir com base na mera razão humana: mas, uma vez certa de que Deus falou, nada mais pede, pois não pode haver autoridade mais alta que esta, nem razão superior para obedecer. Aqui, no capítulo 1, vemos então a garantia da fé, a saber, a palavra de Deus. A fé verdadeira sempre atua sob o principio contido em Hebreus 13:5-6 – "Ele tem dito... Assim, afirmemos (nós)".

Capítulo 2 – A espionagem em Jericó – (a prudência da fé)
Tendo recebido tal segurança divina de invencibilidade (como em 1:5, 6), Josué poderia ter facilmente achado desnecessário usar de precaução ou recorrer à estratégia militar. Mas este segundo capítulo nos mostra que a reação da fé verdadeira é o oposto de tal despreocupação (devemos descansar em Deus, isto é, confiar em Deus, mas isto não significa que não devemos fazer aquilo que nos cabe). Josué enviou dois espias a Jericó; e havia boas razões para isso, como veremos mais tarde, pois Jericó era uma das principais cidades. A fé verdadeira não despreza o uso de meios. Existe uma grande diferença entre crer e supor. Fazer das promessas de Deus uma desculpa para não tomar as precauções necessárias é tentar a Deus, como o próprio Senhor Jesus nos ensinou. Quando o enganador insistiu com o Mestre que se atirasse da torre do templo, porque Deus prometera proteção sobrenatural, o Senhor respondeu: "Também está escrito: Não tentarás o Senhor teu Deus" (Mt 4:7). Neste segundo capítulo de Josué temos a prudência da fé.

Capítulo 3 – A travessia do Jordão – (A crise da fé)
A travessia deste "Jordão" foi uma grande crise de fé. O mesmo tipo de crise sobreviera à geração anterior, cerca de 40 anos e sob circunstâncias um tanto diferente. Os israelitas falharam em sua reação a ela. O mesmo deveria repetir-se na nova geração. Ser tirado do Egito era uma coisa, mas "atravessar o Jordão" era algo muito diverso, comprometedor. Não havia possibilidade de recuo, eles teriam que lutar contra os poderes de Canaã em suas fortalezas aparentemente inexpugnáveis, com seus carros de ferro e seus grandes exércitos entre os quais lutavam famosos gigantes. Agir desse modo era aceitar um curso de ação condenado por dez dentre os doze espias que haviam descrito a terra 40 antes! Aos olhos humanos seria arriscar tudo na batalha, sem poder recuar, correndo o risco de perder tudo.
A mesma crise chega para todos os remidos, de uma ou outra maneira – essa intensa crise na alma em que somos obrigados a fazer a escolha suprema: entregar-nos inteiramente à vontade de Deus, para que Ele seja daí por diante o primeiro em nossa vida, ou seguir pelo caminho pelo caminho aparentemente mais fácil, continuar na vida cristã, mas com reservas em nosso amor para com Deus. Aceitar Cristo como Salvador da culpa de nosso pecado significa uma coisa, mas torná-lo Senhor absoluto de nossa vontade e nossa vida é outra bem diferente. Uma coisa é sermos tirados do Egito de nossa existência não-regenerada e nos juntarmos ao Israel remido, mas sepultar todos os alvos e desejos pessoais nas águas velozes e transbordantes do Jordão, passando para aquela vida superior em que não são toleradas outros desejos ou propósitos além daqueles de nosso bendito Senhor, representa algo bem diferente. Uma coisa foi Abrão deixar a cidade de Ur dos caldeus e seguir, pela fé, a orientação de Deus. Outra coisa – muito maior, mais custosa e sublime para ele – foi subir o Monte Moriá e levantar a faca para matar seu precioso Isaque. Abraão entregou o seu Isaque. Israel cruzou o Jordão. O que dizer de você e de mim?

Capítulo 4 – A edificação de memoriais – (O testemunho da fé)
Uma fé que em tudo obedece a Deus deixa muitos e belos exemplos de Ebenézer em seu rastro. As pedras memoriais do Jordão eram um testemunho da fé quanto ao poder e fidelidade de Deus. Havia dois montes ou pilhas de pedras – um na margem ocidental do rio, em Gilgal (v.3), e outro no próprio rio (v.9), consistindo cada um de doze grandes pedras, que representavam as doze tribos de Israel. O monte do lado do rio onde ficava Canaã testemunhava a fidelidade de Deus ao fazer Israel entrar finalmente na terra prometida a seus pais. O que ficava no rio dava testemunho do poder de Deus ao reter a corrente caudalosa e abrir caminho através de seu leito para a grande multidão. Neste quarto capítulo, temos o testemunho da fé.

Capítulo 5 – A ocupação de Gilgal – (A marca da fé)
Vemos aqui o selo e a purificação da fé. A circuncisão é renovada, como selo da aliança entre Deus e Israel. Os filhos de Israel deveriam levar em seus próprios corpos esta marca de sua separação. (Dt 10:16; 30:6; Cl 2:11-13). É esse "despojamento" da "carne", esse corte afiado dos desejos naturais, que acompanha a purificação divina da alma.
Os israelitas devem carregar a marca permanente de sua separação mais completa em Gilgal. O mesmo se dá conosco: essa crise da morte e sepultamento do "eu", da qual o Jordão é um tipo, deve ser perpetuada pela negação contínua da "carne" de que fala a circuncisão.

Parte 2
            Neste segundo grupo de capítulos, vemos a luta e a vitória da fé. Israel está agora no lugar de bênção e parte para "conquistar e vencer" na força do Capitão invisível.
Capítulo 6 – A queda de Jericó
Capítulo 7 – O pecado de Acã
Capítulo 8 – O saque de Ai
Capítulo 9 – A astúcia de Gibeom
Capítulo 10-12 – A expulsão de todos os inimigos

Capítulo 6 – A queda de Jericó
Este capítulo notável apresenta de maneira impressionante os princípios em que a fé opera, luta, aguarda e vence. O primeiro passo da fé é verificar qual à vontade e a palavra de Deus. O segundo é obedecer a essa vontade e palavra irrestritamente. O passo final é aceitar essa palavra e considerar o alvo como já tendo sido alcançado, dando antecipadamente glória a Deus – como os israelitas deram seu poderoso grito de vitória antes de os muros de Jericó caírem efetivamente. Os princípios de ação da fé contrariam, portanto, os da razão natural.



Capítulo 7 – O pecado de Acã
            Infelizmente houve um rápido lapso que, embora tivesse sido logo corrigido, implicou em perda. Não que a fé tivesse diminuído, mas uma transigência (tolerância) secreta incapacitou Israel temporariamente. Os homens de Israel viram as costas ao inimigo e trinta e seis deles caem. Nos sete anos de guerra esta foi à única perda. O motivo da derrota foi cuidadosamente exposto, a fim de que a lição possa ser aprendida com clareza. O fio da comunhão entre Deus e Israel fora cortado, "pois tomaram das coisas condenadas", e a corrente de poder deixou então de fluir. A primeira tendência de Israel foi culpar Deus, em vez de olhar para dentro. Mas logo o erro subiu à tona; foi feita a confissão e executada a sentença. Os despojos roubados por Acã tinham pouco valor material, mas o significado espiritual de sua atitude era profundo. Tratava-se de um grave comprometimento com coisas proibidas. Acã violou uma ordem direta de Deus e roubou o que pertencia ao Senhor (6.17-19). Dois erros gravíssimos que demonstravam que os bens materiais estavam acima de sua relação com Deus. O Senhor deve ter Se entristecido ao fazer com que Israel perdesse a batalha de Ai; todavia, era preciso que o povo aprendesse através do sofrimento que, tanto por sua própria causa como por causa do nome santo do Senhor, o pecado devia ser julgado e abolido. Qualquer derrota que venhamos a enfrentar na terra de bênçãos é devida inteiramente a alguma falha em nós mesmos.

Capítulo 8 – O saque de Ai
            Vemos neste capítulo a fé restaurada, partindo em triunfo renovado. O pecado confessado, julgado e abandonado restaura o elo da comunhão, e o poder divino começa a fluir de novo. O Capitão invisível do exército do Senhor diz agora a Josué: "Não temas, não te atemorizes; toma contigo toda a gente de guerra, e dispõe-te, sobe a Ai; olha que te entregarei nas tuas mãos o rei de Ai, e o seu povo, e a sua cidade, e a sua terra" (Js 8:1). O restante do capítulo fala por si mesmo. Trata-se de uma lição que ilustra a fé e a comunhão com Deus restaurada depois de uma auto-análise.

Capítulo 9 – A aliança com Gibeom
            Vemos aqui a astúcia de Satanás. Os gibeonitas, compreendendo que não podiam enfrentar um poder como o dos israelitas, recorreram a um embuste. Um grupo deles, vestido com roupas velhas como as de viajantes cansados vindos de uma terra mui distante, chegou ao arraial de Israel, dizendo: "Teus servos vieram duma terra mui distante, por causa do nome do Senhor teu Deus; porquanto ouvimos a sua fama, e tudo quanto fez no Egito... fazei, pois, agora aliança conosco".(9; 9-11). Tão bom era o disfarce, tão razoável a história, tão respeitosa a referência ao Senhor, tão penosa a situação deles, que Israel transbordou de compaixão. Acreditando não serem eles cananeus que estavam sob maldição, com quem não podiam fazer alianças, os israelitas fizeram um pacto com Gibeom. Três dias mais tarde foi descoberto o engano.
Note: o ponto mais importante deste incidente é que os israelitas "não pediram conselho ao Senhor" (v. 14). Não precisamos apenas do poder do Espírito contra os gigantes, mas também da sabedoria do Espírito contra as serpentes! Os estratagemas sutis de Satanás são mais perigosos do que seus ataques declarados. Ele representa um perigo maior como "anjo de luz" do que como "leão que ruge". A aliança com aqueles cananeus encerrava ameaças imprevisíveis.

Capítulos 10-12 – A expulsão de todos os inimigos
A estratégia militar de Josué torna-se clara aqui. Ao atacar primeiro Jericó e Ai, ele abrira uma brecha no centro de Canaã. Agora, no capítulo 10, ele se dirige para o sul e depois, no capítulo 11, vai para o norte. Temos assim a batalha central (6-9), a batalha ao sul (10) e a batalha ao norte (11); e o capítulo 12 completa o registro, dando um resumo de todos os reis e cidades que caíram diante da espada de Israel. 
            "Assim tomou Josué toda esta terra segundo tudo o que o Senhor tinha dito a Moisés; e Josué a deu em herança aos filhos de Israel, conforme as suas divisões, e tribo" (Js 11:23).

Parte 3
A ocupação da terra (13-24)
            Primeiro: não é preciso muita imaginação para ver que a divisão da terra entre as nove tribos e meia e os levitas não foi tarefa fácil, mas sim um trabalho complexo que exigiu orientação cuidadosa e tempo considerável.
            Segundo: eles dividiram a terra "lançando as sortes perante o Senhor" (Js 18:6) – um meio positivo por causa de sua imparcialidade, enquanto deixava ao mesmo tempo que o soberano Senhor colocasse as tribos nas regiões mais adequadas a elas. A mesma combinação de imparcialidade e soberania é vista na concessão dos dons espirituais pelo Espírito Santo na igreja de Cristo.

"Ora, a respeito dos dons espirituais, não quero, irmãos, que sejais ignorantes. Vós sabeis que, quando éreis gentios, vos desviáveis para os ídolos mudos, conforme éreis levados. Portanto vos quero fazer compreender que ninguém, falando pelo Espírito de Deus, diz: Jesus é anátema! E ninguém pode dizer: Jesus é o Senhor! Senão pelo Espírito Santo. Ora, há diversidade de dons, mas o Espírito é o mesmo. E há diversidade de ministérios, mas o Senhor é o mesmo. E há diversidade de operações, mas é o mesmo Deus que opera tudo em todos. A cada um, porém, é dada a manifestação do Espírito para o proveito comum. Porque a um, pelo Espírito, é dada a palavra da sabedoria; a outro, pelo mesmo Espírito, a palavra da ciência; a outro, pelo mesmo Espírito, a fé; a outro, pelo mesmo Espírito, os dons de curar; a outro a operação de milagres; a outro a profecia; a outro o dom de discernir espíritos; a outro a variedade de línguas; e a outro a interpretação de línguas. Mas um só e o mesmo Espírito opera todas estas coisas, distribuindo particularmente a cada um como quer" (1 Co 12:4-11).

Terceiro: devemos assinalar bem o principio que regeu a ocupação da terra por Israel, porque o mesmo principio opera quando nos apropriamos da herança em Cristo. Ele é percebido quando juntamos dois versículos aparentemente contraditórios. Lemos em 11:23 "Assim tomou Josué toda esta terra segundo tudo o que o Senhor tinha dito a Moisés". Todavia em Js 13:1 Deus diz: "... ainda muitíssima terra ficou para se possuir". Essas duas declarações não são realmente contraditórias, mas complementares.
"Toda a terra" foi realmente tomada, todavia resta "muitíssima terra" para ser possuída.  Existe uma diferença entre a herança e a posse. A herança é toda a terra dada por Deus, enquanto a posse é apenas aquela parte apropriada pela fé. O ideal seria que a posse abrangesse a herança inteira. Nossa herança em Cristo é aquilo que Ele representa em potencial para nós. Nossa posse em Cristo é aquilo que Ele é para nós na realidade, segundo a medida de nossa apropriação pela fé.

Capítulo 20 – As cidades de refúgio
             Temos aqui as seis cidades de refúgio. Seu propósito é claramente explicado em Nm 35 e neste presente capítulo. Tratava-se de uma provisão misericordiosa, a fim de proteger os que haviam cometido certos erros sem querer ou por engano. Muitos homens fiéis e sinceros teriam perecidos se não fossem os chifres dos altares nessas cidades de refúgio.
            Aprendemos assim que Deus reconhece a diferença entre pecados e erros. Os homens mais santos são falíveis e podem cometer erros; mas erros não são pecados e não nos desclassificam para a vida de fé nem nos privam de nossa herança em Cristo. A menininha que, carinhosa mas desastrosamente, colocou os sapatos da mãe no forno, a fim de aquecê-los numa noite fria, cometeu um erro, mas não um pecado!

Capitulo 22 – O altar do testemunho
            Há muitas pessoas que, à semelhança dessas duas tribos e meia, querem sentir-se seguras de que têm comunhão com o Deus de Israel, mas se contentam em viver fora da terra!
            Não há duvida de que o motivo da edificação do altar "Ede" (Almeida Revista e Corrigida) era bom; mas não seria desnecessário se fosse obedecida a ordem do Senhor para que todos os homens de Israel se apresentassem diante dEle três vezes ao ano em Silo?
            A verdadeira unidade não é exterior, mas interior. Ela não é obtida, nem sequer preservada por memoriais externos, consistindo porém de uma unidade da experiência interior e espiritual. Não devemos confundir unidade com mera uniformidade.
            A única unidade verdadeira é a de uma vida comum interior, uma experiência espiritual comum e uma lealdade comum de coração. Os que vivem "na terra", no gozo dessa Canaã espiritual que está em Cristo, estão conscientes de sua unidade espiritual com todos os eleitos de Deus em Cristo, quaisquer que sejam as diferenças denominacionais externas que possam existir entre eles.
            Quanto mais próximos estamos de Cristo, tanto mais claramente vemos nossa unidade com todos os que pertencem a Ele. Aprendemos a pensar menos nos pontos de divergência e mais nos de acordo. Descobrimos que as qualidades peculiares a cada crente, que o capacitam a realizar seu trabalho específico, não afetam aquela parte mais profunda do ser que, em todos os santos, entram em contato direto com o Salvador vivo.
Não podemos criar a unidade espiritual. A unidade dos santificados em Cristo é uma realidade espiritual operada pelo próprio Espírito. A verdadeira unidade de Israel encontra-se numa vida e experiência comum com relação a Deus, a qual se manifestou intensamente naquele altar de sacrifício em Silo. Da mesma forma, a verdadeira unidade dos cristãos encontra-se hoje na sua experiência comum de vida em Cristo descobrindo seu centro vital na cruz e na pessoa do Redentor.

Capítulos 23-24 – A despedida de Josué
            Lemos finalmente os últimos conselhos do agora idoso Josué. As palavras do líder fiel revelam o interesse de seu coração pela nação privilegiada. Israel já vinha gozando há alguns anos o repouso e a fartura de Canaã. O que dizer do futuro? Tudo dependia de Israel continuar ou não fiel à aliança. As palavras de Josué não escondem sua preocupação. Sete vezes ele se refere às nações idólatras que ainda estavam em Canaã. Ele sabia que estas seriam uma armadilha para Israel e prescreveu então três cuidados.
Primeiro, deviam esforçar-se para não se apartar da palavra de Deus – de "tudo quanto está escrito" (Js 23:6).
Segundo, era preciso haver separação contínua das nações de Canaã. (Js 23:7).
E deveria haver um grande apego ao Senhor, com amor real e fervoroso (Js 23:8-11).

Josué

Yehôshua` "Jeová é salvação", normalmente transliterado em português por Josué. O termo grego Iesous (Jesus) reflete a contração aramaica, Yeshü`.
No livro de Êxodo, Josué aparece como jovem (Êx 33:11). Moisés o escolheu como seu assistente pessoal, e lhe deu o comando de um destacamento tirado das tribos ainda não organizadas para repelir os assaltantes amalequitas (Êx 17). Como representante de Efraim, no grupo de reconhecimento enviado de Cades (Nm 13 e 14), ele apoiou as recomendações de Calebe para que se desse prosseguimento à invasão.
Estando Moisés sozinho perante Deus, no monte Sinai, Josué ficou a vigiar; na Tenda da Aliança ele também aprendeu a esperar no Senhor; e nos anos que se seguiram, algo da paciência e da mansidão de Moisés certamente foi também adicionado ao valor pessoal de Josué (Êx 24:13; 32:17; 33:11; Nm 21:28). Nas planícies próximas dos Jordão Josué foi formalmente consagrado como sucessor de Moisés no tocante à liderança militar, coordenada com o sacerdócio de Eleazar (Nm 27:18 e segs.; 34:17). Provavelmente ele tinha então 70 anos de idade. Calebe, mais velho que ele, era um homem notavelmente vigoroso de oitenta e cinco anos quando deu início a ocupação das colinas da Judéia (Js 15:13-15). Josué faleceu com a idade de 110 anos, e foi sepultado perto de Timnate-sera.

Nota: MONTE SIÃO – Significa "Colina ressecada pelo sal" é a alegria de toda a terra (Joel 3:17) – monte da santidade do Senhor.


INTRODUÇÃO AO LIVRO DOS JUÍZES

1. O nome

Evidentemente, o livro dos Juízes deve seu nome ao próprio conteúdo, dedicado ao período dos chamados “juízes” de Israel e a alguns desses juízes em particular. Podemos dizer que abrange aproximadamente os primeiros 350 anos da história de Israel em Canaã. Este é o período do regime teocrático, em que o próprio Senhor é o “Rei invisível” de Israel.
O título “juízes” (Shophetim) é devido aos líderes levantados intermitentemente por Deus, para que houvesse liderança em época de emergência durante o período que vai de Josué até o reinado de Saul. O nome “Juízes” descreve duas funções desses líderes:

A – Livrar o povo dos seus opressores, na função de líder militar.
B – Resolver disputas e defender a justiça, na função de líder civil.

Os períodos de 400 anos da história de Israel são dignos de nota; observemo-los no quadro:

Desde o nascimento de Abrão até a
morte de José no Egito (o período familiar)                    cerca de 400 anos

Desde a morte de José até o êxodo do
Egito (o período tribal)                                                      cerca de 400 anos

Desde o Êxodo até Saul, o primeiro rei
(o período teocrático)                                                        cerca de 400 anos

Desde Saul até Zedequias e o exílio
(o período monárquico)                                                     cerca de 400 anos


O período dos juízes encontra-se no terceiro desses períodos de 400 anos, ou seja, o teocrático. A teocracia foi uma gloriosa experiência com possibilidades superlativas; e o fracasso de Israel é mais trágico ainda.

2. Natureza e autoria

            É evidente que os registros que nos foram preservados neste livro dos Juízes são verdadeiros em termos históricos, embora não pretendam manifestamente constituir uma história científica do período de que tratam, pois a primeira característica de uma história cientifica é o cuidado com a cronologia – sem dúvida algo que falta ao Livro dos Juízes. Sua ênfase está no significado espiritual dos eventos escolhidos e não na simples continuidade cronológica. Este Livro dos Juízes não se preocupa tanto em formar uma corrente histórica, mas em destacar uma lição vital, a qual será mencionada a seguir.
            A autoria do livro é desconhecida, embora a tradição judaica o atribua a Samuel. “Há pouca dúvida de que a maior parte do livro consiste dos registros contemporâneos originais das diferentes tribos. Os detalhes minuciosos e descritivos das narrativas, o cântico de Débora, a história de Jotão, a mensagem de Jefté ao rei Amom, a descrição exata do grande parlamento em Mispa e muitas outras porções semelhantes devem ser documentos contemporâneos. “Todavia, ao mesmo tempo é evidente que esses documentos originais foram editados e compilados posteriormente. Fica claro em 18:31 e 20:27 que a compilação teve lugar depois que a arca foi removida de Silo. Pela frase “naqueles dias não havia rei em Israel” (17:6; 18:1; 19:1; 21:25), concluímos que a organização foi feita depois do inicio do reino de Saul, o primeiro rei. Todavia, a menção dos jebuseus habitando em Jerusalém “até ao dia de hoje” (1:21), torna igualmente claro que tal compilação se deu antes da ascensão de Davi ao trono (que expulsou os jebuseus de sua fortaleza – 1 Cr 11:5). O que poderia ser mais provável do que a mão de Samuel, que liga o período dos juízes e dos reis, ter participado em grande parte da obra que chegou até nós?

3. O retrato de Israel

            “O caráter moral dos israelitas, como descrito neste livro, parece ter se deteriorado muito” escreve o Dr. Angus. “A geração dos contemporâneos de Josué mostrou-se corajosa, fiel e, em grande parte, livre da fraqueza e da obstinação que haviam desonrado seus pais (Jz 2:7). Agora, o primeiro ardor deles havia esfriado um pouco e, mais de uma vez, caíram num estado de indiferença que Josué achou necessário censurar. À medida que cada tribo recebia a sua parte, seus integrantes iam se envolvendo de tal forma no cultivo da terra e apreciando cada vez mais o conforto em lugar da guerra que cada vez menos mostravam disposição para ajudar o restante do povo. Outra geração surgiu. Vivendo entre idólatras, os israelitas copiaram os seus exemplos, casaram-se com eles e contaminaram-se com as suas abominações (2:13; 3:6). Os antigos habitantes que não foram molestados reuniram forças para atacar a raça escolhida: as nações e tribos vizinhas, tais como os sírios, filisteus, moabitas e midianitas, aproveitaram-se de sua degeneração para avançar sobre eles. Enquanto isso, a licenciosidade, o conforto e a idolatria, que os hebreus estavam aceitando, prejudicavam seus poderes de defesa”.

4. O significado geral

            Os juízes levantados por Deus eram lições práticas vivas, através dos quais Deus procurou preservar em Israel a idéia de que a fé no Senhor, o único Deus verdadeiro, era o caminho exclusivo para a vitória e o bem-estar. Mas o povo só correspondia na medida em que isso servia ao propósito egoísta do momento – livrar-se do cativeiro e obter proveitos materiais. Em termos gerais, o Deus de seus pais não passava de um recurso conveniente em tempos de dificuldades. Quando as coisas estavam razoavelmente confortáveis, a traição descarada ao Senhor era a ordem do dia.
            De tempos em tempos, com pena de Seu povo humilhado e sofredor, Deus levantou esses homens, os juízes, cujas façanhas de livramento em resposta à fé demonstrada para com Ele – apesar das vulgaridades e imperfeições de caráter e de comportamento dos próprios juízes – eram tão manifestamente milagroso que Israel foi forçado a reconhece-lo novamente como o Deus verdadeiro, sendo assim encorajado a voltar à sua primeira fé e ao seu primeiro amor.

5. Cenário Histórico

A. Data – 1375-1075 a.C.
1.    O livro de Juízes é o único que registra um longo período da história de Israel. Descreve três guerras civis, sete opressões de cinco inimigos, sete guerras de libertação, um número de magistraturas judiciais pacíficas e, finalmente, uma magistratura malsucedida de Sansão, a qual quase terminou com os filisteus assumindo o controle.
  1. Apesar de o período total de trégua e opressão chegar a 410 anos, o tempo envolvido foi de aproximadamente 300 anos até a morte de Sansão. O confronto entre as magistraturas provinciais e as relatadas em Juízes justificam essa diferença.

B. Estado da Nação

1.    Após a morte de Josué, Israel ficou sem um líder nacional por mais de 300 anos. As tribos mostravam-se independentes e cada indivíduo era uma lei perante si próprio. Durante esse tempo o Senhor levantou juízes principalmente nas emergências para livra-los dos inimigos invasores e defender a justiça civil.
  1. Esse foi um período em que o Senhor testou a nação para ver como ela guardaria a sua aliança num ambiente pagão e idólatra (3:1-5). Os israelitas caíram e uma condição crônica de apostasia. Aceitavam entusiasticamente os livramentos do Senhor, mas quando lhes faltava uma forte liderança, retornavam rapidamente às praticas pagãs que o rodeavam.
  2. O estado espiritual da nação contrasta vivamente com o da época de Josué. Seu livro apresenta uma história de obediência, fé e vitória sob a liderança teocrática desse grande homem de Deus. Juízes, porém, é um livro que apresenta uma história de contínuo fracasso: “cada qual fazia o que parecia direito aos seus próprios olhos” (17:6). Se não fosse pelas misericordiosas operações de livramento do Senhor durante esse período, a nação teria afundado numa idolatria pagã irrecuperável.

6. Objetivo do livro de Juízes

            O objetivo principal de Juízes é preservar um registro do caráter de Israel durante o tempo em que este não tinha um líder nacional e enfatizar sua necessidade de um rei teocrático. Os muitos ciclos de fracasso e castigo salientam repetidamente a verdade deuteronômica de que o abandono da fé no Senhor traz inevitavelmente o castigo da servidão e o caos.

7. Cristo em Juízes

            Se Jesus incluiu o livro de Juízes no seu estudo do Antigo Testamento, expondo o que a seu respeito ali constava, dois itens podem ter sido debatidos:
  1. A falta de um rei ou líder nacional em Israel para unifica-lo como uma real nação teocrática. O livro de Juízes é uma preparação para a vinda de Davi, mas também para a vinda do próprio Messias.
  2. Os juízes sobre os quais veio o Espírito poderiam prenunciar a vinda do Senhor, especialmente na sua função futura de Juiz justo quando julgar o seu povo, destruiu os inimigos e trouxer justiça para a nação.

8. Noções básicas

            O título em português tende à má interpretação, visto que transmite a idéia de um grupo de homens cuja principal tarefa seria desempenhada na esfera legal, como árbitros nas disputas humanas. Mesmo uma leitura superficial de Juízes mostrará que, na verdade, esta era uma função subsidiária de seus personagens centrais. A chave para a conotação do termo em hebraico poderá ser encontrada em 2:16 – “Suscitou o Senhor juízes, que os livraram da mão dos que os pilharam”.(ARC). Os juízes eram, primordialmente, “salvadores” ou “libertadores”  de seu povo, contra seus inimigos.
            Isto levanta uma questão de considerável importância. Estes homens exaltados para serem libertadores de seu povo caracterizavam-se por qualidades peculiares que eram, conforme acreditava, a manifestação de uma dotação especial do Senhor. O povo podia reconhecer esta qualidade à medida que era revelada na vida e nas ações, sendo o livramento de Israel do domínio estrangeiro sua mais espetacular manifestação. Tal atitude não esteve confinada ao período dos juízes. Saul exibia esta marca carismática (1 Sm 11:6), demonstrada abertamente ao libertar os cidadãos de Jabes-Gileade do domínio amonita. Davi recebeu esta unção (1 Sm 16:13) que explicava, em parte, suas grandes proezas, e seus sucessos nas batalhas.
            Entretanto, o heroísmo militar não era a única forma mediante a qual se revelava a dotação divina, visto que a sabedoria e o discernimento eram, igualmente, dons de Deus. Não há registros de façanhas militares de nenhum dos juízes menores (exceto Sangar Jz 3:31). Por outro lado, deve-se observar que temos informações insuficientes acerca dos juízes menores, o que nos impede de afirmar, dogmaticamente, que eram isentos das qualidades militares dos juízes que conhecemos melhor. Com efeito, lê-se de um deles, Tola, filho de Pua, que ele “se levantou, para livrar a Israel” (Jz 10:1 ARA).
            Tais homens (e a mulher Débora) possuíam qualidades extraordinárias de liderança, consideradas como sendo o resultado do Espírito de Deus habitando neles. A evidência mais espetacular desta possessão pelo Espírito e, portanto, a que deveria ser lembrada melhor pela posteridade, era o destroçamento do jugo do opressor.
Doze juízes são citados sucessivamente: Otniel, Eúde, Sangar, Débora (com Baraque), Gideão, Tola, Jair, Jefté, Ibsã, Elom, Abdom e Sansão. Seis deles se destacam mais – pois toda a história concentra-se em seis apostasias e períodos de cativeiro de Israel e nos seis libertadores ou juízes que conseguiram libertar o povo. São eles: Otniel, Eúde, Débora, Gideão, Jefté e Sansão. As seis principais apostasias são assinaladas em cada caso pelas palavras: “Os filhos de Israel fizeram o que era mau perante o Senhor”. Elas ocorrem no corpo do livro apenas essas seis vezes, e em cada caso sobrevém o juízo com a conseqüente servidão. Os cativeiros de Israel não foram simples acidentes, mas castigos.
O pecado e o sofrimento sempre andam juntos. É também verdade que a súplica e a salvação igualmente estão ligadas. Deus se enternecerá com uma súplica sincera em que o mal é abandonado. Ele mostrará então Sua salvação.

Capitulo 2

            Pecado:
“Porquanto deixaram o Senhor, e serviram a Baal e a Astarote”.(Jz 2:13).
. Baal, filho de El, no panteão cananeu, era o deus das tempestades e das chuvas, sendo, portanto, o controlador da vegetação. Ele era o grande ativo, sendo El uma figura um tanto nebuloso; o culto a Baal era largamente difundido no Antigo Oriente Próximo.  Notam-se algumas variantes no Velho Testamento como, por exemplo, Baal-Berite (Jz 9:4), Baal-Peor (Nm 25:3), Baal-Gade (Js 11:17) e Baal-Zebul (2 Rs 1:2). Jezabel introduziu em Israel o culto a Baal-Melcarte, a variedade fenícia. Hadade era o nome sírio correspondente ao Baal cananita. É por essa razão que os escritores do Velho Testamento agrupam as várias entidades de Baal, um tanto desdenhosamente, sob o nome de Baalim (a forma do plural). O fato que Baalim também pode significar “maridos”, “proprietários” ou ”senhores” dá mais vida à metáfora do adultério (vs. 17) empregada tão freqüentemente pelos profetas (por ex.: Os 2:1ss.; 3:1ss.; Jr 3:6ss.; etc.).
. Astarote, forma plural de Astarte, a companheira de Baal, deusa da guerra e da fertilidade, que era adorada como Istar, na Babilônia, e como Anate, no norte da Síria. Nos textos ugaríticos, Anate, com freqüência denominada de “virgem”, é irmã de Baal, e grande deusa ativa.  O culto a esses falsos deuses e deusas incluía sacrifícios animais, prostituição feminina e masculina e, ocasionalmente, sacrifícios humanos.

Conseqüência:
Pelo que a ira do Senhor se ascendeu contra Israel, e os deu na mão dos espoliadores, que os pilharam; e os entregou na mão dos seus inimigos ao redor; e não mais puderam resistir a eles.
Por onde quer que saíam, a mão do Senhor era contra eles para seu mal, como o Senhor lhes havia dito e jurado: e estavam em grande aperto.” (Jz 2:14-15).

Suplica e Salvação:
“Quando o Senhor lhes suscitava juízes, era com o juiz, e os livrava da mão dos seus inimigos, todos os dias daquele juiz; porquanto o Senhor se compadecia deles ante os seus gemidos, por causa dos que os apertavam e oprimiam”.(Jz 2:18).

Capitulo 3-16

  • Obs.: as datas abaixo são aproximadas.

Otniel (1374-1334 a.C.)

 “Clamaram ao Senhor os filhos de Israel, e o Senhor lhes suscitou libertador, que os libertou: a Otniel, filho de Quenaz, que era irmão de Calebe, e mais novo do que ele”. (Jz 3:9).
           
. Otniel já havia provado seu valor como conquistador (Js 15:13-19 ou Jz 1:12-13).
. Poste-ídolo no hebraico “asheroth” (plural) eram representações da deusa cananita Aserá, feita em madeira e erigida junto aos altares pagãos.
. Mesopotâmia era “a terra fértil a leste do rio Orontes, cobrindo as partes superior e média do Eufrates, e as terras banhadas pelos rios Habur e Tigre, isto é, modernamente, o leste da Síria e norte do Iraque”. Só depois do quarto século a.C. foi o termo estendido para descrever todo o vale do Tigre e do Eufrates.

  • A história de Rute (Livro de Rute), a moabita, deve ter acontecido próximo de 1340 a.C.

Eúde (1316-1235 a.C.)

“Então os filhos de Israel clamaram ao Senhor, e o Senhor lhes suscitou libertador, Eúde, homem canhoto, filho de Gera, benjamita. Por intermédio dele, enviaram os filhos de Israel tributo a Eglom, rei dos moabitas”.(Jz 3:15).

            A soberania de Deus é indicada na maneira pela qual Ele usou Moabe para punir Seu povo desviado. É uma idéia confortadora nesta época de poder nuclear, perceber-se que Deus ainda ordena e controla os destinos das nações, e governa as decisões dos governos mundias, inclusive os mais arrogantes e ateísticos dentre eles.

Demonstrou astúcia, perícia e coragem para assassinar o rei dos moabitas.


Sangar (1230 a.C.)

“Depois dele foi Sangar, filho de Anate, que feriu a seiscentos homens dos filisteus com uma aguilhada[7] de bois; e também ele libertou a Israel”.(Jz 3:31).
            Certas características próprias das narrativas a respeito dos juízes estão faltando, em relação a Sangar. Não há menção, por exemplo, de que Israel praticou o que parecia mal aos olhos do Senhor, nem há menção direta a uma opressão filistéia, nem de sua duração. Está ausente, também, a indicação do tempo durante o qual a terra gozou de descanso. Outra peculiaridade é que no versículo 1 do capítulo 4 menciona-se Eúde, e não Sangar, embora a historicidade de Sangar e a ordem cronológica dos eventos sejam atestadas pela referência no Cântico de Débora (Jz 5:6). A referência a Eúde, em 4:1, poderia ser facilmente explicada presumindo-se que a façanha isolada de Sangar ocorreu durante o período de Eúde.
O nome Sangar não é israelita, podendo ser de origem hitita ou hurriana. Disto não se infere, automaticamente, que ele era cananeu, embora seja isto possível; pode, talvez, testemunhar a miscigenação dos israelitas com a população nativa. De qualquer forma sua ação beneficiou a Israel.

Débora e Baraque (1235-1216 a.C.)
            O foco de atenção muda, agora, das tribos sulinas para as nortistas. A ameaça de Jabim e Sísera, longe de relacionar-se à pequena porções de território, envolvia seis tribos, nesse novo conflito. Foi o primeiro grande perigo da época dos juízes.
Sísera poderia ter sido o rei de Harosete, porém, seu principal papel nesta narrativa é o de líder militar dos exércitos unidos. Estes fatos explicam porque Jabim quase não é mencionado (provavelmente era já um ancião).
A superioridade dos equipamentos dos cananeus é demonstrada no uso das novecentas carruagens de ferro, que lhe daria controle completo dos vales e planícies, a menos que alguma ocorrência incomum imobilizasse esta poderosa arma de guerra. Tal evento, considerado milagre da intervenção divina, serviria para transferir as vantagens aos israelitas, no encontro decisivo.
. Jz 4:4-7 – Neste ponto somos apresentados a Débora[8], salvadora de seu povo, e a única mulher no distinto grupo de juízes. Na estrutura tribal de Israel, as mulheres ocupavam uma posição subordinada, porém, elas poderiam subir a cargos de projeção, e de fato, em raras ocasiões isto aconteceu. O Antigo Testamento testemunha as qualificações de mulheres proeminentes como Miriam (Ex 15:20) e Hulda (2 Rs 22:14). Nada se sabe de Lapidote[9], marido de Débora, a não ser a mera menção de seu nome, que não foi o único a ficar apagado, visto que o próprio Baraque[10] desempenhou papel secundário na peleja. Ele recebeu coragem e inspiração pela presença desta grande e talentosa mulher.
Há uma dificuldade nestes capítulos, na menção específica de apenas duas tribos, as de Naftali e Zebulom, em Jz 4:7, 10, comparando-se com uma lista de tribos participantes, na narrativa poética, a qual inclui também as tribos de Efraim, Benjamim, Maquir e Issacar. Uma sugestão para explicar-se este fato é que houve duas fases na campanha: uma inicial, em que apenas duas tribos tomaram parte, e uma segunda fase, em que se aliaram a elas grandes contingentes das tribos vizinhas.
Débora veio de entre Ramá e Betel, ao sul de Efraim. Baraque veio de Quedes-Naftali.
À época da crise, Débora já se havia firmado como profetisa e juíza, na esfera não-militar; na verdade, teria sido a demonstração de qualidades carismáticas nesta esfera que, com toda certeza, induziu as tribos a procurarem sua ajuda. A convocação e o desafio que ela lança a Baraque são em nome de Javé, o nome distintivo do Deus de Israel.
O confronto ocorreu no monte Tabor, na junção das porções tribais de Issacar, Naftali e Zebulom.
. Jz 4:8-9 – A falta de alegria com que Baraque atendeu ao desafio é compreensível, humanamente falando, porque a disparidade entre as forças oponentes era considerável. É bom observar que Baraque, em sua hesitação, tem excelentes companheiros, no Antigo Testamento. Moisés, até mesmo no final de seu encontro com Deus, na sarça ardente, demonstrou extraordinária falta de entusiasmo para aceitar a chamada divina (Ex 4:13); Gideão achou que ele mesmo fora a pior escolha (Jz 6:15); e Jeremias protestou, por causa de sua pouca idade (Jr 1:16). Os grandes homens percebem sua pequenez e inadequação, ao serem chamados pelo Senhor para realizar uma grande tarefa; contudo a chamada divina nunca vem só: é sempre acompanhada pela provisão divina. As palavras de Paulo referem-se a todos quantos são chamados para o serviço de Deus: "Não que por nós mesmos sejamos capazes de pensar alguma coisa, como se partisse de nós; pelo contrário, a nossa suficiência vem de Deus, o qual nos habilitou para sermos ministros..." (2 Co 3:5, 6).

Gideão (1176-1129 a.C.)
            Gideão, o quinto juiz de Israel, é relatado com justiça como um dos heróis de destaque na história primitiva da nação. Entretanto, temos de compreender desde o início que seu heroísmo não era produto de um caráter natural, mas sim resultado de uma experiência espiritual transformadora.
O primeiro contato com Gideão mostra uma figura patética de incredulidade (Jz 6:11-23). Ele se apresenta como um jovem nervoso, malhando trigo no lagar a fim de esconde-lo dos saqueadores [11]midianitas.
Veja as reações de Gideão quando o Senhor lhe aparece: "Ai, senhor meu, se o Senhor é conosco, por que nos sobreveio tudo isto?..." Uma recepção desanimada: "Ai... por que?... onde?... mas..." E no versículo 14 temos: "Então se virou o Senhor para ele, e disse: Vai nessa tua força, e livra a Israel da mão dos midianitas; porventura não te enviei Eu?" Essas foram às palavras fortes e cheias de segurança, mas Gideão só conseguiu gemer: "Ai, Senhor meu, com que livrarei a Israel?" Leia o versículo 16 e veja as palavras de Gideão a Deus. Este é o vocabulário da incredulidade. Em suas exclamações e lamentos sucessivos vemos a surpresa cética da descrença, a seguir sua incerteza e sua indagação, sua queixa e sua falsa humildade, sua falta de recursos, sua duvida persistindo e sua busca de sinais. O Gideão não convertido é uma triste representação da paralisia que sempre acompanha a falta de fé.
O Gideão transformado – Pela primeira vez em sua vida este jovem hebreu teve uma sensação de paz, que é sempre um primeiro produto da verdadeira conversão (mudança).
Gideão, contudo, seguiu adiante. Ele se tornou consagrado. Rendeu sua vontade à do Senhor. Leia do versículo 25 ao 27.  Precisamos retroceder um pouco nos acontecimentos para apreciar como essa prova foi um grande desafio à nova fé e obediência de Gideão. A ordem para "derribar o altar de Baal" faz-nos lembrar imediatamente de que Gideão vivia numa época de completa apostasia religiosa. "Derribar o altar de Baal" era ir contra a vontade popular, arriscando a própria vida. Mas Gideão passou no teste, e como o resultado foi notável! Leia de novo do versículo 28 ao 32. O pai de Gideão também se converteu! Quase sempre, a razão pela qual temos tão pouca capacidade para influenciar os que nos rodeiam, levando-os a Cristo, é que não estamos preparados para assumir uma plena consagração à vontade de Deus.
Finalmente Gideão tornou-se controlado, ou seja, controlado pelo Espírito de Deus. Veja o versículo 34: "Então o Espírito do Senhor revestiu a Gideão..." Ele se tornou imediatamente líder e salvador de seu povo. Este reconheceu nele o poder transformador de Deus e o seguiu quando fez soar sua trombeta. A história registrada na Bíblia conta à maravilhosa vitória de Gideão sobre os midianitas e de como ele libertou Israel do jugo estrangeiro.
Esta experiência de salvação da alma e transformação da vida e do caráter, pela qual ele passou, pode ser conhecida por nós – não em seus incidentes exteriores, mas em sua essência interior. Podemos nos tornar verdadeiramente convertidos a Deus, realmente consagrados à Sua vontade e controlados pelo Seu Espírito Santo. Deus pode nos tomar e usar como fez com Gideão. Convertido, consagrado, controlado pelo Espírito! Deus permita que isto se aplique a nós! Precisamos desviar os olhos das circunstâncias que provocam dúvidas e fixa-los na palavra de Deus. "Fiel é o que vos chama, o qual também o fará" (1 Ts 5:24).
. O Senhor não viu apenas o homem como era – fraco e medroso – mas, o mesmo homem como poderia ser – forte, resoluto e corajoso.

A dúvida vê os obstáculos,
A fé divisa o caminho.
A dúvida vê a noite sombria,
A fé vê o dia.
A dúvida teme adiantar-se,
A fé se eleva sublime.
A dúvida murmura: "Quem crê?"
A fé responde: "Eu".

. A chamada de Gideão (Jz 6:11-24) – A alternância do uso de frases para descrever o visitante divino de Gideão indica que o anjo do Senhor era sinônimo do próprio Senhor. A teofania (aparição ou revelação da divindade) foi em forma humana, como era usual na parte anterior, mais primitiva, do período, vétero-testamentário; a linguagem era fortemente antropomórfica (semelhante a do homem), permitindo personalidade total à deidade.
. Malhando o trigo no lagar (Jz 6:11) – Lagar era uma concavidade escavada numa rocha, havendo um canal ligando-a a uma tina, mais abaixo. As uvas eram colocadas nesta depressão e pisadas, para esmagamento, escorrendo o suco até a tina. A malhação do trigo usualmente era feita por um trenó debulhador, puxado por bois, em área exposta, de maneira que o vento carregasse a palha; contudo, Gideão estava improvisando no lagar, longe das vistas dos bandos de assaltantes. Esta referencia indica também a pequenez da colheita. Podia ser batida com uma vara num lugar confinado.
. Jz 6:17-24 – Gideão não estava totalmente consciente da identidade d'aquele que o estava convocando, mas percebeu que havia algo singular a Seu respeito; daí, seu pedido de um sinal, e seu oferecimento de uma dádiva (oferta, no hebraico minhâ), palavra freqüentemente usada para as ofertas alçadas, espontâneas, no sistema sacrificial israelita. Somente quando a refeição foi consumida pelo fogo, ao toque do cajado do anjo, após o que o próprio anjo desapareceu (21) é que Gideão percebeu, com terror, a natureza do visitante celestial (22). Acreditava-se em todo Israel que nenhum homem poderia ver Deus, face a face, e continuar vivendo (Gn 16:13; 32:30; Ex 20:19; Jz 13:22; Is 6:5). Gideão tendo recebido certeza de que nenhum mal lhe sobreviria, imediatamente erigiu um altar, cujo nome, o Senhor é paz, reflete as palavras iniciais da promessa divina.
. Lã de Gideão (Jz 6:37-40) – Como Josué (e Jefté, mais tarde), Gideão foi um grande descendente de José. Sua vitória sobre os midianitas foi talvez a mais espetacular dentre os juízes. Sem falar dos preparativos, encontro especial com o Senhor, sua grande humildade. Parecia-se mais com Moisés do qualquer dos juízes. Que podemos deduzir da famosa lã?

1)                  Para Gideão, que repentinamente se tornou o comandante de um exército e defrontou-se com uma multidão de saqueadores beduíno, o teste da lã foi importante. Vivendo na idolatria, pouco sabia ele dos "princípios bíblicos", embora tivesse ouvido falar dos milagres do êxodo. Tendo recebido ordens para realizar milagres enfrentando numeroso inimigo, necessitava daquele sinal da presença do Senhor.
2)                  Hoje, entretanto, atitudes de fé são confirmadas não só por manifestações físicas, mas por princípios bíblicos já confirmados nos Antigo e no Novo Testamento. Podemos traçar um principio, baseado na lã de Gideão, de que qualquer medida que envolva um grande passo de fé numa direção nova deve ser cuidadosamente conferida. É para se ter certeza de que é essa a direção do Senhor, e não apenas uma reação egoísta ao "status que".
3)                  A razão para a mudança nos detalhes do sinal foi, provavelmente, a percepção de Gideão de que a lã absorveria orvalho pesado muito mais do que a pedra da eira e, assim, secar-se-ia muito menos rapidamente quando o sol se erguesse. O contrário seria um milagre muito maior, e isto mesmo Gideão pediu, consciente de que estaria pertíssimo de provocar a ira de Deus com sua falta de confiança, procurando, entretanto, desesperadamente uma confirmação divina. Isto foi atendido prontamente, porque o Senhor trata Seus filhos mais ternamente e com maior graça do que qualquer pai terreno.
. Houve dois estágios no processo de redução do exército de Gideão (Jz 7:1-8)Primeiramente, e de acordo com a provisão de Deuteronômio 20:8, todos quantos não tivessem a devida coragem para a batalha deveriam ser liberados. O medo é contagioso e poderia ter efeito desastroso sobre o exército, podendo chegar a proporções de pânico, como no caso das hostes midianitas. Entretanto ficamos realmente desapontados ao descobrir que dois terços do exército de Gideão derreteram-se ao receberem tal oportunidade!
O segundo estágio não é aparente, de pronto, como se percebe pela multiplicidade de explicações oferecidas pelos comentaristas. Pode ser que ninguém deva procurar uma explicação além daquela segundo a qual procurava-se qualquer meio de reduzir o número. No entanto, pode ser que o segundo teste colocava um prêmio ao espírito de alerta, ao espírito militar que procurava jamais ser apanhado em distração. Os rejeitados foram aqueles que, atirando ao vento as precauções, caíram de joelhos para beber água. Os que permaneceram foram aqueles que lamberam as águas com a língua, como faz o cão, uma descrição que tem causado muita perplexidade a muitos. Obviamente, isto não pode significar que os 300 usaram suas línguas para lamber a água diretamente da fonte, visto que esta ação exigiria que ficassem ajoelhados como os demais e, ademais, faz-se menção específica ao uso da mão (6). A melhor explicação parece ser a seguinte: os 300 usaram suas mãos como o cão usa a língua para sugar a água, enquanto permaneciam de pé, alertas, preparados para qualquer emergência. Era tal a confiança na vitória que os rejeitados 9.700 receberam permissão para voltar a casa!
. Convite ao reinado (Jz 8:22, 23) – Não ficou claro quão representativa seria a delegação dos homens de Israel que pediu a Gideão que estabelecesse uma dinastia reinante. Poderia ter-se limitado a uma área relativamente pequena (cf. a extensão do governo de Abimeleque, no capítulo 9), não sendo fácil imaginar-se a poderosa e orgulhosa tribo de Efraim aceitando um rei que pertencesse à outra tribo.
            A resposta de Gideão é um modelo de nobre desprendimento, pois, reconhecia o fato essencial de que a nação tinha um rei, bastando que Ele fosse reconhecido. Seu rei era Javé, o qual era tudo para eles, e muito mais do que os reis das demais nações eram para seus súditos (cf. 1 Sm 10:19). O governo em Israel era, essencialmente, uma teocracia, não uma monarquia, e até mesmo quando a monarquia foi introduzida, ela era qualificada por esta consideração. A ação de Gideão, ao despojar-se resolutamente do convite para a promoção pessoal, foi exemplar, merecendo os mais elevados elogios.
            Entretanto, nem todos os eruditos têm aceito o significado transparente do vers. 23, isto é, que Gideão recusou a monarquia. [12]G. Henton-Davies sugere que a recusa de Gideão foi, na realidade, "uma aceitação disfarçada sob a forma de recusa piedosa, com o objetivo de expressar piedade e ganhar a simpatia de seus prováveis súditos".
            Gideão exercia muitos dos privilégios de um típico monarca do Antigo Oriente Próximo: o uso que ele fazia do oráculo-éfode (oráculo = à vontade de Deus ou a Palavra de Deus // [13]éfode = estola sacerdotal) (8:27); o uso de joalheria e roupas reais (8:26); a criação de um harém (8:30); o nome dado a um de seus filhos, Abimeleque, que significa "meu pai, um rei" (8:31); a presunção de que seus filhos os sucederiam (9:2); a disputa entre Abimeleque e Jotão, a respeito da sucessão, até mesmo a referencia à estatura real de Gideão e de seus irmãos (8:18); tudo isto tem sido argüido como indicação do cargo que efetivamente Gideão ocupava. Entretanto, contra esta opinião ergue-se a sugestão forte, do vers. 29, segundo a qual Gideão recusou a monarquia, retirou-se para sua vida particular, embora com reputação e fortuna pessoal consideráveis.
      . Os últimos anos de Gideão (Jz 8:24-35) – O capítulo final da vida de Gideão aparece como um anticlímax distinto das ações heróicas da seção anterior; o homem que havia liderado seus patrícios tão magnificamente estabelece, agora, um exemplo deplorável de auto-indulgência, em que se envolvem ele mesmo, sua família e toda a nação. Talvez seja mais fácil honrar a Deus mediante ação corajosa, sob a luz de uma emergência nacional, do que honrá-lo persistentemente no dia-a-dia rotineiro, que exige um tipo diferente de coragem. Gideão passou pelo teste da adversidade com distinção, porém, não foi o primeiro, nem o último, a ser menos bem sucedido no teste da prosperidade.
O afastamento de Gideão da vida pública, em seguida à sua rejeição do convite para tornar-se rei, e o estabelecimento de uma grande família, funcionam como uma introdução necessária aos eventos do capítulo 9. As muitas mulheres de Gideão indicam que ele vivia em grande prosperidade, numa situação bem diferente daquela em que ele descrevia sua família como sendo "a mais pobre em Manassés" (Jz 6:15). Um grande harém era um acessório comum, na monarquia, no Crescente Fértil; entretanto, os efeitos de tal situação na história dos reis de Israel sempre são desastrosos.

Abimeleque
. Ascensão e queda de Abimeleque (Jz 9:1-57) – Este capítulo é de interesse especial, porque mostra evidência clara da influência da comunidade Cananéia, encravada na estrutura tribal de Israel. A cidade de Siquém estava marcada pela natureza para desempenhar um papel importante na história de sua época. Estava situada num vale fértil entre os montes Ebal e Gerizim, que formavam uma ligação natural entre as planícies costeiras e o vale do Jordão. Muitas das rotas comerciais convergiam para Siquém que estando no centro de um cruzamento de vias, na Palestina, dominava uma área considerável das regiões rurais circunvizinhas. Tornara-se sagrada, na tradição israelita, como o lugar em que Javé se revelara a Abraão, após a chegada deste a Harã (Gn 12:6, 7).
            O temor infligido nas mentes dos siquemitas, por Abimeleque, poderia ter tido pouca base em fatos reais; os motivos verdadeiros teriam sido sua ambição pessoal e, possivelmente, um ódio ciumento contra seus irmãos (que talvez o considerassem como inferior; cf. v.18). O fato de a família de Gideão residir ainda em Ofra (9:5), e não num dos centros mais importantes, indica que a influência de Gideão mesmo era um tanto limitada. Siquém, uma das antigas cidades-estados de Canaã, talvez estivesse mais inclinada a aceitar um rei do que os israelitas; o filho do grande Gideão, que era um deles, pelos laços da carne e do sangue, seria um candidato óbvio. Os planos de Abimeleque tiveram pronta aceitação e ele agiu com vigor característico de seu pai, mas sem os escrúpulos de seu pai. Os recursos do santuário foram usados para financiar a operação (9:4; cf. 1 Rs 15:18).
Tendo sido consumada a tarefa sangrenta, Abimeleque é proclamado rei, pelos siquemitas. A extensão do reino de Abimeleque era bastante limitada: apenas Siquém, Bete-Milo, Arumá (9:41) e Tebes (9:50) são mencionados como estando sob sua jurisdição, não sendo provável que se estendesse além de um trecho à oeste de Manasses. A referência no vers. 22 deve ser entendida neste sentido limitado. Seu reinado turbulento de três anos, obtido por meio de enganos e mantido à força, foi apenas um incidente no desenvolvimento da monarquia, visto que o reinado não sobreviveu à sua morte. Da mesma forma, o oportunista Abimeleque não merece um lugar entre os juízes de Israel, os quais ocupavam esta posição em face de seu caráter e das realizações pró-libertação do povo.

Tola (1120-1097 a.C.)
. Jz 10:1-2 – Tola é o segundo dos juízes menores; os outros são: Sangar (Jz 3:31), Jair (10:3-5), Ibsã, Elom e Abdom (12:8-15). Foram preservados pouquíssimos detalhes concernentes a estes homens. A conseqüência inevitável disto é que aparecem como personalidades nebulosas, em comparação com Gideão, Débora, Abimeleque, Jefté e Samuel. Às vezes, eles aparecem como estando interessados em assuntos judiciais, como árbitros de disputas dentro das tribos, ou entre elas, ou são considerados guardiães e intérpretes das leis casuísticas. É possível que tenham sido líderes de Israel durante os períodos de paz, quando não havia ameaças de domínio estrangeiro. Contudo, a declaração a respeito de Tola, de que se levantou para livrar a Israel adverte-nos contra ler muito mais do que está escrito nas minguadas informações concernentes a estes homens. O mais provável é que se alguns feitos espetaculares houvessem sido desempenhados por estes homens, pelo menos traços deles teriam sido preservados. Entretanto, não podemos ir além disto e afirmar que, de fato, não se fizeram façanhas extraordinárias. No caso de Tola, preservou-se muito pouco, além de seu nome e alguns fatos essenciais. Em Gn 46:13 e Nm 26:23, Tola e Pua estão ligados à tribo de Issacar.

Jair (1120-1097 a.C.)
. Jz 10:3-5 – O registro de Jair parece relaciona-lo com a conquista de Gileade, quando um predecessor com o mesmo nome capturou um grupo de cidade em Basã, dando-lhes novo nome: Havote-Jair, isto é, "as dez vilas de Jair" (Nm 32:39-42; Dt 3:14). Nesta mesma área, a cerca de 20 quilômetros a sudeste do mar da Galiléia, Jair exerceu sua autoridade.

Jefté (1085-1079 a.C.)
. Israel clama a Deus novamente (Jz 10:10-14)A extrema pungência (dor) dos apertos de Israel levou-o a reconhecer sua iniqüidade, e a clamar a Deus por socorro. A resposta não veio facilmente, visto que o ciclo de livramento, seguido de esquecimento, ingratidão e apostasia haviam ocorrido tantas vezes, que seria impossível menosprezar o pecado desse povo. Deus exigia, e ainda exige, amor constante, bem como constante lealdade e obediência de seus filhos, sobre os quais Ele opera continuamente, para benefício deles, não aprovando um relacionamento fraco, facilmente rompível, em que Ele é invocado apenas em épocas de emergência. Portanto Deus lembrou ao povo os livramentos anteriores que Ele operara.
            Deus declarou que por sua apostasia absoluta, e sua ingratidão em troca dos livramentos, Israel não teria razão em exigir alguma coisa do Senhor (10:13). Que os deuses que Israel aceitou, ao invés do Senhor, o livrem, se puderem! Contudo, esta aparente rejeição, e aparente indiferença para com os clamores de Seu povo, tinham o propósito de testar a sinceridade da reação de Israel. Deus exigia ação e não palavras, as quais poderiam ser apenas uma profissão de fé vazia.
            Deus deu Sua resposta a Israel: "Contudo vós me deixastes a mim e servistes a outros deuses, pelo que não vos livrarei mais. // Ide e clamai aos deuses que escolhestes; eles que vos livrem no tempo do vosso aperto".(Jz 10:13, 14).
. Deus é misericordioso (Jz 10:15-16)Deus é gracioso e misericordioso, tardio em irar-se e, assim, atendeu ao clamor de Israel em sua disposição limitada quanto à fidelidade.
Desta mesma forma Deus agiu com os ninivitas. Deus havia condenado a cidade de Nínive à destruição, contudo quando o profeta Jonas avisa Nínive de seu destino decretado por Deus (Jn 3:1-4), toda a cidade se arrepende e se coloca em oração e jejum (Jn 3:5-9) e Deus que é misericordioso os perdoou e não destrói a cidade de nínive (Jn 3:10).
            Tais feitos nos fazem ver a importância da oração, como Deus pode mudar seus planos por causa de nossas orações, por causa da nossa conversão. Não basta clamarmos precisamos mudar nossas atitudes e Deus com certeza terá prazer em nos salvar.
            Talvez nós mesmos, antes de condenarmos Israel, por sua lerdeza de coração, faríamos bem em reconhecer nossa própria dependência da misericórdia de Deus. No caso de Israel, os deuses, que não poderiam salvar, nem satisfazer, foram descartados, e o povo buscou ao Senhor em arrependimento.
            . A rejeição de Jefté (Jz 11:1-3) – Nesta seção parentética somos apresentados a Jefté, sendo a narrativa retomada em 11:4. A nuvem que obscurece seu nascimento parece maior que a de Abimeleque. Era filho de Gileade, cujo nome é idêntico ao do neto de Manasses, fundador do clã; todavia, sua mãe era uma prostituta, talvez não-israelita. Jefté morava na casa de seu pai, estava privado dos direitos de família, em face de sua origem ilegítima e, ao contrário de Abimeleque, não tinha herança no clã de sua mãe. Finalmente, foi ele expulso por seus meio-irmãos, evento que determinou seu futuro, pois, tornou-se chefe de uma quadrilha de bandidos e marginais da sociedade. Há, aqui, alguma correspondência com os fatores que determinaram a carreira de Davi que, expulso para o deserto pelo ciúme de Saul, reuniu ao seu redor os perturbados, os endividados e os amargurados (1 Sm 22:2), e amalgoando-se num pelotão formidável. Assim também Jefté, o desprezado, mediante horrendo infortúnio, estava preparado para a tarefa de salvar aquele mesmo povo que o havia expulso.
. [14]"Voto insensato de Jefté (Jz 11:29-40) – Está registrado que o Espírito do Senhor veio sobre quatro juízes (Otniel, Gideão, Jefté e Sansão). A história de Jefté é importante por três razões: sua designação, mesmo sendo um proscrito; seu argumento com os amonitas, reivindicando a Transjordânia como uma dádiva do Senhor; e seu voto de oferenda a Deus. Ele realmente ofereceu a sua filha como "oferta de holocausto" (11:31)? Deve-se observar que o seu voto permitia duas opções: aquilo que saísse de sua casa quando ele voltasse de Amom, 1) "será do Senhor" ou 2) "eu o oferecei em holocausto". O fato de que a moça chorou dois meses em virtude da "sua virgindade" e que "ela jamais foi possuída por varão" é um forte indício de que Jefté escolheu a primeira alternativa – dá-la ao Senhor para o culto no templo. Como Jefté não tinha outros filhos para continuar o nome da família, seu gesto representou um grande sacrifício. Sacrifícios humanos jamais foram realmente tolerados pelo Senhor (incluindo o de Isaque)".
.[15]"O Voto de Jefté (Jz 11:29-31) – Têm-se feito tentativas de demonstrar que Jefté tinha em mente um sacrifício de animal, e que fora tomado de surpresa quando sua filha saiu para saúda-lo; todavia, tais tentativas carecem de base, visto que a expressão quem primeiro da porta da minha casa me sair ao encontro (31) deve referir-se à intenção de um sacrifício humano. É certo que Jefté tinha em mente um ato de devoção a Deus, uma recompensa pela ação de Deus feita por seu intermédio. Todavia, fosse ele melhor versado nas tradições de Moisés (Dt 18:9-14) e saberia que Deus jamais desejou ser honrado desta maneira. "O fruto do meu corpo" (ou do corpo de outrem) não pode ser oferecido "pelo pecado da minha alma", nem como marca de devoção ao Senhor (Mq 6:6-8). A vida (dos outros, ou a nossa própria) não pode ser eliminada para satisfazer o objetivo particular de um individuo, por mais louvável que pareça esse objetivo. Observou bem o bispo Hall: Seu zelo foi fazer um voto, seu pecado foi fazer um voto atrevido."
. Cumprimento do voto de Jefté (Jz 11:34-40) – O general vitorioso voltou para Mispa, sem dúvida esperando que o cumprimento de seu voto envolveria nada mais do que o sacrifício de um de seus inúmeros servos domésticos. Contudo, para seu horror, foi ele saudado por sua filha, que veio encontrar-se com seu pai vitorioso, de maneira tipicamente hebraica (cf. Ex 15:20; 1 Sm 18:6; Sl 68:25). Narra-se a história com perícia: não se mencionam detalhes espalhafatosos do sacrifício, mas apenas um toque delicado aqui, e uma expressão velada ali, criando-se, assim, uma impressão de tragédia dignificada.
Todos os primitivos comentaristas e historiadores concordaram em que Jefté verdadeiramente ofereceu sua filha em sacrifício de fogo. Não foi senão na Idade Média que surgiram tentativas bem intencionadas, mas erradas, para suavizar o significado claro do texto. Mentes iluminadas podem chocar-se diante de tal ação, por serem dotados da susceptibilidades, especialmente ao pensar-se que tal ação partiu de um juiz de Israel; entretanto, a tentativa de comutar a sentença de morte, estabelecendo em seu lugar uma sentença de virgindade perpétua não se sustém. A referência final à virgindade da filha de Jefté é adicionada a fim de aguçar a tragédia do acontecimento.
O fato de a filha de Jefté não ter concebido um filho era mais que simples tragédia, a de uma vida cuja missão não fora cumprida. Aquilo representaria o término do clã do próprio Jefté, visto que ela era filha única. Assim, o momento de triunfo quase coincidiu com o da tragédia.
A desolação de Jefté (35), a suspensão da pena por dois meses (37,38), e a instituição de uma festividade anual de quatro dias dificilmente teriam ocorrido se nada mais estivesse em jogo além da virgindade perpétua.
. Jefté e os efraimitas enciumados (Jz 12:1-7) – O traço de caráter que os efraimitas demonstraram neste episódio está de acordo com a reação anterior deles, a Gideão, numa situação semelhante (8:1, 2). Mas a semelhança entre os dois incidentes termina aqui. Jefté, o ex-chefe de bandidos, não era homem de brincadeiras; suas palavras e ações contrastam vividamente com "a palavra branda que desvia o furor", de Gideão, o homem a quem fomos apresentados quando estava malhando o trigo no lagar, com medo dos midianitas. Os efraimitas, sem dúvida armados, expressaram a Jefté seu ressentimento em termos bem claros. O curso da batalha deixa claro que os efraimitas já tinham atravessado o Jordão, de modo que sua direção era leste, não o norte.
Não demorou muito para a situação piorar, inflamada pelas difamações injuriosas dos efraimitas (4), pelas quais acusavam os gileaditas de serem efraimitas renegados. O exército de Jefté, desmobilizado após esmagar a ameaça amonita, foi outra vez mobilizado, às pressas, e obteve completa vitória sobre seus patrícios, tal qual sobre o estrangeiro invasor. Na campanha de Gideão, foram os efraimitas que guardaram os [16]vaus, contra o inimigo derrotado. Agora, os vaus do Jordão foram vigiados a fim de impedir a fuga das forças efraimitas. Ficam bem patentes as qualidades de liderança decisiva de Jefté, em toda a campanha; a escolha dos anciãos de Gileade (11:6) foi homologada pelos eventos. Um teste simples, porém devastador, foi criado para estabelecer a identidade daqueles que procurassem transpor o Jordão. Os que confessassem que eram efraimitas presumivelmente eram mortos de imediato; os que o negassem eram obrigados a pronunciar uma palavra: Chibolete (que significa "espiga de milho"), que os efraimitas por constituição vocal não sabiam pronunciar. O dialeto efraimita parece que era semelhante ao dos amorreus e árabes, em que o som do "s" toma o lugar do "ch" e "x", de modo que ao pronunciar sibolete os efraimitas revelavam imediatamente sua identidade, e eram executados. Qualquer outra palavra com "ch" ou "x" serviria, mas a palavra chibolete passou para o uso comum para denotar a senha, ou distintivo de uma seita, ou grupo particular. Os efraimitas foram traídos por sua fala; Pedro também o foi, muitos séculos mais tarde (Mt 26:73). O número de efraimitas mortos (42.000) parece anormalmente alto para este período da história de Israel. O uso de grandes números, no Velho Testamento, é um de seus problemas não resolvidos; é possível que a resposta esteja nos vários significados da palavra "mil" (heb. 'elep).


Ibsã (1100-1063 a.C.)
. Jz 12:8-10 – Não há qualquer outra menção de Ibsã, no Velho Testamento. O número de seus filhos indica sua riqueza, e posição social na comunidade. A palavra fora significa tão-somente que seus filhos se casaram com pessoas de outro clã. Belém aqui não deve ser identificada com a Belém de Judá, que em geral é mencionada como Belém-Judá. A tribo de Judá parece ter sido cortada da vida intertribal, durante a maior parte do período dos juízes, exceto quando há referencias ocasionais. É viável supor-se que esta Belém fosse a cidade da parte oeste de Zebulom, a cerca de 16 quilômetros ao norte de Megido (Js 19:15).

Elom (1100-1063 a.C.)
. Jz 12:11, 12 – Se a identificação de Belém (8) estiver correta, então Ibsã e Elom foram da tribo de Zebulom. Não há informação complementar concernente a Elom, além do nome de sua tribo, a extensão do período de sua jurisdição, e o lugar onde foi sepultado, Aijalom, na terra de Zebulom, distinguindo-a, assim, da outra Aijalom, bem mais conhecida, em território danita. Aijalom de Zebulom localiza-se nas vizinhanças de Rimom; contudo, visto que a forma da palavra é exatamente a mesma de Elom, no texto hebraico sem pontuação, o nome do juiz e o lugar de seu sepultamento podem ser idênticos, como na LXX.

Abdom (1100-1063 a.C.)
. Jz 12:13-15 Piratom tem sido identificada, tentativamente, com a moderna Far 'ata, localizada a cerca de 10 quilômetros a oeste-sudoeste de Siquém, na borda sulina do território alocado a Manasses. Contudo, a fronteira poderia ter sido algo flexível, com Efraim, a tribo mais forte, expandindo sua região além da porção que lhe fora designada (daí a referência no vers. 15). Piratom foi o lugar de nascimento do capitão de Davi, Benaia (2 Sm 23:30, 1 Cr 11:31; 27:14). O prestígio e riqueza de Abdom se revelam pelo número de filhos e netos e suas montarias (cf. 10:4). A referência ao monte do amalequita (ARC), ou região montanhosa dos amalequitas (15) causa perplexidade. Tem-se conjecturado que esta referência, junto à de 5:14, apóiam a idéia de que havia um pequeno território amalequita encravado no território de Efraim. Tal possibilidade não é inteiramente descartada em face da inveterada hostilidade existente entre os israelitas e os amalequitas, em geral. A referência poderia estar ligada a uma ou outra incursão em território israelita, por grupos hostis que incluíam os amelequitas (3:13; 6:3, 33; 7:12; 10:12). Observe-se que os amalequitas, por causa de seu ataque traiçoeiro no primeiro estágio das peregrinações pelo deserto, ficaram sob permanente condenação, e por isso deveriam ser destruídos (Ex 17:8-13; Dt 25:17-19; 1 Sm 15:2, 3).

Sansão (1095-1075 a.C.)
As narrativas a respeito de Sansão têm como pano de fundo a parte primitiva da opressão dos filisteus. O editor apresentou as ameaças amonitas e filistéias à existência de Israel, no mesmo ponto (10:7); agora, tendo tratado da ameaça menor, de duração mais curta, ele se volta para a grande ameaça que haveria de obscurecer o resto do período dos juízes, e o início da monarquia, até os primeiros anos do reinado de Davi (2 Sm 5:17-25). Os filisteus se haviam estabelecido em grandes hordas, na planície costeira, cerca de uma geração após o estabelecimento dos israelitas na terra (mais ou menos 1200 a.C.), embora não se exclua a possibilidade de invasões menores, mais antigas, de grupos etnicamente relacionados (Gn 21:32, 34; 26:1ss.)/ Quando se haviam se estabelecido em sua pentápolis (Gaza, Ascalom, Asdode, Ecrom e Gate), começaram a penetrar no interior. Num certo ponto foram momentaneamente repelidos por Sangar, resultando num alívio temporário para os israelitas (Jz 3:31). A pressão filistéia sobre os amorreus redundou numa pressão igual sobre os israelitas (Jz 1:34-36) e esta, por sua vez, redundou na migração de um grupo de danitas para o extremo norte da terra (Jz 18:1ss.) É provável que isso tenha acontecido antes da época de Sansão, o qual seria, então, um dos remanescentes dos danitas que permaneceram em sua porção tribal original. A ameaça filistéia foi a de maior monta porque era insidiosa, em algumas de suas fases. Não havia a agressividade direta e cruel dos moabitas, cananeus, midianitas e amonitas: ela fora substituída pela infiltração, através do casamento misto e do comércio. O domínio filisteu sobre os povos conquistados não parecia ser oneroso, neste estágio primitivo; os homens de Judá que, à semelhança dos danitas, eram afetados por estas invasões, parecem ter-se ressentido contra as façanhas de Sansão, por terem aceitado o jugo filisteu docilmente (Jz 15:11). Possivelmente, os filisteus prosseguiram nesta direção e, por fim, tomaram conta de toda a região.
Foi nesta situação de aceitação apática de circunstâncias potencialmente perigosas que se ergueu Sansão, para infligir uma guerra de um homem contra os filisteus. Com apoio espantosamente escasso da parte de seus patrícios (em lugar algum dispõe ele de um soldado ao seu lado, quanto menos de um exército), ele traz o perigo à luz. Não há dúvida de que suas façanhas aguçaram a animosidade dos filisteus contra os israelitas, levando-os ao emprego de efetivos militares maiores, a fim de garantir seu império. Isto representava a maior ameaça contra Israel, maior que qualquer invasão ocorrida até então...
...Concordaremos em que, num grupo de indivíduos com características próprias, Sansão coloca-se numa categoria à parte. Embora dotado pelo Espírito do Senhor, e dedicado a um voto vitalício de nazireu, sua vida parece girar ao redor de relacionamentos ilícitos com prostitutas e mulheres de vida livre. Dele se diz que julgou a Israel durante vinte anos (15:20), mas não efetuou um livramento real do jugo filisteu, e veio a perecer como prisioneiro entre eles. Sua história é triste, pela falta de disciplina e de verdadeira dedicação, enquanto o leitor fica imaginando o que poderia Sansão ter feito se seu enorme potencial tivesse sido marcado e temperado por estas qualidades mentais e espirituais.

.  A opressão filistéia (Jz 13:1)A opressão de quarenta anos terminou quando Samuel entoou o cântico de vitória em Ebenézer (1 Sm 7), embora os filisteus viessem a dominar outra vez a Israel, durante a vida de Samuel, no reinado de Saul (1 Sm 13; 14; 28-31). Este domínio foi eliminado, finalmente, com a dupla vitória de Davi em Refaim (2 Sm 5:17-25).
. Predição do nascimento de Sansão (Jz 13:2-5) – A terra-natal dos pais de Sansão era Zorá, cidadezinha na fronteira entre Dã e Judá, em Sefela, a cerca de 20 quilômetros a oeste da cidade de Bete-Semes (lit. "casa do sol", que talvez tenha influenciado o nome de Sansão). A esposa de Manoá, à semelhança de Sara, Ana e Isabel, era estéril e, como no caso de Sara e Isabel, o nascimento do filho foi anunciado pelo anjo do Senhor. A criança deveria ser um nazireu desde o nascimento. Esta palavra deriva do hebraico nazir, que significa "separado", ou "consagrado".
O voto de nazireu está delineado em Números 6:1-21 e contém três cláusulas: o nazireu deveria abster-se de todos os produtos da vinha; seu cabelo deveria permanecer não-cortado durante o período do voto; não deveria profanar seu corpo tocando em cadáver. Qualquer quebra destas cláusulas nulificaria o período de consagração já passado, sendo necessário começar tudo de novo. As histórias a respeito de Sansão deixam claro que ele se interessava apenas com a regra que estipulava cabelos compridos. Freqüentemente ele é encontrado em contato com os mortos, e não por mero acidente (cf. 14:8, 9); e sua presença na orgia de 14:10, 17 dificilmente sugere abstinência de bebida alcoólica. Os preceitos de Números 6 indicam, também, que o voto de nazireu era tomado pessoalmente, por um tempo limitado apenas, e seria observado segundo ritos bem definidos. O voto de Sansão não foi voluntário, e deveria cobrir toda a sua vida (7), de modo que seu estado de nazireu deveria coloca-lo em categoria especial, talvez em paralelo com Samuel que, num texto Qumran (4Q Sam.; cf. 1 Sm 1:22) é descrito como "um nazireu para sempre, todos os dias de sua vida".
Em vista do caráter ímpar do filho que haveria de gerar, a esposa de Monoá deveria atender também aos requisitos de um nazireu, pela abstenção de vinho (feito de uvas), bebida forte (feita de outras frutas, mel e grão), e cousa imunda (que pode ser uma referência direta a Números 6:3, 4, ou uma injunção de caráter mais geral, que daria atenção às leis dietéticas de Israel). A declaração de que Sansão começaria a livrar a Israel do poder dos filisteus indica que o trabalho de sua vida seria incompleto, e deveria ser retomado e consumado pelas atividades de Samuel, Saul, Jônatas e Davi.
. O primeiro amor de Sansão (Jz 14:1-4) – Timna ficava a pouco mais de 6 quilômetros a sudoeste de Zorá, no outro lado do vale de Soreque. A ocupação desta cidade pelos filisteus demonstra a penetração deles em território israelita, e a natureza pacífica dessa invasão, porque Sansão parece totalmente livre para ir e vir, não havendo, além disso, qualquer barreira contra seu casamento, da parte dos filisteus.
Foi em Timna que Sansão encontrou a primeira de suas amantes, não se detendo pelo fato de ser ela uma filistéia, e estar ele quebrando a tradição de seu povo, e as injunções da lei, a respeito de casamentos mistos (Ex 34:16; Dt 7:3). Pode-se imaginar a mágoa de seus pais, especialmente em face do conhecimento que tinham do nascimento sobrenatural e do destino peculiar do filho.
. Mel do cadáver do leão (Jz 14:8, 9) – A referência ao lapso de tempo não é definida; porém, visto que Sansão dividiu o mel com seus pais, é provável que ele estava a caminho de casa, vindo de Timna para Zorá. É quase certo que foi subseqüente à visita anterior, visto que se formara uma colméia no cadáver do leão. Desviando-se, o que sugere que a façanha fora executada fora da estrada, Sansão descobriu que um enxame de abelhas se agregará ao cadáver do leão. Observe-se que Sansão, ao remover o favo de mel (o verbo no hebraico é sugestivo, indicando que ele raspou-o do cadáver com suas mãos), quebrou as cláusulas do voto normal de nazireu, ao tocar num cadáver; e no seu caso, voluntariamente (Nm 6:6). Talvez seja esta a razão por que ele não disse a seus pais qual fora a origem do mel.
. O enigma de Sansão (Jz 14:12-18) – Os enigmas eram apreciadíssimos no mundo antigo; contudo, aqueles que tratavam de trivialidades não tinham aceitação entre os hebreus, de acordo com as evidências do Velho Testamento. A mesma palavra é empregada para as "perguntas difíceis" com que a rainha de Sabá testou Salomão (1 Rs 10:1); ela aparece também em Sl 49:4; 78:2; Pv 1:6.
Na atmosfera festiva da celebração de Sansão, o desafio foi prontamente aceito, porque os trinta homens pesaram as vantagens que estavam de seu lado: sua sabedoria somada, mas a abundância de tempo. Na verdade, as apostas ficaram altas. As vestes festivais seriam equivalentes às "roupas domingueiras" ou "roupas usadas para casamentos", isto é, as melhores roupas. Eram trajes de qualidade superior, com belos desenhos, não designados para uso diário, mas para ocasiões especiais tais como um casamento.
A resposta a este enigma dificilmente poderia ser encontrada sem o conhecimento pessoal que apenas Sansão possuía, não sendo surpresa que, quando os trinta convidados se viram diante de uma despesa individual considerável, tivessem ficado profundamente preocupados, percebendo que a solução estava longe deles. A atmosfera da festa assumiu um aspecto feio, sombrio, diante da ameaça deles (v.15), na qual presumiram que a esposa de Sansão estava envolvida num conluio para rouba-los. A mulher, com medo de perder a vida, e que seu pai perdesse a casa, usou o último recurso de seu sexo, um dilúvio de lágrimas e a insinuação de que Sansão não a amava, pois, do contrário, não guardaria segredos desconhecidos dela – artimanhas que tem levados ambos os sexos a misérias incontáveis! Contudo, o segredo compartilhado significou que o casamento, na verdade, jamais se consumaria porque, quando o sétimo dia chegava ao final, o enigma foi respondido. Sansão não entrou na câmara nupcial, o que significava que o casamento estava invalidado.
. Façanha de Sansão em Ascalom (Jz 14:19, 20) – Sansão ficou, obviamente, enfurecido porque sua esposa divulgara seu segredo; por outro lado não havia motivo para que ela lhe ocultasse a coação mediante a qual revelara o segredo. Dessa forma, ele também estava enfurecido contra os filisteus. Nesta crise foi ele mais uma vez dotado de força sobrenatural, atribuída, como eu outras ocasiões, a uma súbita possessão do Espírito do Senhor. O pagamento da aposta e o desejo de vingança varreram de sua mente todos os pensamentos a respeito do casamento, e os próprios filisteus foram obrigados a pagar.
Paga a dívida, Sansão retirou-se, cheio de ressentimento, para sua própria casa, sentindo-se (temporariamente) alienado de sua esposa. Contudo, era grande desgraça uma noiva ser abandonada nesta situação embaraçosa, no final dos festejos matrimoniais, de modo que ela foi dada, imediatamente, ao padrinho, ou companheiro de honra de Sansão (v.20), o "amigo do noivo" (Jo 3:29).
. Rejeição de Sansão (Jz 15:1, 2) – Após a fúria de Sansão se evaporar, ele procura sua esposa para coabitar com ela, mas recebe a notícia de que ela fora dada ao seu companheiro de honra. Os pais da moça tentando apaziguar a situação por medo de Sansão ou por acharem que se precipitaram oferecem a filha mais nova a Sansão.
. A vingança de Sansão e as conseqüências (Jz 15:3-6) – Sansão recusou a oferta da irmã mais nova de sua pretendida noiva e, profundamente ofendido, anunciou sua vingança contra os filisteus. Suas palavras indicam que ele se achava completamente justificado nesta ação vingativa.
A queima do cereal por ceifar era método comum de retaliação, ou vingança, no mundo antigo, sendo muito sérios os efeitos numa comunidade agrícola. A reação pronta de Joabe contra a astúcia de Absalão, para atrair-lhe a atenção, serve de exemplo (2 Sm 14:28-31). Aumentou-se o dano aos filisteus quando o fogo se estendeu às oliveiras. Era tal a reputação de Sansão que os filisteus não tiveram dificuldade em descobrir a identidade do incendiário, nem seus motivos.
Era mais fácil para os filisteus perpetrar sua vingança contra a moça e seu pai do que capturar Sansão. Assim, a fatalidade de que a ex-noiva de Sansão procurou fugir, ao revelar o segredo dele, acabou caindo mesmo sobre ela. A moça teria sido sabia se houvesse informado seu noivo sobre essa ameaça, tão logo surgira, visto que ele era muito capaz para cuidar de si mesmo, dela, e de seu pai.
. Mais morticínio de filisteus (Jz 15:7, 8) – É um truísmo (evidência) conhecido que dois erros jamais fazem um acerto. Um ato de vingança atrai outro ato semelhante; o orgulho ferido pode tornar-se tão forte que não há como terminar o processo. Muitas famílias, clãs ou tribos têm desaparecido, e seus rivais dizimados, em litígios que duraram gerações. Em certo ponto, deve haver absorção do mal praticado, sem retaliação, como a morte de Cristo na cruz ilustra superlativamente. Contudo, Sansão não era homem deste tipo e, embora ele houvesse trazido um fim trágico para a família a que procurava aliar-se, agora ele promete realizar um ato final de vingança, como se estivesse no poder de um homem decretar a cessação do derramamento de sangue!
. Façanha de Sansão em [17]Leí (Jz 15:9-17) – O massacre de seus compatriotas em Timna redundou na formação de um batalhão de pelo menos 1.000 filisteus (vv. 15, 16), a fim de combater esta ameaça representada por um único homem. Isto em si mesmo é tributo a força de Sansão.
A presença de um batalhão tão grande, de soldados, causava compreensível preocupação entre os homens de Judá, residentes nas vizinhanças. Esta história é ilustrativa das condições reinantes em Sefela, nesta época. Mostra os filhos de Judá aceitando o domínio dos filisteus, e temerosos das conseqüências das façanhas de Sansão. Não há dúvida de que, secretamente, simpatizavam-se com Sansão; entretanto, era tal o pavor dos filisteus que um bando de três mil só pensava em amarra-lo e entrega-lo ao adversário comum, ao invés de permanecer ao lado deste herói, contra seus inimigos. Fica bem claro, também, que os filisteus não tinham divergências com os homens de Judá.
Quando levavam Sansão amarrado, os gritos de triunfo dos filisteus que se aproximavam foi um estímulo que o levou a súbita manifestação de poder, atribuída diretamente ao Espírito do Senhor (v. 14). As cordas que o prendiam arrebentaram-se (v.14); tomando uma queixada de jumento, ainda fresca (lit. "úmida"), entregou-se a uma orgia de destruição na qual mil filisteus pereceram (vv. 15, 16).
. Providência de Deus para com o exausto Sansão (Jz 15:18-20) – Finda a batalha, surgiu a reação, após o prodigioso dispêndio de energia na matança dos filisteus: Sansão sentiu sede devastadora. O homem que não temera nada ao ser entregue, amarrado, ao acampamento do inimigo, encolhia-se, agora, temeroso e sem confiança, diante da perspectiva da morte pela sede, com a probabilidade de os filisteus voltarem para mutilar seu cadáver. A situação é tipicamente humana. Pode comparar-se com o triunfo solitário de Elias sobre os profetas e sacerdotes de Baal, no Carmelo, após o qual percorreu a longa distância entre o Carmelo e Jezreel, fugindo de uma mulher, sofrendo, em conseqüência, uma situação de desânimo, e derrota, em que o profeta, desesperadamente cansado, desmoronou sob um zimbro, pedindo ao Senhor que lhe tirasse a vida (1 Rs 18:19). Em ambos os casos, o Senhor graciosamente deixou de punir seus servos por suas petulantes explosões de desânimo, mas providenciou atendimento às necessidades físicas e emocionais tão agudas.
. O amor de Sansão por Dalila (Jz 16:4, 5) – A respeito do rei Salomão está escrito que ele amou muitas mulheres estrangeiras, observando, corretamente, o editor, que suas esposas lhe perverteram o coração, impedindo-o de seguir ao Senhor e contribuindo para o declínio moral e religioso do povo (1 Rs 11:1-13). Sansão não teve as mesmas oportunidades de Salomão, contudo, suas paixões soltas eram semelhantes às do grande rei, e redundaram em sua terrível queda. A resposta de seu enigma lhe havia sido arrancado pela astúcia de uma mulher (Jz 14:12-17); agora, o maio segredo de sua vida é descoberto pela importunação de outra amante. O nome Dalila que quer dizer "adoradora", ou "devota", tornou-se sinônimo de mulher sedutora.
É notório o grande respeito que os filisteus tributavam a Sansão, está refletido no fato, agora, de que não ousavam aproximar-se dele enquanto não descobrissem o segredo de sua força e também na recompensa que ofereceram a Dalila pelas informações que os capacitassem a capturar seu inimigo. A referência a 1.100 siclos de prata denota a generosidade de sua oferta. O risco era grande; portanto, o suborno deveria compensar o perigo pessoal envolvido, e a força da ligação com seu amante.
. Três tentativas para descobrir o segredo de Sansão (Jz 16:6-14) – Dalila cuidou de sua missão com uma eficiência fria, insensível, a ponto de o leitor ficar imaginando por que Sansão não teve qualquer suspeita. Com toda probabilidade, ele estava tão cego em sua paixão, e pela gratificação dela decorrente, que nenhum pensamento de insegurança penetrou em sua mente. Nas três primeiras tentativas de Dalila, Sansão adotou uma atitude brincalhona, arreliante.
A fim de testar a eficiência de cada método, Dalila deu alarme sobre a chegada dos filisteus, sempre com resultados espetaculares. Sansão sempre se levantava pronto para lutar.
A tentadora, por sua vez, com gentileza e muita persistência, aplicou-se à sua missão, aumentando gradativamente o tom de reprimenda, à medida que seus esforços eram escarnecidos.
. Revela-se o segredo de Sansão (Jz 16:15-20) – Torna-se evidente que, após estas três tentativas fúteis, os filisteus perderam todo interesse, e se retiraram do local, pois Dalila precisou fazer um apelo especial para que voltassem (v.18).
Não era o cabelo, propriamente dito, a fonte da força miraculosa de Sansão. A fonte estava no Senhor mesmo, de que os cabelos não cortados eram apenas símbolos. Sansão havia sido separado para o Senhor. Permanece, todavia, o problema de que a separação para o Senhor parecia apenas um conceito cerimonial, com pouco significado moral, se é que havia algum.
. Humilhação de Sansão (Jz 16:21, 22) – Sansão, agora enfraquecido, foi facilmente capturado pelos filisteus. Seus olhos foram vazados, e ele foi obrigado a descer a Gaza, cenário de uma de suas façanhas hercúleas (16:1-3), e forçado a trabalhar na tediosa tarefa de moer trigo, provavelmente num moinho manual, visto que não há evidencias do moinho maior, movido a burro, até o final do século quinto a.C.
Cadeias de bronze é forma dupla, sugerindo que seus pés e também as mãos estavam presos.
. Sepultamento de Sansão (Jz 16:31) – O ódio dos filisteus a Sansão deve ter sido suavizado pelo respeito às suas façanhas; não fizeram, aparentemente, nenhum esforço no sentido de abusar de seu cadáver, ou de recusar-lhe sepultura no sepulcro da família (cf. desonra do cadáver de Saul, 1 Sm 31:9, 10). O tratamento dado a um cadáver era assunto de importância no mundo antigo (cf. Am 2:1; Jr 8:1, 2). Ele foi sepultado numa encosta montanhosa, voltada para o vale de Soreque, cenário de algumas de suas maiores façanhas, e de alguns de seus maiores fracassos. Sua vida, que prometia tanto, foi prejudicada e finalmente destruída por suas paixões sensuais, e pela falta de uma separação verdadeira, para o Senhor. Contudo, sua vida não foi gasta em vão, visto ter chamado atenção para o perigo do domínio completo dos filisteus, que vinha crescendo insidiosamente pelas fronteiras ocidentais de Israel. A última sentença reitera a declaração de 15:20 "Julgou ele (Sansão) a Israel vinte anos".
. [18]Resumo da vida de Sansão e seu trágico romance (Jz 13-16) – Sansão foi o juiz mais singularmente dotado e o único nazireu identificado no Antigo Testamento. Como Isaque, Samuel, João Batista e Jesus, o seu nascimento foi predito por um anjo. Foi-lhe dada a grande dádiva da força especificamente para livrar Israel dos filisteus, que tinham devastado a nação israelita. Possuidor da maior força pessoal, foi o único juiz que falhou na sua missão e teve um fim trágico. Seu fracasso é atribuído a dois fatores: 1) Vivia pelas paixões, em vez de pelos princípios nazireus. Três mulheres filistéias o seduziram. 2) Evidentemente, suas façanhas libidinosas o fizeram perder de vista sua missão real para com o Senhor. Embora pela fé tenha fechado "bocas de leões" (Hb 11:32-33), ele só atacou os filisteus quando estes interferiram nos seus prazeres sexuais.

Capitulo 17-21
            O conteúdo desta seção final do livro de Juízes difere do resto do livro, em caráter. Não existe qualquer sugestão a um domínio estrangeiro, a não ser por inferência de que a migração danita (Jz 18:1) estava ligada à opressão filistéia; nenhum juiz surge em cena. O comentário editorial, freqüentemente repetido nas seções anteriores, que os israelitas faziam o que parecia mau aos olhos do Senhor, está faltando aqui, mas é substituído pela observação de que "naqueles dias não havia rei em Israel: cada qual fazia o que achava mais reto" (Jz 17:6); 18:1; 19:1; 21:25). Desta forma, as desordens da época são atribuídas, não tanto ao afastamento do Senhor, mas à ausência de uma autoridade centralizada, forte.
            O material destes capítulos finais, embora não constitua leitura edificante, é, porém, da maior importância. Tornamo-nos sensivelmente cônscios do baixo padrão de moral, dos conceitos religiosos degradados, e da estrutura social desordenada. Também nos chama a atenção que até mesmo durante o horror de uma guerra civil percebe-se a evidência de um espírito de compaixão para com a dizimada Benjamim, da parte das demais tribos, o que demonstra que o senso de solidariedade permanecera.

Samuel (1070-1020 a.C.) – Estudaremos mais a frente.

INTRODUÇÃO AO LIVRO DE RUTE
1. Título
            O nome "Rute[19]" significa "amizade", uma característica verdadeira daquela que deu nome ao livro. É um dos seis livros históricos que levam o nome das principais figuras de ação e vida descritas neles (Josué, Rute, Samuel, Esdras, Neemias e Éster). É um dos dois livros bíblicos que levam o nome de uma mulher:
1.    Rute, a gentia que se casou com um rico judeu de linhagem real da promessa.
2.    Éster, a judia que se casou com um rei gentio.

2. Data
O livro foi escrito aproximadamente no ano 1000 a.C.

3. Autor
            Samuel, provável autor de Juízes, pode também ter escrito Rute. Muitos classificam esse livro como um terceiro apêndice a Juízes 1-16, que proporciona um agradável lenitivo de fé e amor numa época de infidelidade, idolatria e violência. Como a genealogia do capítulo 4 vai até Davi, mas não até Salomão, o livro foi provavelmente escrito depois de Davi ser ungido rei, mas antes de ele subir ao trono, ou antes de Salomão. Samuel ainda vivia, e é ele o escritor mais provável do livro, na época em que os pais de Davi encontravam-se em Moabe.



4. Cenário histórico
1.    O livro começa com a circunstância não muito comum de que havia fome em Belém (cujo nome significa "casa de pão"). Assim como aconteceu com José no Egito, o Senhor usou a fome para trazer salvação e benção espiritual através dos fiéis.
2.    A história apresenta a característica irônica de uma mulher virtuosa, que veio de um povo nascido de incesto (Ló e sua filha). Os moabitas, ancestrais de Rute, tinham atraído Israel para a idolatria e a imoralidade (Gênesis 19:37; Números 25:1), mas agora ela estava influenciando Israel com o seu amor e virtude.

5. Objetivo do Livro de Rute
            O objetivo desse livro parece ser duplo: 1) Retratar o ânimo religioso e o amor de duas mulheres de países diferentes numa época de rivalidade inter-racial, violência e idolatria. 2) Lembrar a relação genealógica de Davi com Moabe, talvez durante a estada do salmista com os seus pais moabitas. Incidentalmente mostra a linhagem marcadamente gentia na linha genealógica do Messias, vindo através de Raabe, a Cananéia, e Rute, a moabita, pelo lado materno.

6. Contribuições do Livro de Rute
1.    Livro que honra as mulheres – Dois livros do Antigo Testamento têm nome de mulher: Rute, no início da história de Israel em Canaã, e Éster, no término da história de Israel do Antigo Testamento. Rute foi uma das mulheres mais preeminentes no período inicial dos juízes. Outras foram Débora, Jael – uma mulher anônima que assassinou Abimeleque, o rei usurpador – a filha de Jefté e a mãe de Sansão. No livro de Rute, a simpatia de Noemi em difíceis provações traz sua nora para o Deus de Israel. O amor de Rute transcede laços raciais, e as duas virtuosas mulheres cumprem a lei dos judeus. Assim fazendo, contribuem para o nascimento de Davi, o grande rei e salmista.
2.    Fé gentia no Antigo Testamento (1:16) – A declaração de fé realizada por Rute é um clássico do Antigo Testamento: "O teu povo é o meu povo, o teu Deus é o meu Deus". Embora não seja a primeira conversão de gentios registrada no Antigo Testamento, a conversão de Rute é a mais detalhada e famosa. Apresenta também um contraste interessante com a conversão de sua segunda sogra, Raabe. Enquanto a de Raabe é apresentada como uma reação ao medo do julgamento que viria, a de Rute é uma reação ao amor (Js 2:9-13; Rt 1:16). O Senhor usa tanto o amor como o medo para ativar a fé no Antigo e Novo Testamento. É importante lembrarmos que o medo e o amor fizeram com que elas reconhecessem Javé ou Jeová como único "Deus verdadeiro".

7. RUTE: Meditação de Israel para o Pentecoste
      Esse livro era lido anualmente pela nação, em público, quando se reuniam para a festa de verão do Pentecoste. A colheita lembrava-os da colheita anterior de cevada dada por Deus e da recompensa do culto de amor que ainda viria. Do mesmo modo que o Pentecoste comemorava a primeira safra, a leitura de Rute recordava a colheita das primícias dos gentios. Lembramos, também, que o Pentecoste do Novo Testamento comemora as primícias da colheita divina na Igreja, sendo gentios muitos desses novos crentes.

8. Cristologia em Rute
      Há duas referências básicas a Cristo no livro de Rute, ambas relativas a Boaz:
a)    Deduz-se que Boaz seja um tipo de Cristo como um parente redentor, qualificado e disposto a redimir o seu povo. É esse um aspecto da obra de Cristo, ilustrado aqui e em nenhum outro lugar da Bíblia (embora Jeremias 32:6-25 use-o para outro objetivo). A expressão "resgatar" é usada seis vezes em Rute. Como Redentor do crente, Cristo torna-se o seu Resgatador para pagar todas as dívidas, seu Vingador para defende-lo de todos os adversários, seu Mediador para conseguir reconciliação e seu Noivo para união e comunhão perpétua.
b)    O nome de Boaz está registrado em todas as genealogias de Jesus, mas somente em Mt 1:5 Rute também é mencionada. Nesta genealogia Mateus menciona de propósito o nome de Rute e de três outras mulheres estrangeiras. O ponto cristológico parece ter o objetivo de enfatizar a ampla genealogia internacional do Messias que viria trazer salvação para todas as nações. Ele não veio como um simples "Salvador" local.

9. Visão panorâmica da história de Rute
Esta história é como uma flor abrindo no deserto árido, como uma estrela em meio à escuridão, sim, o Livro de Rute nos traz uma história encantadora. Esta é uma história de amor que acontece no período abrangido pelo Livro dos Juízes – uma época trágica. Todavia, este episódio, centrado em Noemi, Rute e Boaz, é tão tocante e belo que surge como um contraste redentor em meio à decadência moral e religiosa em que vivia Israel no período dos juízes.
O Livro dos Juizes deixa-nos com a certeza indiscutível de que a condição geral da época era de deterioração moral; mas o Livro de Rute focaliza outro aspecto do quadro, mostrando que em meio à corrupção generalizada havia exemplos de amor nobre, cortesia piedosa e ideal elevados. Esta história é realmente uma estrela brilhante num céu escuro, uma rosa se abrindo gloriosamente no deserto árido, uma jóia de grande pureza faiscando entre ruínas.
Trata-se de uma história de amor passada num cenário rural, mostrando a nobre dedicação de uma jovem viúva moabita por sua sogra judia, também viúva, e a recompensa que mais tarde coroou sua devoção e auto-sacrifício.
. Rute renuncia seus próprios interesses (Rt 1:16, 17)
            Em algum ponto no período dos juízes sobreveio uma fome em Canaã que se fez sentir até mesmo nos distritos férteis, como aquele que circundava Belém. Em vista das dificuldades, Elimeleque, um judeu que habitava em Belém, procurou refúgio temporário na terra de Moabe, levando consigo sua mulher Noemi e seus dois filhos, Malom e Quiliom.
Chegaram a Moabe; contudo, não foram felizes, pois ao buscarem a sobrevivência, foram privados da própria vida. Buscaram pão, mas encontraram túmulos. Elimeleque morreu primeiro. Seus filhos órfãos casaram-se então com mulheres moabitas (algo proibido Dt 7:3) e, pouco mais tarde, eles também se achavam enterrados no solo de Moabe, deixando suas duas jovens viúvas com a mãe Noemi, também viúva.
Dez anos se passaram. Noemi ouve falar da fartura da terra natal e resolve voltar. As duas noras haviam aprendido a amá-la e resolvem segui-la. Elas ficaram conhecendo o Deus verdadeiro na casa de Noemi e desejavam servi-lo junto com Noemi.
A fim de apreciar o significado do amor sacrificial de Rute, neste ponto, precisamos ter uma idéia da importância da insistência de Noemi para que as duas jovens voltassem à proteção da casa de seus próprios pais. Veja os versículos 8 e 9: "Ide, voltai cada uma à casa de sua mãe; e o Senhor use convosco de benevolência, como vós usaste com os que morreram, e comigo. O Senhor vos dê que sejais felizes, cada uma em casa de seu marido".
Note a palavra "felizes" ou "descanso": o termo hebraico assim traduzido é menuchah. Ele significa repouso, não tanto no sentido comum, mas no de abrigo seguro. Os hebreus referiam-se à casa do marido usando essa palavra. Ela (a casa do marido) era o menuchah da mulher, ou refúgio seguro. No oriente antigo, a situação das mulheres solteiras e jovens viúvas era delicada. O único lugar onde podiam encontrar segurança e respeito era na casa do marido. Só isto podia garantir à mulher proteção contra a servidão, a negligência ou a licenciosidade.
Era este fato que Noemi tinha em mente quando insistiu na volta de Orfa e Rute, pois queria que buscassem segurança, respeito e honra na casa de seus pais. Noemi não tem mais filhos para que se casem com Orfa e Rute, como lhes diz com tristeza. Se a acompanharem de volta em Israel não há qualquer expectativa de futuro ou de segurança para elas. Se continuarem em Moabe há uma boa possibilidade de encontrarem proteção na casa de um marido. Isso, porém, não acontecerá se viajarem para Canaã, pois é proibido por lei aos israelitas contraírem matrimonio com estrangeiros.
Diante tal realidade e expectativa de vida Orfa resolveu voltar para a casa de seus pais. Veja porém o amor glorioso de Rute. Embora conhecesse perfeitamente o preço a ser pago, ela desistiu alegremente de tudo e se dispôs a sofrer qualquer coisa por causa de Noemi!
Jesus renunciou tudo. Renunciou seu poder, sua glória, sua própria vontade. Jesus renuncio a tudo por amor a você. "Porque eu desci do céu não para fazer a minha própria vontade; e, sim, a vontade daquele que me enviou".(Jo 6:38)
 Para seguirmos a Cristo também precisamos renunciar a tudo, deixar de viver uma vida depravada, deixar de lado os vícios, jogos de azar, discotecas e muitas vezes precisamos renunciar a própria família, emprego, ou ainda a própria vida. Diante tais situações nós agiremos como Orfa ou Rute.
. Rute serve em humildade (Rt 2:1-3)
O capítulo 2 introduz a cena 2, que é de uma beleza tocante. Noemi, em sua completa pobreza, tem de permitir que Rute vá colher os restos da colheita entre respigadores rudes, a fim de levar para casa algum alimento. Rute vai para os campos, cheia de desprendimentos, desejosa de fazer esse humilhante, mas honesto esforço para obter sustento.
Jo 13:1-15 – Jesus lava os pés de seus discípulos.
Precisamos pegar a toalha e lavar os pés uns dos outros. Precisamos aprender a servir com humildade, não com sórdida ganância, não com inveja, não com hipocrisia, não com soberba, não com falsidade, mas somente com humildade. O amor virtuoso é humildade.
. Rute é recompensada (Rt 3:6-18)
Quando Rute disse: "... estende a tua capa sobre a tua serva" (v.9), Boaz compreendeu perfeitamente o apelo da jovem viúva, pedindo sua proteção, pois nos casamentos orientais da antiguidade o marido colocava seu manto sobre a cabeça da noiva como um símbolo de proteção permanente dali por diante.
A palavra "resgatador", em hebraico, é Goel; e a lei do goel, parente próximo, é muito interessante. Esta lei é estabelecida em Levítico 25, Números 35 e Deuteronômio 19 e 25. Havia três obrigações que o goel precisava cumprir:
1 – Remir o irmão e a herança do irmão, segundo sua possibilidade, caso a pobreza tivesse obrigado o irmão a servir como escravo ou dispor de sua terra.
2 – Vingar qualquer violência fatal cometida contra o irmão.
3 – Conseguir um sucessor para o irmão, caso ele tivesse morrido sem deixar filhos.
            O propósito claro em tudo isso era preservar as famílias israelitas da extinção. A qualificação do goel era que deveria ser um parente consangüíneo ou parente próximo. Cada parente era um dos goelim, mas o parente mais próximo era distintamente o goel.
            (Capítulo 4:13-17) Rute era muito mais preciosa para Boaz do que a terra. Ela se tornou sua esposa. Através de Boaz, Rute veio a ser mãe de um filho que, por sua vez, foi o pai de Jessé, sendo este o pai de Davi, o maior rei de Israel.
            Jesus foi recompensado recebeu do Pai um nome maravilhoso, foi coroado pelo Pai, Seu trono foi colocado acima de todo principado, e potestade, e poder, e domínio, e de todo nome que se possa referir, não só no presente século, mas também no vindouro (Ef 1:21).
Esta história, que começou com fome, morte e luto, termina com plenitude, nova vida e júbilo. O choro durou uma noite, mas a alegria veio com a manhã. O triste início deu lugar a um fim doce e belo. O amor que é "longânimo e bondoso" jamais deixa de ter sua recompensa no final. O amor virtuoso será recompensado pelo nosso Deus, com nova vida, com alegria.
. Aspectos tipológicos – Uma leitura cuidadosa deste Livro de Rute parece mostrar que existe um significado tipológico latente e oculto desenvolvendo-se de acordo com desenrolar da história. Os próprios nomes que ocorrem aqui nos indicam isso, e, uma vez descoberta a pista, podemos segui-la sem hesitar.
A história começa em Belém, cujo nome significa "Casa do Pão" (beyth = casa; lechem = pão). A primeira figura mencionada é Elimeleque, cujo nome significa "meu Deus é Rei" ou "meu Deus é meu Rei" (Eli = meu Deus; meleque = rei). Este israelita, junto com sua mulher Noemi[20], cujo nome significa "prazer" ou "favor", deixa Belém, na terra de Israel, por causa da fome, e busca socorro na terra estrangeira de Moabe. Os nomes de seus dois filhos, que levam em sua companhia, são Malom[21] (alegria ou canção) e Quiliom[22] (ornamento ou perfeição). Sob provação, eles se esquecem do lugar da aliança e recorrem a um expediente que envolve transigência. Em Moabe, Elimeleque (meu Deus é meu rei) morre; o mesmo acontece com Malom (canção) e Quiliom (perfeição). Depois de dez trágicos anos, Noemi, a remanescente comovente, volta; mas em vez de continuar sendo Noemi (prazer, doçura, favor), ela passa a ser Mara (amargura), por sua própria palavra.
Se este não é um tipo surpreendente de Israel, estamos muito enganados. Israel, como originalmente constituído em Canaã, era uma teocracia. Deus era o rei de Israel.
Israel era Elimeleque – e podia dizer "meu Deus é meu rei". Israel estava caso, por assim dizer, com Noemi – prazer, favor e bênção; e os filhos de Israel eram Malom e Quiliom – canção e perfeição. Mas ao ser provado, Israel cedeu e desviou-se, deixando a anterior lealdade ao Senhor.
Elimeleque morre – Israel não vivia mais em obediência a Deus. Deus não era mais o rei de Israel. Com isso morreu também Malom e Quiliom – a canção de louvor e o ornamento de santidade piedosa partiram de vez. Noemi que significava o favorecimento, o prazer de Deus – se torna uma remanescente triste, vazia e amargurada.
A partir da volta de Noemi, porém, Rute ("graciosa") assume o lugar de destaque; e ela é um tipo da IGREJA. O tipo é composto de três cenas: (1) Rute no campo a colheita; (2) Rute na eira; e (3) Rute na casa de Boaz.
            1o – Vemos Rute que rebusca no campo da colheita: estrangeira, pobre e destituída, não tendo parte nem porção em Israel ou não promessa da aliança. Ela busca, todavia refúgio sob a proteção do Senhor, Deus de Israel, e suplica piedade junto ao bondoso e rico Boaz. O nome Boaz significa "há força nele"; e certamente Boaz, o forte, o rico, o nobre, o generoso, é aqui um tipo de Cristo, enquanto olha para a gentia Rute com favor benevolente e terno amor por ela.
            2o – Vemos Rute que, não tendo esperança em ninguém mais além de Boaz, vai para a eira, apostando tudo, crendo na bondade dele, arriscando tudo em função da honra, bondade e poder remidor de Boaz; achegando-se a ele, pobre e sozinha, mas em amor, porque primeira foi amada; deitando aos seus pés, suplicando o abrigo de seu nome, pedindo a proteção de seu braço, buscando a provisão que só seu amor podia dar e descobrindo nele mais do que a esperança ousara esperar.
            3o – Vemos Rute que, tendo sido graciosamente recebida pelo Boaz resgatador, une-se a ele como esposa e compartilha da vida dele, de seu lar e de toda sua riqueza e suas alegrias.

Não é preciso uma percepção muito aguçada para deduzir de tudo isto uma belíssima coerência de ensino de tipos relativos a Cristo e à Igreja. Talvez haja maior ênfase sobre Rute; todavia os paralelos tipológicos acham-se perfeitamente definidos no caso de Boaz. Ao agir como resgatador, ele deve ter o direito de resgatar, o poder para resgatar e a vontade de resgatar. Cristo, como nosso "Goel", ou Parente-resgatador, tem o direito por ser nosso verdadeiro Parente, o poder por ser Filho de Deus, e a disposição graciosa. Nosso Boaz espiritual não remiu para nós apenas o estado perdido por Elimeleque – um bem terreno; Ele fez de nós Sua noiva, a fim de compartilharmos para sempre com Ele de Sua vida, Seu lar, Sua riqueza e Suas alegrias eternas. Gozamos nele mais bênçãos do que as que nosso pai Adão perdeu, privando-nos delas!


INTRODUÇÃO AOS LIVROS DE SAMUEL
1. Titulo
Estes livros tomaram esse nome devido à primeira figura humana de destaque neles, Samuel, palavra que significa "nome de Deus" ou possivelmente uma abreviatura de "pedido a Deus". Originalmente, no cânon hebraico, os dois livros formavam um só volume, "O Livro de Samuel", mas foram divididos em dois pelos tradutores gregos (Septuaginta).

2. Autor
Estes livros, como a maioria dos livros históricos, são anônimos. O profeta Samuel é geralmente considerado o autor de 1 Samuel 1-24, e Natã e Gade os autores da parte restante. As descrições detalhadas e a minúcia sugerem que os autores foram testemunhas oculares dos acontecimentos. Segundo observações do próprio Talmude Hebraico, a declaração de 1 Crônicas 29:29 fornece provavelmente os melhores indícios de autoria desses livros: são "o livro de Samuel, o vidente", "o livro de Natã, o profeta", e "o livro de Gade, o vidente".

3. Datas envolvidas – 1100 a 970 a.C., aproximadamente
            . Os acontecimentos relatados nos dois livros cobrem o período do nascimento de Samuel até o fim do reinado de Davi. Supondo que Samuel tivesse 30 anos aproximadamente quando começou a sua liderança em 1070 (cinco anos após a morte de Eli), ele deve ter nascido em 1100 a.C., aproximadamente. Visto que o reinado de Davi estendeu-se de 1010 a 970, o período de tempo para os livros de Samuel é de cerca de 130 anos[23] (Veja a nota de rodapé de nº 24).
            . Antes da magistratura de Samuel, diversos juízes governaram Israel. Sansão a sudoeste governou Judá e Dã; Jefté governou Manasses e Efraim oriental; Ibsão, Elom e Abdom julgaram outras partes de Israel, enquanto Samuel crescia em Silo.
            . O livro foi escrito aproximadamente no ano 930 a.C.

4. Estado religioso em que se achava a nação
            O período começou com a idolatria e a imoralidade ainda predominando em Israel (1 Sm 7:3). Embora Eli fosse fiel como sacerdote, ele deixou de honrar a Deus por não disciplinar os seus filhos (1 Sm 2:29) que serviam no tabernáculo de Silo com flagrante imoralidade e cobiça. Por esse motivo o Senhor proferiu julgamento contra a casa de Eli, dizendo que seria afastada do sacerdócio (1 Sm 2:33). Esse estado de religião superficial e de práticas imorais era evidentemente comum em todo Israel e fez com que o Senhor, para disciplinar o seu povo, permitisse a invasão dos filisteus.

5. Estado político da União
            1. Divisões internas. No começo do século 11 a.C. o fraco estado espiritual de Israel combinava com o seu fraco estado político. Foi uma época de lideranças dividas e anarquia geral. Desde a morte de Josué, a nação vinha sem liderança central, mas nas emergências as tribos eram julgadas por juízes indicados por Deus e, às vezes, por governantes sacerdotes (Finéias e Eli).
            2. Opressões externas. Os filisteus do sudoeste fizeram nessa época a maior oposição externa a Israel, embora Israel fosse também atacada esporadicamente pelos seus vizinhos consaguineos que lhe ficavam a leste, e pela Síria ao norte. Os filisteus tomaram-lhe não somente a arca; toda a Jordânia ocidental foi várias vezes quase tomada por eles. Muitas campanhas de guerra foram empreendidas contra os filisteus no século onze.
            3. Sob o reinado de Davi, os problemas de anarquia interna e opressão externa foram resolvidos aos poucos. A partir de um grupo de tribos rivais, a nação tornou-se uma força política unida e respeitada por todas as nações da região. Sob a liderança do salmista os filisteus foram expulsos; Edom, Moabe, Amom e Síria tornaram-se vassalos de Israel, e concluiu-se um tratado de paz com a Fenícia.

6. Objetivo dos Livros de Samuel
            O objetivo dos livros de Samuel é apresentar a história do desenvolvimento de Israel desde um estado de anarquia até um estado de monarquia teocrática. Dá uma descrição religiosa de unificação e crescimento nacional por esforço e liderança humanos, bem como o grande poder e prestígio de uma nação fundada em princípios teocráticos sob um rei indicado por Deus. O motivo dominante é a glória e o poder de uma nação que corresponde ao Senhor soberano.

1 SAMUEL
. O primeiro livro de Samuel se inicia com o nascimento de Samuel, o último dos juízes, e termina com a morte de Saul, o primeiro rei, abrangendo um período de cerca de 115 anos[24] (segundo o comentário de "Introdução ao Primeiro Livro de Samuel" da Bíblia Anotada).
. Três personagens se destacam neste livro: Samuel (1-7); Saul (8-15); Davi (16-31). Como é natural, os três registros se sobrepõem. Samuel vive bastante tempo durante o reino de Saul e vê também Davi ganhar proeminência, enquanto Saul continua a reinar até Davi chegar aos trinta anos de idade.

Aspecto central e mensagem de 1 Samuel
            Este é o livro da transição da teocracia para a monarquia.
            Esta é a mensagem central de 1 Samuel para nós: aumento de problemas por escolherem o caminho aparentemente mais fácil, mas inferior, da sabedoria humana, em vez do caminho de Deus – por escolherem menos do que o melhor de Deus.
            Lembre-se Deus era o Rei de Israel, o povo preferiu o rei humano visível, como acontecia com as nações vizinhas (cap. 8).

Samuel
            Poucos se igualam a Samuel em termos de caráter, e como agente no desenvolvimento inicial da nação só Moisés pode ser comparado a ele. O ministério de Samuel marca a instituição da monarquia. A partir de agora veremos Israel sob o governo de reis.
Além disso, o aparecimento de Samuel assinala a instituição do cargo de profeta. Havia alguns homens em Israel, mesmo antes do tempo de Samuel, sobre quem o manto da profecia havia caído (Nm 11:25; Jz 6:8). O próprio Moisés é chamado de profeta (Dt 18:18). Mas não havia um oficio profético organizado. Samuel fundou as escolas de profetas e deu origem à ordem profética. Num sentido muito real, portanto, ele é "o primeiro dos profetas", e tal distinção está no Novo Testamento, conforme mostram os seguintes versículos:

"E todos os profetas, a começar com Samuel, assim como todos quantos depois falaram, também anunciaram estes dias" (At 3:24).
"Depois disto lhes deu (Deus) juízes até o profeta Samuel" (At 13:20).
"E que mais direi ainda? Certamente me faltará o tempo necessário para referir o que há a respeito de Gideão... de Samuel e dos profetas" (Hb 11:32).

Samuel é, pois, uma figura marcante. Ele termina o período dos juízes, encabeça a ordem dos profetas, dá origem ao primeiro grande movimento educacional na nação; coloca o primeiro rei de Israel no trono e, mais tarde, unge Davi, o maior de todos os reis de Israel.

Sua obra educacional
Samuel dedicou-se à tarefa de dar à nação cultura mental e um governo ordeiro. Estas eram as necessidades mais urgentes. A base de toda a sua reforma foi a restauração da vida moral e religiosa do povo. É preciso começar sempre nesse ponto. Além do mais, Samuel era demasiadamen te sábio para confiar apenas em sua influência pessoal. Muitos homens de grande influência em sua época nada deixaram de duradouro. Se Israel tivesse que ser salvo, seria através de instituições que exercessem pressão contínua, empurrando o povo para cima, para um nível superior. O meio que ele empregou para este crescimento interno da nação foi a fundação de escolas. Estas, além de elevar Israel a um nível mental mais alto, auxiliaram na adoração do Senhor, ao transmitir idéias verdadeiras sobre a natureza divina. 

A transição dos juízes para os reis
O pedido
            A mudança aconteceu devido à insistência do próprio povo, como vemos no capitulo 8, que marca o ponto critico. (Ler os versículos 4 e 5).
            Não se tratava de um impulso momentâneo, mas sim do resultado de deliberação e conferência prévias, pois os anciãos foram a Ramá com o propósito de apresentar o assunto ao profeta. Sem dúvida alguma, eles se reuniram e consideraram a questão muito bem, antes de darem um passo com tanta resolução".
            Sua aproximação de Samuel foi marcada pelo respeito. Eles não estavam descontentes com o profeta em si; mas em vista de sua idade avançada e do comportamento insatisfatório dos filhos dele, queriam insistir que o governo passasse a ser uma monarquia, enquanto Samuel ainda se achava entre eles e com a aprovação de sua autoridade.
            Os anciãos realizaram uma reunião de comissão e não de oração! Agora estavam determinados a dar um passo para trás, em vez de avançar com Deus. Quantas vezes a incredulidade é revestida com a sabedoria corporativa das comissões!

A resposta
            Devemos notar portanto três coisas sobre esta exigência de um rei:
Primeira, sua razão externa era a depravação dos filhos de Samuel.
Segunda, o motivo interior era que o povo fosse como as outras nações.
Terceira, o significado mais profundo era que Israel rejeitara a teocracia, sendo esta a questão mais séria de todas, enfatizada na resposta divina: "Pois não te rejeitaram a ti, mas a MIM, para eu não reinar sobre eles".

SAUL, o primeiro rei de Israel
Saul, o primeiro rei de Israel, é uma das figuras mais notáveis e trágicas do Antigo Testamento. Saul começou a reinar com grande firmeza, mas em breve decaiu, decepcionando a todos, e terminou de maneira tão lamentável que o processo de decadência que o arruinou se torna monumental para todos que prestam atenção. Notemos as três fases principais de sua carreira:
1. O início promissor (9-12): Jamais um jovem mostrou-se tão promissor ou teve possibilidade tão brilhante em sua juventude. Para começar, ele se distinguia por uma superioridade física surpreendente. Saul é descrito como "moço, e tão belo que entre os filhos de Israel não havia outro mais belo do que ele; desde os ombros para cima sobressaía a todo o povo" (9:2).
Em segundo lugar, o jovem Saul demonstrava certas qualidades de caráter altamente recomendáveis. Lemos sobre sua modéstia (9:21; 10:22), discrição (10:27) e espírito generoso (11:13). Havia também outras excelentes qualidades – o respeito pelo pai (9:5), sua valentia e bravura (11:6, 11), sua capacidade para amar intensamente (16:21), sua oposição enérgica a males como o espiritismo (28:3) e sua evidente pureza moral nas relações sociais.
Em terceiro lugar, Deus lhe dera instrumentos especiais quando ele se tornou rei. Lemos: "Deus lhe mudou o coração", de modo que passou a ser "outro homem" (10:6,9). Outrossim, "o Espírito de Deus se apossou de Saul, e ele profetizou" (10:10). Essas expressões indicam que Saul sofreu uma renovação interior e se achava sob a orientação especial do Espírito Santo. Saul tinha também um conselheiro de confiança junto de si, o inspirado Samuel.
Este era o jovem e promissor Saul. Extraordinariamente rico em talentos naturais e preparado de modo especial por meio de dons sobrenaturais, seu futuro parecia de fato brilhante. O chamado para ser rei foi uma oportunidade ímpar, dada a um homem em um milhão. Quanta chance para uma gloriosa colaboração com Deus! Que oportunidade para abençoar os homens! Sua ascensão ao trono de Israel sem dúvida foi uma manhã de promessas.
2. A decadência posterior (13-27): A promessa inicial de Saul infelizmente provou ser uma alvorada logo encoberta por nuvens sombrias. Apostasia, decadência, degeneração, desastre – esta é a escala funesta e decrescente que logo se estabelece, até que este herói-gigante morre de modo ignóbil, cometendo suicídio devido à sua pertubação mental.
A primeira apostasia ocorreu logo no início. Veja o capítulo 13. Tratava-se de um ato de orgulho irreverente. Os filisteus estavam prontos para pelejar contra Israel. Saul recebeu ordens para aguardar Samuel em Gilgal. Quando parecia que o profeta não viria antes de expirar o prazo combinado, Saul, impaciente, violou a prerrogativa do sacerdote e insensatamente ousou oferecer ao Senhor, com suas próprias mãos, os sacrifícios pré-estabelecidos. Podemos aceitar a impaciência de Saul, mas não sua violação a lei de Deus. Saul usurpou o lugar do sacerdote, por ser rei achou que poderia exercer o oficio do sacerdote. Samuel repreendeu-o: "Procedeste nesciamente em não guardar o mandamento que o Senhor teu Deus te ordenou".
A próxima falha vem a seguir. Veja o capitulo 14. Foi um ato de obstinação temerária.  Mais uma vez Saul se impacienta e não aguarda uma resposta de Deus, e, age imprudentemente após Jônatas ter provocado a ira dos filisteus,e coloca todos os seus homens em pecado ao sentenciar uma ordem para que ninguém se alimentasse naquele dia.
No capitulo 15 surge uma falha ainda mais grave. É uma mistura de desobediência e engano, uma manifestação de que Saul se achava agora um "rei" diante de Deus e não mais um servo. Saul já não se preocupava em agradar a Deus, mas ao povo e a si mesmo. Saul recebeu um governo teocrático, onde Deus reinaria através de sua vida, contudo Saul decidiu reinar sozinho. Saul recebe uma ordem para destruir completamente os amalequitas, mas poupa o rei e a melhor parte do gado. A seguir mente a Samuel, culpando o povo pelos despojos. A reprovação de Samuel começa assim: "Poventura, sendo tu pequeno ao teus olhos..." A humildade fora infelizmente substituída pela arrogância.
A partir deste ponto a decadência se acelera. "Tendo-se retirado de Saul o Espírito do Senhor" (16:14). 
3. O fracasso final (28-31): Sua carreira em declínio finalmente o leva a feiticeira de En-Dor. Este destroço de homem, que antes gozara do conselho direto do céu, trata agora com o submundo. Feitiçaria e suicídio! Saul não existe mais. Jaz morto, juntamente com o bondoso Jônatas. Como os poderosos caem! Como esse filho da manhã foi levado à ruína? Sim, Saul – você que teve um início promissor, mas depois veio a decair e se destruiu, você procedeu definitivamente "como um louco"(26:21)!
Os dois pecados principais de Saul foram a arrogância e a desobediência a Deus. Por trás de ambas jazia a vontade própria impulsiva, indisciplinada. Saul vivia no culto ao "eu". Buscava satisfazer sua vontade, se auto-afirmar e conseguiu se auto-destruir.

2 SAMUEL
 Da idade de trinta anos era Davi quando começou a reinar; e reinou quarenta anos. Em Hebrom reinou sobre Judá sete anos e seis meses; em Jerusalém reinou trinta e três anos sobre todo o Israel e Judá. Assim, isto sempre nos ajudará a nos lembrarmos de 2 Samuel: é o livro dos quarenta anos do reinado de Davi.
Como já foi mencionado, 1 e 2 Samuel eram originalmente um único livro, tendo sido a atual divisão estabelecida na Septuaginta.
O reinado memorável de Davi é destacado e apresentado como objeto de grande relevância, merecendo um estudo especial. Uma vez que Davi foi o verdadeiro fundador da monarquia, o reorganizador da adoração religiosa de Israel, o herói proeminente, o rei e poeta de seu povo, e como sua dinastia continuou no trono de Judá até o cativeiro, assim como o Messias prometido deveria ser da linhagem davídica, não é surpreendente que lhe fosse conferida tanta relevância.

A divisão trágica
Este segundo Livro de Samuel está dividido em duas partes principais. O grande pecado de Davi, registrado no capitulo 11, marca a triste divisão, bem na metade do livro e dos 40 anos do reinado de Davi. Até esse ponto, tudo é triunfo para Davi; mas, depois, há problemas e dificuldades sombrias, golpes dolorosos e provações trágicas. Na primeira parte cantamos as vitórias de Davi e, na segunda, lamentamos os males que o acometem.

A mensagem espiritual central
            O livro de 2 Samuel enfatiza que todo pecado, do rei ou do individuo comum, dos homens de posição superior ou inferior, dos piedosos ou dos incrédulos, produz certamente fruto amargo. Não existe pecado sem sofrimento. Isto se aplica especialmente à concupiscência dos olhos e ao pecado sexual, que foi a razão da ruína de Davi.

Davi em Hebrom
            Perguntamos: Por que Abner e Israel a principio rejeitaram Davi? Uma razão pode ter sido um temor ciumento da parte de Abner, receoso de não conseguir manter sua posição de suprema liderança sob um rei como Davi, que já tinha os seus próprios "valentes" de renome ao seu redor.
            Mas pode ter havido outra razão para Israel rejeitar o novo rei: a confiança em Davi tinha se abalado por causa de sua recente estadia entre os principais inimigos da nação, os filisteus, a fim de escapar de Saul.
É louvável o comportamento adotado por Davi perante a delicada situação criada pela rejeição de Israel. Ele não tentou subir ao trono mediante o poder de seu exército. Davi sabia que Deus o indicara para o trono, e sua experiência com Ele durante a disciplina dos anos precedentes lhe ensinara a esperar pelo tempo de Deus. O Senhor não havia falhado. Davi não agiria sem orientação divina(2:1).
"Somos do mesmo povo de que tu és. Outrora, sendo Saul ainda rei sobre nós, eras tu que fazias entradas e saídas militares com Israel; também o Senhor te disse: Tu apascentarás o meu povo de Israel e serás chefe sobre Israel" (5:1,2).
Vemos que o reconhecimento do direito de Davi ao trono apoiava-se numa base tríplice:
1.    Seu parentesco humano: "Somos do mesmo povo de que tu és".
2.    Seu mérito comprovado: "Tu fazias entradas e saídas militares com Israel".
3.    Sua autorização divina: "O Senhor te disse: ...serás chefe sobre Israel".
Não é este um sermão em si mesmo, falando do direito de Cristo de reinar sobre nossas vidas? Ele é nosso parente – "osso de nossos ossos e carne da nossa carne". Ele é nosso salvador, cujo mérito já foi comprovado, que esposou nossa causa e lutou contra nosso inimigo, trazendo-nos libertação da culpa e tirania do pecado. Ele é também rei por permissão divina, o príncipe e Senhor de Seu povo, aquele a quem foi entregue toda autoridade no céu e na terra. "O governo está sobre os seus ombros" (Is 9:6). Será que cada um de nós pode dizer: "O governo de minha vida está sobre os ombros dEle"?

A aliança davídica
Vamos agora para o capitulo 7, onde passamos a conhecer a aliança davídica (ler 7:11-16).
A partir da época em que esta aliança foi anunciada, os judeus sempre creram que o Messias procederia da linhagem davídica. Eles criam nisso nos dias do Senhor e continuam crendo hoje. Os profetas confirmaram tal fato mais tarde, em passagens como Isaías 11:1; Jeremias 23:5 e Ezequiel 37:25. Foi de acordo com tais profecias que o anjo Gabriel anunciou Jesus a Maria: "Este será grande e será chamado Filho do Altíssimo; Deus, o Senhor, lhe dará o trono de Davi, seu pai; ele reinará para sempre sobre a casa de Jacó, e o seu reinado não terá fim" (Lc 1:32,33).
Nota-se muito bem que as duas alianças, a abrâmica e a davídica, são incondicionais. Isto se deve ao fato de ambas encontrarem seu cumprimento final em Cristo, pois sabemos que não pode haver falhas por parte dEle.


O grande pecado de Davi
            Com relação ao pecado de Davi devemos considerar quatro coisas:
1)    Devemos observar a vida de Davi como um todo – não é justo nem honesto enfatizar esta mancha no registro de Davi a fim de faze-lo parecer o maior fato na vida dele. Devemos ver sua fé e obediência para com Deus por vários anos, sua retidão geral e generosidade, sua conduta baseada em princípios elevados e aspirações espirituais ardentes, qualidades que o caracterizaram quase sempre em toda sua carreira.
2)    Devemos levar em consideração o arrependimento de Davi – jamais houve alguém mais abatido e envergonhado pela autocondenação e arrependimento sando do que Davi depois de seu pecado. O Salmo 51 é a expressão de sua penitência depois da visita de Nata para repreendê-lo.
3)    Devemos julgar o caráter de Davi de acordo com sua época – o evangelho cristão e a ética do Novo Testamento não haviam ainda sido entregues aos homens naquele tempo.
4)    Devemos observar a vida interior de Davi revelada nos salmos davídicos – Nos livros de Samuel e Crônicas vemos a vida exterior de Davi. Nos Salmos davídicos vemos a vida interior.
A história da vida de Davi em seu todo, apoiada pelo nobre testemunho de seus salmos, mostra decididamente que, apesar de algumas derrotas e de uma queda notória e triste, o resultado final veio a justificar o pronunciamento de que ele era um homem que agradava a Deus.

Lições notáveis com relação ao seu pecado
1)    A honestidade e a fidelidade da Bíblia – Se a tarefa de escrever a Bíblia tivesse sido deixada em mãos humanas, ela não conteria um capitulo desse tipo. A culpa de Davi é exposta sem o menor esforço para atenua-la e muito menos retira-la.  (Nota: o Talmude nega o adultério de Davi com base na idéia de que todo guerreiro tinha de se divorciar da mulher antes de partir para o campo de batalha. Bate-Seba seria então livre).
2)      A queda de Davi ocorreu quando ele se achava em conforto e ociosidade – Todos os seus inimigos haviam sido esmagados. A pressão dos perigos que o mantiveram em espírito de oração havia desaparecido. A prosperidade e o conforto são sempre perigosos, e jamais ficamos tão expostos à tentação do que quando estamos inativos.
3)    Davi dera lugar a sensualidade, convivendo com muitas mulheres (2 Sm 5:13). Não devemos dar lugar a carne (leia Dt 17:17).
4)    Se cairmos no pecado, a única medida segura é a confissão e a restituição (1 Jo 1:9).
5)    O pecado é perdoado, mas pode trazer conseqüências terríveis para nossas vidas (12:11).

"Por que fiz isso? Como pude agir desse modo? Essas podem ser as perguntas mais amargas e trágicas que homens e mulheres fazem a si mesmos. Algo feito que não pode ser desfeito, algo final e irrevogável, e o homem olha para aquilo e não pode acreditar que o tenha cometido, não pode ver-se ali e, no entanto, sabe que o praticou e que a culpa será sua para sempre".




INTRODUÇÃO AOS LIVROS DE REIS
1. Título
            Esse nome foi dado a esses livros devido às primeiras palavras com que o primeiro deles se inicia "Wehammelek" em hebraico "Sendo o rei", nome que se adapta perfeitamente ao assunto, pois os livros tratam do domínio dos reis dos dois reinos, o de Israel e o de Judá. Os hebreus consideravam-no como um livro único, pelo fato de constituírem uma história ininterrupta.

2. Autor
a)    Apesar de os livros serem anônimos, são tradicionalmente considerados como tendo sido escritos por Jeremias, auxiliado pelo seu secretário, Baruque (Jr 45). É evidente que o autor era pelo menos contemporâneo de Jeremias, e a ênfase dos livros sugere o ponto de vista dos profetas. Assim, Jeremias, o profeta que viveu na época do exílio (descrito nos capítulos finais) pode muito bem ter sido o escritor.
b)    Certamente o autor fez uso de registros históricos da época, referindo-se muitas vezes a dez ou mais desses documentos nos dois livros. Evidentemente ele teve acesso à seguinte documentação:
1)    Livro dos Justos (2 Sm 1:18);
2)    Livro dos Sucessos de Salomão (1 Rs 11:41);
3)    Livro das Crônicas dos Reis de Israel (1 Rs 14:19);
4)    Livro das Crônicas dos Reis de Judá (1 Rs 14:29);
5)    Livro de Isaías (2 Rs 18-20 refere-se a Isaias 36-39);
6)    Livro das Crônicas do Rei Davi (1 Cr 27:24);
7)    Etc.
3. Data
1)    O livro deve ter sido escrito aproximadamente por volta de 550 a.C.
2)    (970-560 a.C.) - Os acontecimentos de 1 e 2 Reis estendem-se desde a morte do rei Davi, o primeiro rei da aliança, até o cativeiro de Zedequias, último rei de Judá. No último capítulo há ainda uma referência à libertação de Joaquim, no ano 560 a.C., quando Evil-Merodaque começou a reinar na Babilônia.
3)    O período de Salomão a Zedequias é conhecido como a Era do Templo de Salomão, estendendo-se desde a construção do templo por Salomão até sua destruição por Nabucodonosor.

4. Cenário político
1)    Nacionalmente – os livros cobrem o período da maior influência política de Israel, na época de Salomão, até o completo eclipse político, quando o reinado do sul foi destruído e o povo restante foi exilado para a Babilônia. As sementes da queda foram plantadas muito antes, na severa política doméstica de Salomão, política esta responsável pela inquietação nacional. Depois da queda do reino do norte em 722, o reino do sul teve apenas períodos esporádicos de grandeza política antes da destruição, semelhante à do norte, em 586 a.C.
2)    Internacionalmente – não havia grande império mundial exercendo muita influência ou mostrando proeminência no cenário mundial no começo do período. Todavia, em conexão com o estado espiritual de Israel, os impérios começaram a demonstrar poder e proeminência quando a condição espiritual de Israel começou a deteriorar. O novo Império Assírio, por exemplo, obteve o domínio mundial um pouco antes do cativeiro do reino do norte. Um século mais tarde ergueu-se o novo Império Babilônico, justamente um pouco antes de Deus fazer o julgamento do reino do sul.

5. Cenário religioso
1)    A construção do templo de Salomão no começo do período constitui o ponto máximo da história religiosa de Israel. Salomão também instituiu um sistema de adoração altamente organizado e, no começo, inspirou forte sentimento religioso. Entretanto, o bom começo não durou muito e a idolatria inundou novamente a nação, levada pelas práticas conciliatórias de Salomão, que construiu altares para as suas esposas pagãs.
2)    A índole religiosa do período pode ser vista no caráter dos diversos reis de cada reino. Depois de Salomão, Judá teve dezenove reis e uma rainha, dos quais somente oito foram justos de acordo com o padrão divino. O reino de Israel, do norte, teve dezenove reis, mas todos eles fizeram o que era "mau" perante o Senhor. Dessa maneira, a herança religiosa de Abraão, Moisés e Davi foi com freqüência mais aparente do que real em Israel.

6. Objetivos dos Livros de Reis
O Livro tem dois objetivos claros, um literário e outro religioso.
a)    O objetivo literário – do autor era completar a história do reinado de Davi, o qual principia nos livros de Samuel escritos 400 anos antes, aproximadamente. Como o segundo Livro de Samuel terminou com Davi comprando o local do templo, 1 Reis principiou com Salomão preparando a construção do templo, e 2 Reis continua a história até a destruição do templo, terminando assim o período.
b)    O objetivo religioso – é relacionar a história à observância da aliança. O autor procura enfatizar para a nação, que marchava para o cativeiro em 586, a conexão inseparável entre obediência e bênção, e entre desobediência e maldição. Em contraste com os Livros de Crônicas, que tiveram por finalidade encorajar os humildes, os Livros de Reis dão forte ênfase à necessidade de arrependimento e resposta ao Deus da aliança, de modo que a restauração pudesse ser efetuada e cumpridos os objetivos da aliança.

7. Contribuições de 1 e 2 Reis
1)    Grandeza de Salomão (1 Reis 10:1-9) – A preeminência de Salomão consistiu na sua sabedoria, na construção do templo e no reinado de paz e esplendor. Sua sabedoria é constatada nos três livros a ele atribuído (Provérbios, Eclesiastes e Cantares); seu templo foi uma obra de arte e esplendor sem precedentes no mundo antigo; e seu reinado de paz e glória trouxe-lhe aplausos do mundo todo.
2)    Reino dividido em 931 a.C. (1 Rs 12) – Após oitenta anos de construção e estabelecimento do reino, sob Davi e Salomão, ele foi dividido definitivamente em dois reinos logo depois da morte deste último. Dez tribos reuniram-se sob Jeroboão e as duas restantes sob Roboão, com o nome de Israel e Judá. Três foram os motivos da divisão do reino de Israel: espiritual, econômico e político. A) Espiritualmente – aconteceu como o Senhor havia predito, devido a idolatria de Salomão causada por suas muitas esposas, o que em si já era violação (1 Rs 11:11). B) Economicamente – foi o resultado da tirania de Salomão e dos pesados impostos. Ele estabeleceu um trono magnífico, mas o povo estava pobre e oprimido (1 Rs 12). C) Politicamente – havia antiga rivalidade entre Judá e Efraim, a qual foi explorada por Jeroboão, que era efraimita. Essa tribo relutou muitas vezes a inclinar-se à liderança de Judá.
3)    Elias e Eliseu, profetas dos milagres (1 Rs 17; 2 Rs 9) – Elias apareceu em Israel com os seus miraculosos poderes um tanto repentinamente quando o culto a Baal foi instituído em Israel por Acabe e Jezabel. Seu único propósito era denunciar o culto a Baal e chamar atenção para o poder maior do Deus de Israel. O ministério de Eliseu, com uma porção dobrada do poder de Elias, trouxe a denúncia da idolatria a um ponto culminante pelo maior número de milagres (quatorze em vez de sete) e pela intrepidez objetiva com que desafiou muitos dos reis que seguiam a Baal. Esses operadores de milagres vieram a Israel do norte quando a nação estava a ponto de adotar a própria idolatria. Eles foram trazidos pelo Senhor a Canaã com a finalidade de destruir as práticas idólatras. O último ato de Eliseu foi ungir Jeú para destruir a casa de Acabe e todo o sistema de adoração a Baal em Israel (2 Rs 9:6-10).
4)    Reforma de Ezequias em Judá (2 Rs 18-20; 2 Cr 29-32) – O rei Ezequias foi responsável por uma das maiores reformas (avivamento) em Judá. Embora seja muito discutido o período de seu reinado parece que foi de 728-686 a.C.
5)    Destruição de Jerusalém e do Templo em 586 a.C. (2 Rs 25; 2 Cr 36) – A queda de Jerusalém e a destruição do templo foram acontecimentos que marcaram época na história de Israel. Os três desterros para a Babilônia tiveram lugar em 606 (Daniel 1:1); 597 (2 Rs 24:11) e 586 (2 Rs 25:8-11). Essa ocorrência aboliu muitos rituais e costumes que jamais foram restaurados plenamente. Tudo ocorreu devido não terem guardados os mandamentos de Deus e não terem aceito as correções dos profetas de Deus (Dt 28:58; 2 Cr 36:14 e Lv 26:14-33; 2 Cr 25:4; 36:15,16).

O PRIMEIRO LIVRO DOS REIS
            O primeiro Livro dos Reis pode ser memorizado por nós como o livro da "ruptura", indicando com isso que ele registra a divisão em dois do reino unido – sobre o qual Saul, Davi e Salomão governaram – que serão daqui por diante conhecidos como "Israel" e "Judá". O reino de Israel, compreendendo dez tribos, torna-se o reino do norte, enquanto o de Judá, abrangendo Judá e Benjamin, torna-se o reino do sul. No reino do norte (Israel), a capital passa a ser Samaria. No reino do sul (Judá), Jerusalém continua sendo a capital.
            Este primeiro Livro dos Reis dividi-se e duas partes principais tão evidentes que não precisariam ser indicadas. Há 22 capítulos. Os onze primeiros são dedicados a Salomão e seu esplendido reinado de 40 anos. Os últimos onze capítulos cobrem aproximadamente os primeiros 80 anos dos reinos de Israel e Judá depois da separação.


O rei Salomão
            Numa visão histórica, seu interesse especial está no fato de ele representar o período de maior prosperidade de Israel como reino. Seu reinado marca a época mais esplêndida e rica da história dos hebreus. Também foi o último a governar sobre o reino unido.
            Num aspecto pessoal, Salomão é sem dúvida uma figura notável, embora não seja fácil avaliar realmente seu caráter. Sua sabedoria acima do normal fez dele um prodígio para todos os povos vizinhos. Sua oração quando o templo foi dedicado revela uma elevada capacidade espiritual. Sua administração bem sucedida no governo mostra sua habilidade mental superior. No que se refere à santidade pessoal, porém, há certa hesitação, uma falta de vigor moral. Sentimos que não existe aquele esplendor de paixão altruísta que caracterizava a piedade de Davi. Apesar de Salomão jamais ter cedido à desobediência impetuosa e arrogante como fez Saul, ele não demonstrou também uma devoção fervorosa a Deus como Davi demonstrara. Se escapa parcialmente da condenação de Saul, não chega a receber a aprovação concedida a Davi.
            A ascensão de Salomão (1-2) – Salomão era muito jovem quando subiu ao trono. Ele próprio disse: "Não passo de uma criança" (3:7). Sua ascensão precoce foi precipitada por uma conspiração de Adonias, o filho mais velho de Davi, ainda vivo, e que aspirava ao trono. Adonias aparentemente julgou poder aplicar seu golpe de estado com base em três coisas: o enfraquecimento de Davi, por causa da idade, a desqualificação de Salomão, em vista de sua imaturidade, e sua própria qualificação como filho favorito de Davi e dono de uma personalidade atraente (1:6). Ele foi apoiado por Joabe, comandante do exercito, e por Abiatar, chefe dos sacerdotes, ambos provavelmente procurando servir seus próprios interesses – Joabe para se manter no comando do exercito como acontecerá com Davi, e Abiatar para expulsar seu rival, Zadoque.
O estratagema, porém, não surtiu efeito devido às providencias imediatas tomadas pelo profeta Nata. A culpa de Adonias é vista em sua confissão, ocorrida logo depois, de que ele sabia que o reino era de Salomão, da parte "do Senhor" (2:15).
A sabedoria de Salomão (3-4) – A oração de Salomão pedindo sabedoria, em vez de riqueza, poder e longevidade, é uma passagem belíssima (3:1-5). Ela revela que o jovem rei já possuía um bom grau de maturidade, pois o fato de ter pedido sabedoria acima de tudo já era um sinal de sabedoria.
A sabedoria buscada por Salomão – e que lhe foi concedida sobrenaturalmente – foi critério administrativo, julgamento perspicaz, conhecimento intelectual, aptidão para adquirir tal conhecimento, sabedoria pratica no controle dos assuntos do reino. Neste tipo de sabedoria ele ultrapassou até mesmo os renomados filósofos de sua época, como lemos em 4:29-34.
O fracasso de Salomão (11) – As seguintes frases encontradas no capítulo 11, contam a história de seu fracasso: "...amou Salomão muitas mulheres estrangeiras" (v.1); "a estas se apegou Salomão pelo amor" (v.2); "...suas mulheres lhe perverteram o coração para seguir outros deuses" (v.4); "assim fez Salomão o que era mau perante o Senhor" (v.6); "pelo que o Senhor se indignou contra Salomão" (v.9); "por isso disse o Senhor a Salomão: ... tirarei de ti este reino"(v.11). Esta infidelidade de Salomão precipitou a divisão do reino em dois.
O mais sábio dos homens tornara-se o maior dos insensatos, pois pecara contra Deus (construí templos a Camos ou Baal-Peor o ídolo de Moabe; Moloque, o deus de Amon; e a Astarote deusa dos sidônios).
Sua própria grandeza o traiu. Os tesouros, mulheres e carros eram todos contrários ao espírito e preceitos da lei (Dt 17:16,17).
Observamos em Salomão que a mais elevada dose de sabedoria humana é inferior à verdadeira piedade. "O temor do Senhor é início da sabedoria", então, com certeza, a maior sabedoria é obedecer a Deus em todas as coisas e andar diante dEle com um coração perfeito.
Se alguém poderia sentir-se satisfeito por ter obtido tudo quanto desejava, esse alguém era Salomão; todavia, ele deixou escrito que tudo sob o sol é vaidade e aflição de espírito (Eclesiaste). A vida de Salomão é a vida do "eu" em sua plenitude, que acaba se tornando triste e saturada de tudo".



O profeta Elias (17-22)
            Os seis últimos capítulos de 1 Reis ocupam-se do ministério do profeta Elias no reino do norte, o reino das dez tribos. Este espetacular homem de Deus chama nossa atenção para um bom propósito. Ele é uma das figuras mais notáveis em toda a história de Israel. Sua proeminência é vista na reforma religiosa que executou e no fato de que o Novo Testamento fala mais dele do que qualquer outro profeta do Antigo Testamento. Além disso, ele foi o escolhido para aparecer com Moisés na transfiguração do Senhor. Ademais, é a partir deste ponto que o ministério dos profetas nos dois reinos judaicos se torna mais enfático. Um dos personagens mais surpreendentes e fantásticos de Israel, Elias aparece repentinamente em cena como um profeta da crise, com trovões na voz e tempestade no olhar. Ele desaparece também de modo súbito, levado para o céu num carro de fogo. Entre a primeira e a última aparição, estende-se uma seqüência de milagres espantosos. Chamaremos atenção aqui para as três coisas: seu caráter, seu ministério e seu significado.
            Seu caráter – A grandeza do caráter de Elias é reconhecida por todos. Três qualidades destacam-se em especial: coragem, fé e zelo.
Veja a coragem. Este é o Martinho Lutero do antigo Israel, que sozinho desafiou todos os sacerdotes da religião do Estado e todos os cidadãos do reino para um teste decisivo no Monte Carmelo.
Veja também sua fé. Ela reforça a coragem. Era necessário ter muita fé para apresentar-se a Acabe e dizer: "...nem orvalho nem chuva haverá nestes anos segundo a minha palavra" (1 Rs 17:1)! A natureza por si só, pode fazer o orvalho e a chuva faltarem por dias ou semanas e, em casos bem raros, até por alguns meses;  mas para que o orvalho e a chuva sejam retidos durante anos é necessário que haja uma intervenção sobrenatural.
Veja o zelo de Elias. Ele verdadeiramente expressou sua principal paixão ao afirmar: "Tenho sido zeloso pelo Senhor, Deus dos Exércitos" (1 Rs 19:10). Quanto este filho do deserto, queimado pelo sol e inculto, pode nos ensinar sobre o zelo pela honra divina, sobre a indignação ardente diante da transigência religiosa e sobre a lealdade veemente à Palavra de Deus.
Seu ministério – O Dr. Kitto comenta: "Havia dois tipos de profeta: os de ação e os de palavras. Dentre estes últimos, o maior é, sem dúvida, Isaías. Entre os primeiros, jamais houve alguém maior do que Elias".
Elias era um profeta de ação. Segundo nos consta, ele não escreveu nada, mas isto não nos surpreende. Uma impetuosidade e um dinamismo como os de Elias dificilmente se unem à paciência de um escritor.
O ministério de Elias foi também de milagres. A todo momento encontramos milagres. Em vista disso, alguns recentes "eruditos" descartaram sumariamente esta seção das Escrituras como sendo mítica. Todavia a narrativa é tão sóbria e detalhada que, se não fossem pelos milagres, o crítico mais destrutivo jamais questionaria sua veracidade.
O ministério de Elias incluiu igualmente reforma. Ele não deu origem a nada. Contudo, protestou contra a apostasia religiosa e a degradação resultante de seu povo, chamando os homens de volta aos bons e antigos caminhos que o Deus de Israel havia lhes designado através de Moisés. Hoje, há necessidade de denúncias assim diretas, precisamos de Elias.
Seu significado – Em primeiro lugar, Elias demonstra a verdade de que Deus tem sempre um homem que se apresenta na hora exata. As coisas já estavam suficientemente negras quando Acabe começou a reinar, mas ele logo as tornou cem vezes piores (1 Rs 21:25).
A mesma coisa repete-se continuamente na história. Quando a luz da verdade evangélica parece estar a ponto de extinguir-se da cristandade, e o papado sufoca milhares de europeus sob seu manto perverso, Deus tem seus Luteros e Calvinos para chamar o continente de volta àquela fé entregue de uma vez por todas aos santos. Quando a política, a religião e a moral se tornam tão degenerativas na Inglaterra que a própria essência da nação é prejudicada, Deus tem os seus John Wycliffes, William Tyndales, Whitefields e Wesleys.
Outro aspecto que Elias ilustra é que, quando a perversidade atinge proporções extraordinárias, Deus a confronta com medidas extraordinárias. Em oposição aos milagres fictícios da falsa religião, o Senhor intervém com milagres reais. Eis a razão pela qual o ministério de Elias é de milagres. Deus está enfrentando uma situação extraordinárias com medidas extraordinárias.

O SEGUNDO LIVRO DOS REIS

·         Queda de Samaria - 722 a.C. ( 2 Rs 17)  
Os últimos trinta sombrios anos de Israel foram caracterizados por caos político, com cinco dinastias e quatro assassínios. O último rei, Oséias, foi aprisionado por Salmaneser dois anos antes do colapso da cidade, em 722. Samaria tinha sido construída por Onri, o que rei que introduziu Jezabel no cenário judaico através de um pacto de casamento, e naquela cidade ocorreu o fim do reino. A queda do reino do norte foi uma admoestação para Judá de que o Senhor não mais iria suportar idolatria em sua terra (Ezequiel 23.11).

·         Reforma de Ezequias em Judá (2 Rs 18-20 – 2 Cr 29-32)
            O rei Ezequias foi responsável por uma das maiores reformas em Judá. Todavia, a data do seu reinado tem sido muito discutida pelos cronologistas. Embora o período de 728-686 tenha sido sempre considerado, a data mais aceita atualmente é 715-686, incluindo co-regências no começo e no final do período.

·         Reformadores de Judá
            Apesar de Israel do norte ter tido somente reis maus, pelos padrões divinos, Judá teve nove reis virtuosos, de um total de dezenove. Cinco empenharam-se em reformas: Asa, Josafá, Joás, Ezequias e Josias. Dois dos reformadores, todavia, apostataram no fim dos seus dias (Asa e Joás).

·         Reforma grande, porém inútil (2 Rs 22-23; 2 Cr 34-35)
            A última reforma de Judá foi talvez a maior de todas, mas já era tarde demais. Não houve dedicação maior do que a do jovem Josias, que quase sozinho tirou a nação da idolatria e do caos político para uma época de purificação e prosperidade, como jamais a nação vira desde Samuel. É certo que foi aconselhado por profetas, tais como Jeremias e Sofonias, e pela profetisa Hulda.

·         Destruição de Jerusalém e do Templo (586 a.C.)
            2 Rs 25; 2 Cr 36 – descrevem a queda de Jerusalém e a destruição do templo. Sua queda em 9 de Agosto (Tisha B´ab), no ano 380 do templo, foi lembrada por Jeremias em suas Lamentações, e é recordada anualmente pelo povo judeu. Os três desterros para a Babilônia tiveram lugar em 606 (Daniel 1.1). 597 (2 Rs 24.11-12) e 586 (2 Rs 25.8-11). Essa ocorrência aboliu muitos rituais e costumes que jamais foram restaurados plenamente. Apesar de a cidade e o templo terem sido reconstruídos diversas vezes e o novo Israel ser então independente, nunca mais puderam usufruir desde aquela época dessas três coisas concomitantemente (liberdade – cidade – templo).
            Os motivos para a destruição e o cativeiro podem ser resumidos em três pontos:
·         Recusaram-se a guardar a Lei da Aliança e recorreram a toda idolatria e abominações dos gentios.
·         Recusaram-se a aceitar as correções dos profetas de Deus.
·         Recusaram-se a guardar os sábados de Deus e os anos sabáticos. Não guardavam o sábado nem os anos de jubileu de descanso para a terra.  Isso significa que a terra pertence ao Senhor e os israelitas seriam seus arrendatários na terra, caso guardassem os preceitos da aliança.

·         Cristologia em Reis
Os livros de Reis não tem predições messiânicas, mas o rei Salomão é um notável tipo de Cristo no papel de rei. Como o filho prometido de Davi, o qual construiria o templo e herdaria o reino, Salomão tipifica Cristo especialmente na sua vinda em glória trazendo paz, prosperidade e justiça à terra (Mt 12.42).
Os milagres realizados por Elias e Eliseu são também prefigurações do ministério profético de Cristo, confirmando sua palavra com numerosos sinais.

OS LIVROS DAS CRÔNICAS
1. Título
·         “Crônicas” é um nome cristão dado a estes livros por Jerônimo no quarto século da era cristã. É um título bem escolhido, pois sugere o propósito de fazer um registro cronológico da história sagrada.
·         Os dois livros, que forma um só volume no cânon hebraico, têm o nome de “Atos dos Dias” ou “Atos dos Tempos”. Foram colocados no final do cânon, como uma retrospectiva analítica da conduta divina para com a nação israelita.
·         Os tradutores gregos denominaram-nos “Paraleipomena” (coisas esquecidas), considerando-os um suplemento aos livros de Samuel e Reis.

2. Autor
·         Embora anônimos, esses livros são evidentemente obra de Esdras, o sacerdote, de acordo com a tradição hebraica.
·         O autor é antes um compilador. Além de usar o Pentateuco, os livros de Samuel e Reis, faz referência a aproximadamente doze outros documentos existentes naquela época (1 Cr 9.1; 29.29; 2 Cr 9.29; 12.15, etc.).

3. Período de Tempo
·         Da criação de Adão até Ciro, da Pérsia (538 a.C.).
·         O livro foi escrito evidentemente logo após a volta do exílio, a fim de proporcionar um fundo teocrático para as exortações de Esdras e Neemias. O ano de 430 a.C., aproximadamente, seria uma data provável do livro.

4. Cenário Político
·         Quando os livros de Crônicas foram compilados, Judá já não era uma monarquia, e sim apenas um pequeno grupo de exilados que tinham voltado da Babilônia sob vassalagem do império persa. Os “tempos dos gentios” (Lucas 21.24) principalmente em 606 a.C., ocasião em que Israel começou a ser governado por nações gentias.
·         Mas os judeus não deixaram de exercer influência sobre o império nessa época. Daniel chegará à posição de primeiro-ministro, tanto no Império Babilônico, de Nabucodonosor, como no Império Persa de Ciro.
·         Ester e Mordecai chegaram a ser, respectivamente, rainha e primeiro-ministro do Império Persa na época de Assuero, pai de Artaxerxes I, que reinou na época de Esdras.

5. Cenário Religioso
·         Apesar de os acontecimentos de 2 Crônicas referirem-se à Era do Templo Salomônico, foram escritos na Era do Templo de Zorobabel (536 aproximadamente).
·         Esse novo templo tinha sido concluído mais ou menos recentemente. Porém, nada mais de relevante havia acontecido. A prometida era messiânica não se tinha materializado e estabelecia-se a estagnação religiosa. A volta às áridas colinas lembrava aos judeus a sua insignificância na grande área do império persa.
·         A estagnação religiosa é evidente em todos os seis livros pós-exílio (Esdras, Neemias, Ester, Ageu, Zacarias e Malaquias). Eles estavam provavelmente esperando que o Senhor instituísse rapidamente o reino messiânico logo após o retorno deles à pátria. Porém, parecia que o Senhor os tinha desapontado.
·         Com a falta de perseverança e letargia espiritual, o povo precisava ser lembrado do programa e dos objetivos para Israel do ponto de vista divino, e de como Deus era soberano e fiel em toda a sua conduta. Esdras então compilou os livros de Crônicas coma finalidade de realçar a soberania de Deus sobre a nação e o interesse do Senhor na adoração adequada e na obediência para que as bênçãos da aliança fossem recebidas (2 Cr 7.14).

6. Objetivo dos Livros
·         Apresentar de maneira sucinta toda a história de Israel sob a perspectiva divina. A ênfase é concentrada mais nos levitas, na adoração dentro do templo, nas bênçãos do arrependimento, na soberania de Deus para restaurar o povo e cumprir as suas promessas se este povo fosse obediente.
·         Ao colocar Crônicas no fim deste cânon, Esdras tinha como propósito mostrar que Deus não desistirá de seu programa para com Israel.

7. Crônicas em contraste com Reis
·         Crônicas apresenta o ponto de vista sacerdotal, em vez do profético. Os ministérios proféticos(Elias e Eliseu) quase não são mencionados.
·         Em Crônicas, o enfoque nacional é mais em Judá do que em Israel. Apensas a linhagem real de Davi está registrada.
·         O enredo básico é mais eclesiástico do que político ou militar. O autor está mais interessado nas reformas do que em campanhas militares.
·         O objetivo de Crônicas é encorajar mais do que castigar, estimular lealdade mais do que indicar culpa. O autor procurou impressionar os hebreus que ainda restavam com a soberania de Deus e o fato de que Ele ainda restauraria a grandeza da nação, se eles correspondessem.
·         Em Crônicas não foi enfatizada a idolatria, mas sim a indiferença espiritual.

8. Crônicas um Alerta aos que Prosperam
·         Os livros de Crônicas enfatizam o perigo de deixar Deus de lado em época de prosperidade ou poder. Observa-se tal coisa no declínio de Roboão (2 Cr 12.1); Asa (16.1-2); Josafá (18.1), etc.,



OS LIVROS DE ESDRAS E DE NEEMIAS
1. Título
·         Os livros de Esdras e de Neemias eram considerados um só livro nos tempos antigos, conforme registro do Talmude, de Josefo e de Jerônimo.
·         A septuaginta também os considerava um livro único, isto é, “Esdras B”, que seguia o livro apócrifo “Esdras A”.
·         A Bíblia evangélica e a hebraica moderna dividem-nos em dois, denominando-os Esdras e Neemias em homenagem às suas figuras humanas principais.

2. Autor
·         Esdras, o sacerdote, é geralmente considerado o autor ou compilador dos quatro livros históricos desse período: 1 e Crônicas, Esdras e Neemias. Quanto a Neemias, é provável Esdras usasse as memórias de Neemias, porquanto Neemias fala na primeira pessoa de vez em quando.
·         Supondo que Esdras seja o autor-compilador, o seguinte material foi usado:
o   As Memórias de Esdras:
o   As Memórias de Neemias
o   Outros materiais.
·         As obrigações de Esdras para com os hebreus que voltaram do exílio incluíam diversas tarefas grandiosas:
·         Reinstituir o devido culto no templo reconstruído em 457 a.C.
·         Escrever ou compilar 1 e 2 Crônicas, Esdras, Neemias e Salmo 119.
·         Presidir a “Grande Sinagoga” que presumivelmente determinou e organizou o cânon hebraico das Escrituras.
·         Instituir sinagogas locais em Judá para o estudo da Tora, semelhantes àquelas fundadas na Babilônia (as quais se tornaram um lugar de reunião regular dos judeus dispersos conforme Ezequiel 20).

3. Data
·         430-425 a.C. aproximadamente.
·         Como os ministérios de Esdras e de Neemias tiveram lugar durante o reinado de Artaxerxes I (465-424 a.C.), é provável que os livros tivessem sido completados perto do fim do período, depois de Malaquias, último profeta, ter pronunciado a sentença do Senhor e feito o devido registro.

4. Período de Tempo
·         Essa história cobre um período de mais de 100 anos, desde a volta de Zorobabel, construtor do templo (537), até o último retorno de Neemias, construtor dos muros (depois de 432).
·         Na realidade foram quatro turmas que voltaram do cativeiro: a de Zorababel em 537, a de Esdras em 457, a de Neemias em 444 e a outra de Neemias em 432.

5. Cenário Político
·         Estes livros introduzem um novo período da história de Israel tanto no âmbito nacional quanto no internacional.
o   Nacional à Foi o princípio da era pós-exílio com a volta de Israel à sua terra. Os setenta anos de exílio tinham terminado.
o   Internacional à Foi o princípio da era do império persa com seu grande número de novas manobras políticas, que afetaram Israel e o mundo.
·         Para Israel o efeito mais importante dessa política era a nova prática persa da volta do exílio. Em vez de deportar e transportar o povo cativo, como faziam a Assíria e a Babilônia, mandaram-nos de volta para o solo nativo a fim de ajudarem a promover relações pacíficas com o império. Não somente libertavam-nos, como também com freqüência subsidiavam a volta para ajudá-los a se fixar e reinstituir o sistema religioso no torrão natal.
·         Ao examinar a política da época, não se deve esquecer que diversos judeus tinham alcançado altos postos no governo persa e, com toda a certeza, exerciam grande influência na corte. Daniel, Ester e Mordecai ocuparam lugares de suprema importância e de influência política durante os períodos babilônicos.

6. Cenário Religioso
·         Internacionalmente, um novo clima religioso foi introduzido pelos persas. Os decretos de Ciro e Dario surgiram parcialmente inspirados por sua fé religiosa. Esta não passava de uma mistura da visão tradicional de um panteão de deuses, e do zoroastrismo desenvolvido recentemente, com suas duas hierarquias do bem e do mal. Como resultado dessa visão, eles fizeram o povo voltar à sua terra natal a fim de aplacar os deuses locais e promover a paz no império.
·         Para muitos em Israel, o exílio na Babilônia produziu uma grande revolução espiritual. Embora houvesse uma deserção quase total na época do cativeiro, conforme registro de Jeremias e Ezequiel, o grupo que retornou à pátria em 537 era composto, em sua maioria, de piedosos judeus ansiosos por retornar à terra da aliança. O estudo da Tora e dos profetas, Isaías, Jeremias, Ezequiel e Daniel, feito nas sinagogas, exerceu sem dúvida uma grande influência na inspiração dessa fé religiosa.

7. Objetivos dos livros
·         Objetivo unificado – Historicamente, foram escritos para completar a história de Israel, registrada em Crônicas desde o começo até o cativeiro de 586. A história da volta de Israel do exílio era necessária para demonstrar ao povo que a aliança estava sendo mantida pelo Senhor ao cumprir-se a promessa da volta.
·         Objetivo de Esdras – O objetivo específico do livro de Esdras era documentar a volta do povo que vinha reconstruir o templo na ocasião certa em que o Senhor, por intermédio de Jeremias, havia dito que aconteceria (Jr 29.10 e Esdras 1.1).
·         Objetivo de Neemias – Documentar a reconstrução do muro de Jerusalém, incluindo a data exata do decreto do rei: “no mês de nisã, no ano vigéssimo do rei Artaxerxes”.

8. Contribuições singulares
·         O Livro de Esdras e Neemais narram a volta do cativeiro. Descrevem como a profecia de Jeremias foi cumprida.
·         Confirmam as palavras proféticas de Jeremias e a fidelidade de Deus para com seu povo.
·         Ensina que Deus pode usar uma pessoa leiga (Neemias), mas interessada em Deus e em Sua vontade.


O LIVRO DE ESTER
1. Título
·         O título é devido à figura central do livro. “Ester” (“estrela”) era o seu nome persa, e “Hadassah” (“murta”) era o seu nome judeu.
·         Este é um dos dois livros do Antigo Testamento que levam o nome de uma mulher:
o   Rute, gentia, que se casou com um rico judeu de linhagem real da promessa, Boaz.
o   Ester, judia que se casou com um rico gentio da realeza, Assuero.

2. Autor
·         Desde os tempo antigos, Mordecai tem sido considerado o autor provável; entretanto, Esdras e Neemias também têm sido sugeridos como possíveis autores. O último capítulo parece desqualificar Mordecai, embora pudesse ter sido escrito por um redator, como Esdras.
·         Embora o autor seja desconhecido, é evidente que ele, ou ela, conhecia bem os costumes e a corte da Pérsia e tinha talento dramático. O Talmude atribui a autoria de “Ester” à “Grande Sinagoga”. Cujo provável presidente, Esdras, poderia ter colaborado no livro.

3. Data
·         460 a.C. aproximadamente.
·         Deve ter sido escrito logo após a morte de Assuero (Xerxes), 465, quando os seus relatórios foram completados no livro da história dos reis (Ester 10.2).
·         Foi escrito para encorajar os judeus dispersos no império e àqueles que regressariam em 457 e 444 a.C.
·         Período destes acontecimentos – 483-473 a.C. Os acontecimentos deste livro se encaixam cronologicamente entre os capítulos 6 e 7 de Esdras.

4. Cenário Político
·         Governador Persa – Sob o reinado de Assuero, o império persa chegou ao auge do poder. Esse rei foi o governador persa que promoveu a expedição gigantesca contra a Grécia em 480, tentando realizar o que seu pai Dario não conseguiu em 490, isto é, conquistar e anexar a península grega ao império persa.
·         Capitais – Susã era uma das três capitais mantidas pela Pérsia. As outras eram Babilônia, na Mesopotâmia, e Persépolis, na parte sudeste da Pérsia.
·         Judeus do império – Embora um grande contingente de judeus tivesse regressado à Palestina mais ou menos sessenta anos antes, com Sesbazar (e Zorobabel), muitos ainda estavam dispersos por todo o império. Sob o domínio persa, receberam bom tratamento, aprenderam aramaico e economia, e sofreram poucas restrições. O anti-semitismo observado em Ester não foi persa, mas agagita.
·         Mudanças ocorridas no império persa – Várias mudanças ocorreram entre os persas, durante a transição do governo babilônico para o persa:
o   Houve uma atitude mais compassiva para com os povos conquistados. É interessante notar que nessa época foi iniciado entre os persas um período de paz relativa que durou aproximadamente 20 anos.
o   O império tornou-se muito maior, estendendo-se desde a Índia até a Europa.
o   Um ariano (caucásio) passou a governar o mundo. Foi o primeiro império desse tipo, pois os persas eram de estirpe européia.
o   Os persas escolheram o aramaico como idioma oficial para o comércio e a política, pois já tinha se tornado a língua franca.
o   Antigas fronteiras foram modificadas e houve nova divisão de satrapias ou províncias a fim de dissolver velhas alianças e permitir um governo local, embora sob supervisão persa.

5. Cenário Religioso
·         Religião de Israel – Quanto à situação de Israel no período pós-exílio, basta ler a Introdução dos livros de Esdras e de Neemias. Foi uma época de pequeno progresso espiritual, de forte tendência de amálgama com a cultura circundante e de indiferença generalizada, embora estivessem curados da idolatria dos deuses de pedra e madeira.
·         Religião dos judeus dispersos – Zoroastrismo era a religião incentivada pelos governadores persas, nome derivado de Zoroastro (“treinador de camelos”) que a introduziu e à qual parece ter convertido Histaspes, pai de Dario I. Era um religião aparentemente dualista, tolerante para com os deuses “beneficentes e verdadeiros”, mas não para com os “maldosos e falsos”. Como os judeus do império eram considerados adoradores de bons espíritos, foram não apenas tolerados como auxiliados e subsidiados na reconstrução da sua instituição religiosa.

6. Objetivo do Livro
·         O objetivo histórico deste livro foi evidentemente encorajar os judeus dispersos por todo o império com a história do contínuo interesse e presença do Senhor, mesmo que ele não fosse visto e os judeus estivessem longe do templo de Deus em Jerusalém. Apesar de o nome do Senhor não ser mencionado, sua divina direção faz-se presente em todo o livro.
·         O objetivo religioso era dar uma explicação autêntica da origem da festa judaica do Purim, uma festa especialmente cara aos judeus da dispersão.

Obs.: O anti-semitismo contra os judeus pode variar da antipatia até o ódio violento. Apesar de o termo ter sido usado pela primeira vez em 1879 o fenômeno do anti-semitismo foi expresso pela primeira vez no Livro de Ester. O anti-semitismo difere do antijudaísmo por ser um preconceito irracional contra a raça, não apenas contra o que o povo faz ou pensa. O anti-semitismo condena o judeu por ser judeu e não pelo que faz ou pensa.


Bibliografia


ELLISEN, Stanley A. Conheça Melhor O Antigo Testamento. São Paulo: Editora Vida, 1993.
BAXTER, J. Sidlow. Examinai As Escrituras. São Paulo: Soc. Religiosa Ed. Vida Nova, 1992 Vol. 1.
LILLEY, J. P. U. Josué / DOUGLAS, J. D. O Novo Dicionário Da Bíblia. São Paulo: Ed. Vida Nova, 1991 Vol. 2.
CUNDALL, Arthur E. / MORRIS, Leon. Juízes e Rute introdução e comentário. São Paulo: Socied. Religiosa Edições Vida Nova e Assoc. Religiosa Editora Mundo Cristão, 1992.
CRABTREE, A. R. Teologia do Velho Testamento. Rio de Janeiro: JUERP, 1991.


[1] PALESTINA – quer dizer "A terra dos filisteus", mais tarde passou a ser conhecida como "A terra de Canaã" ou "A terra de Israel".
[2] CANAÃ – hebraico "Baixo" ou "plano", literalmente significa "habitantes da terra baixa".
[3] RIO JORDÃO – Significa "o que desce" talvez baseado no curso que desce dos cismos (fendas) do Hermon, ao ponto mais baixo da terra que é o vale do mar Morto. É um rio pequeno de cujo percurso todo em linha reta mede 200 Km, forma o curso com as três nascentes que vem das geleiras constantes de Hermon. As águas derretidas das geleiras do monte Hermon formam a nascente do Jordão.
O rio Jordão alimenta o desaparecido lago de Hula, o bíblico Meron, entra na Galiléia e desaparece no mar Morto. O lago de Meron ou Hula foi reduzido a uns pequenos açudes para criação de peixes.
[4] MONTE HERMON – É o pico mais elevado do anti-Líbano (corre paralelo ao Líbano de nordeste para sudoeste avança para o sul), era chamado também de Monte Siom (Dt 4:48). Possui 2.800 mts. de altura e está sempre coberto de neve. Desde muito cedo os cananeus usaram-no para testar seus deuses e praticarem as mais grossas abominações. O monte é muito fértil, diversas maças, pêra, uva, trigo, além de verduras e legumes colhem-se com abundância nas lombadas mais baixas do Hermon.
            Cesaréia de Filipe ficava aproximadamente 7 Km da então cidade de Dã (Mt 16:13). Daí subiu a um monte onde houve a transfiguração. A tradição aponta o monte Tabor como o monte da transfiguração, mas há quem acredita que a transfiguração tenha acontecido no monte Hermon.
[5] MAR MORTO – Existe na Bíblia três nomes distintos para o Mar Morto, Mar de Arabá (Dt 3:17), Mar Oriental (Ez 47:18), Mar de Sal, Mar Salgado ou Lago Salgado (Dt 3:17; Js 3:16) e Mar das Planícies (2 Rs 14:25). O mar Morto assemelha-se a um longo triângulo. Seu comprimento é de 78 Km por 18 Km de largura, a profundidade oscila entre 400m a 10m. Suas águas são densas e pesadas. As águas do oceano possuem 4% de sal, as do mar Morto possuem 26%. Além de cloreto de sódio, no mar encontra-se: cloreto de magnésio, cálcio, potássio e brometo de magnésio, e em quantidades menores metais como: ferro, nitrogênio, alumínio, manganês, amônio, etc. As águas são tão densas que nenhuma pessoa afunda nelas. Não existe nenhuma espécie de vida nessas águas, vegetais também não se encontram em suas margens. O mar morto devido a sua posição geográfica não tem saída para suas águas. As águas se evaporam numa quantidade gigantesca. Em 1 litro de água se retira 80 grs. de sal. A superfície da água está numa média de 385 metros abaixo do nível do mar.
[6] MAR MEDITERRÂNEO – A bíblia chama de Mar Grande (Js 1:4), Mar Ocidental (Dt 11:24), Mar dos Filisteus (Êx 23:31), Mar de Jafá (Es 3:7). O termo mais usado para designar o mediterrâneo é o mar. Torna-se importante na história bíblica, devido o seu significado dentro do quadro profético Dn 7:2, e também relacionado à obra de missões de Jonas e Paulo. Banha a Europa meridional, A Ásia ocidental e a África setentrional. É o maior dos mares internos, sua extensão é 4.500 Km e superfície de 3 milhões de quilômetros quadrado.
[7] AGUILHADA – Instrumento longo e com ponta aguda, usada para espicaçar (picar) os bois quando puxavam o arado.
[8] DEBORA – no hebraico significa "abelha".
[9] LAPIDOTE – significa "tochas".
[10] BARAQUE – significa "relâmpago".
[11] MIDIANITAS – Povo de Midiã. Midiã estava localizada ao sul de Edom, na extremidade norte do golfo de Aqaba. Sendo um grupo seminômade, tiveram como aliados em suas invasões de Israel aos amalequitas, que ocupavam a área ao sul de Judá. Nesses saques foi empregada uma "arma secreta": O Camelo.
[12] G. Henton-Davies, "Judges viii. 22-23" em VT, XIII. 2, 1963, pp. 151-157.
[13] ÉFODE OU ESTOLA SACERDOTAL - A própria preciosidade da peça tornou-se uma armadilha, porque se tornou um objeto de adoração para um povo que já estava a um passo do politeísmo e ofuscou uma das características da fé de Israel, que era a total proibição de imagens. Poder-se-ia presumir que Gideão não tinha qualquer intenção de afastar-se do Senhor, da mesma forma como Arão e Jeroboão não pretendiam apostatar, ao criar as imagens do bezerro (Ex 32:4; 1 Rs 12:28). Mas, a expressão todo o Israel se prostituiu ali após dela sugere que a forma de adoração inspirada por esta estola tinha origem Cananéia.
[14] ELLISEN, Stanley A. Conheça Melhor O Antigo Testamento. São Paulo: Editora Vida, 1993 – pág. 82.
[15] CUNDALL, Arthur E. / MORRIS, Leon. Juízes e Rute introdução e comentário. São Paulo: Socied. Religiosa Edições Vida Nova e Assoc. Religiosa Editora Mundo Cristão, 1992 – pág.141.
[16] VAUS – Sítio de um curso de água, onde se pode passar sem nadar. O Jordão tinha uma largura de 30 metros e profundidade de 2 a 4 metros. Não havia pontes e os poucos lugares que davam passagem eram importantes.
[17] LEÍ – Ë nome próprio.
[18] ELLISEN, Stanley A. Conheça Melhor O Antigo Testamento. São Paulo: Editora Vida, 1993 - pág. 82 e 83.

[19] RUTE – Pode também ser encontrado com o significado "rosa", "companhia feminina" ou "graciosa".
[20] NOEMI – Pode também ser encontrado com o significado de "agradável".
[21] MALOM – Pode também ser encontrado com o significado de "doença", "delicado" ou "franzino".
[22] QUILIOM – Pode também ser encontrado com o significado de "definhamento" ou "fraco".
[23] 130 anos – segundo o Livro "Conheça Melhor o Antigo Testamento" de Stanley A. Ellisen – pp. 90, 91.
[24] J. Sidlow Baxter em seu livro Examinai as Escrituras" diz que o Primeiro livro de Samuel cobre um período de aproximadamente 150 anos (p. 49); e o Segundo Livro de Samuel cobre um período de 40 anos, que são os quarenta anos de duração do reinado de Davi (p. 69).

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